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Pedro Bueno: “A revolução na saúde é a conexão na cadeia de cuidados”

É nisso que acredita o CEO da Dasa, maior rede privada de assistência à saúde do país. Confira a entrevista exclusiva

Por Diogo Sponchiato
Atualizado em 10 jan 2023, 15h09 - Publicado em 10 jan 2023, 15h09
o futuro da saúde
Aliar a tecnologia ao cuidado humano é uma das bases da revolução na saúde, segundo CEO da Dasa.  (Ilustração: Andriy Onufriyenko/GI/Getty Images)
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Mais de 20 milhões de pessoas atendidas por ano, 250 mil médicos parceiros, 1 007 unidades distribuídas por 14 estados e o Distrito Federal, 5,5 milhões de pacientes cadastrados em sua plataforma digital, 50 mil funcionários. Números desse quilate fazem da Dasa a maior rede privada de serviços à saúde do Brasil.

Um grupo que se notabilizou no setor de exames hoje avança no segmento de teleconsultas e hospitais, pisando forte no desenvolvimento de soluções tecnológicas para melhorar a experiência de quem é assistido e a eficiência dos desfechos para o paciente e o sistema.

E é sobre o presente e o futuro da medicina que Pedro de Godoy Bueno, o líder dessa operação que presta serviço a quase 50% dos usuários de convênios no país, conversou com VEJA SAÚDE. Confira a entrevista exclusiva, concedida no novo escritório da Dasa em São Paulo.

foto de Pedro Bueno, economista e CEO da Dasa.
Pedro Bueno, economista e CEO da Dasa. (Foto: Ale Santos e Diego Nata/Divulgação)

VEJA SAÚDE: O que representa ser a maior rede privada de cuidados com a saúde no Brasil?

Pedro Bueno: Fechamos nosso quinto ano de transformação, desde que começamos a pivotar a companhia em 2017. Na época, éramos apenas uma empresa de medicina diagnóstica. Cinco anos depois, nos tornamos a maior rede integrada de saúde no setor privado, atendendo mais de 20 milhões de usuários, o que representa quase metade de todas as pessoas que têm plano de saúde no Brasil.

É impressionante: a gente interage todos os anos com mais da metade de todos os médicos do país. Entramos no segmento de hospitais e temos hoje 15 pelo Brasil.

Agora estamos investindo em áreas como oncologia. Na realidade, estamos criando elos na cadeia de saúde e trabalhando para conectá-los. Avançamos muito, até mais do que havíamos planejado, o que também nos faz sentir o peso de uma grande responsabilidade.

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Por quê?

Porque, como a gente tinha previsto lá atrás, o setor de saúde é insustentável, com uma tendência de aumento de custos brutal devido à demanda por exames, cirurgias… E isso acontece porque a assistência à saúde é toda fragmentada.

Ela se baseia em cuidados episódicos. Você vai ao médico se tem sintomas e depois ele não o acompanha mais. Percebemos que, como setor, a gente é muito bom em tratar doença, mas não é tão bom em manter as pessoas saudáveis.

Por isso tenho esse sentimento de a gente estar no lugar certo na hora certa, com a consciência de que a saúde integrada na teoria está começando a se tornar realidade.

A inovação tecnológica é a chave desse processo de mudanças?

Novas máquinas e soluções tecnológicas, sejam lá o que forem, são parte da inovação. Mas acho que a revolução mais radical que deve acontecer na saúde é a conexão dos elos na cadeia de cuidados.

Veja a Amazon, por exemplo. Quando você olha o que eles fizeram, vê que até inventaram um aparelho para leitura digital, mas a grande revolução foi colocar o cliente no centro e desenvolver soluções incríveis para resolver dores que ninguém mais conseguia resolver.

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O que seria conectar essas pontas com o paciente no centro?

É trabalhar de uma forma sistêmica, em que você conhece os dados do paciente que acompanha ao longo do tempo e, com o apoio da tecnologia, extrai informações que se tornam ações. Isso é fundamental: não basta extrair o dado e nada acontecer.

Essa é a primeira etapa, e um desafio que pode ser encarado com a inteligência artificial, com cientistas de dados e médicos criando algoritmos capazes de extrair dos dados informações que ajudem a tomar decisões. Na Dasa, temos hoje o maior centro de inteligência artificial em saúde na América Latina.

E aí vem a próxima etapa, onde está a beleza do negócio: se eu sei que o paciente X tem pré-diabetes e apresenta uma probabilidade de migrar para o grupo do diabetes nos próximos seis meses, como uso essa informação e engajo tanto o médico como o paciente a se cuidar? Porque muitas vezes o paciente não se cuida porque a experiência no setor de saúde é ruim. Você tem que querer muito se cuidar.

E é geralmente por causa disso que as pessoas só procuram ajuda quando estão com sintomas mais avançados. Nossa proposta é aliar a tecnologia ao cuidado humano para proporcionar a melhor experiência, conectando os ambientes on e offline, com a nossa plataforma digital e as unidades físicas. Nós estamos tentando endereçar as grandes dores do sistema em vez de só nos preocupar com mais cirurgias e exames.

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Como isso se traduz num cuidado mais preditivo e preventivo?

Sabemos hoje, por exemplo, quem são as pacientes que não fizeram mamografia de rotina nos últimos anos e podemos engajá-las, junto a seus médicos, a realizar o rastreamento preventivo. O objetivo é que o paciente tenha o cuidado certo na hora certa.

Os médicos são profissionais com uma vocação impressionante, mas como podem fazer a melhor medicina sem ter os dados e as ferramentas tecnológicas à mão e tendo de preencher um monte de papeladas e burocracias? O que a gente pode fazer com a tecnologia é ajudar o médico a fazer uma gestão mais inteligente do consultório.

Podemos trabalhar tanto com ele como com o paciente no intuito de promover conexões com mais assertividade. E nossa plataforma digital, o Nav, que já é uma das maiores do mundo, nos fornece a massa crítica e os meios de fazer isso.

É assim que descobrimos os gaps de rastreio e encurtamos o caminho para o diagnóstico e o tratamento. Na nossa rede, uma pessoa com resultado positivo para um câncer leva 15 dias entre a primeira consulta e o início do tratamento. Lá fora são 90. Essa conexão faz muita diferença para o paciente, inclusive pensando em chances de cura.

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E há algum programa voltado a pacientes com doenças crônicas?

A gente começou a olhar para os idosos com doenças crônicas. E desenvolveu uma forma de coordenar a assistência a essa população de alto risco. Hoje temos um serviço com 250 mil vidas que capta essas pessoas digitalmente ou por telefone, estratifica seu risco e, uma vez que elas aderem ao plano de cuidado, têm acesso a uma linha telefônica 24 horas e a um monitoramento mais constante por um grupo de enfermagem.

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Os números desse projeto são incríveis: a internação em pronto-socorro caiu entre 20 e 30% e, quando interna, o paciente tende a ficar menos tempo no hospital e corre menor risco de reinternação.

E isso é meio contraintuitivo, se lembrarmos que somos uma empresa de diagnósticos e hospitais. Afinal, esses pacientes estão internando menos e ficando menos tempo no hospital. É assim que nos diferenciamos. Não estamos interessados em ganhar dinheiro internando mais, mas em entregar o melhor valor possível para o usuário, o médico e a operadora. É uma visão de longo prazo.

Vocês já são reconhecidos no setor de diagnósticos. Como pretendem alcançar o mesmo no hospitalar?

A gente quer se diferenciar buscando os melhores desfechos. A maioria dos hospitais brasileiros preza qualidade e segurança dos pacientes. Mas poucos são aqueles que realmente olham para o desfecho.

Qualidade e segurança se referem a diminuir riscos para um paciente que entrou no hospital, para que ele não sofra um acidente ou uma infecção lá dentro.

Agora imagine que uma pessoa passou por uma cirurgia com sucesso, mas daqui a seis meses o problema voltou ou há algum desconforto. Isso é desfecho: saber se foi resolvido o problema final. E é difícil mensurá-lo, porque, geralmente, depois que o paciente sai, ele não é mais um problema do hospital.

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Como nosso modelo transcende as paredes do hospital, estamos trabalhando com diversos indicadores que ajudam a avaliar e buscar o melhor desfecho. E isso também envolve a conexão entre o hospital e a rede ambulatorial, a coordenação do cuidado, a atenção domiciliar… Para que a jornada toda seja mais fluida, com os melhores resultados e a máxima eficiência.

Isso leva um tempo para amadurecer. E ainda há um caminho a percorrer em termos de crescimento no número de hospitais, ainda que a gente já seja a segunda rede independente no segmento.

O atendimento médico a distância deve ganhar mais espaço que o presencial daqui pra frente?

Acho que teremos uma combinação dos dois, como acontece no ambiente de trabalho. Houve muita empresa que, com a pandemia, pensou em ficar 100% home office e já está voltando atrás. Provavelmente o modelo que veio para ficar é o híbrido, que é o que mais faz sentido.

Imagine que você está gripado e com dor de cabeça. Faz muito mais sentido realizar uma consulta via telemedicina do que bater no pronto-socorro e ficar horas esperando ser atendido, até correndo o risco de pegar outras doenças. Então por que não fazer uma teleconsulta e, se for identificado algo urgente, aí sim ser direcionado ao pronto-socorro?

Agora, será que dar um diagnóstico de câncer por telemedicina é a melhor maneira de fazer isso? Não seria melhor estar lá pessoalmente para ter o toque e o carinho necessários a esse momento?

Ou pense em alguém com uma dor no joelho. O médico precisa apalpar e examinar o paciente. Então acredito que o modelo misto tende a ser muito melhor e mais eficiente do que o cuidado só analógico ou só digital.

Num país em que sete em cada dez cidadãos dependem do SUS, como avalia a conexão entre o setor privado e o público?

Durante a pandemia olhamos bastante para isso, porque ficamos muito preocupados com a capacidade do país em realizar a quantidade de testes necessária para um combate efetivo à doença, e naturalmente o setor privado consegue se mobilizar mais rápido que o público.

A gente criou um dos maiores centros de processamento de exames de Covid-19 do mundo em São Paulo. E montou e operou esse centro de graça para o governo durante meses. Depois deixamos a estrutura de presente para que o governo pudesse processar outros tipos de exame.

Outra iniciativa de cooperação com o setor público foi o Genov. Como tínhamos captação de amostras de Covid-19 de todo o Brasil, começamos a sequenciar o genoma dos vírus para identificar novas cepas e a disponibilizar as informações ao setor público. Fomos muito atuantes na pandemia.

Agora estamos focados em mudar o setor privado, mas a conexão com o sistema público é algo que faz todo sentido e precisa ser vista em algum momento. Hoje, por exemplo, você tem que fazer toda sua jornada como paciente dentro de um setor. Se faz um exame no privado, não consegue usá-lo no público. Então existem oportunidades de trabalharmos juntos, desenvolvendo até uma jornada mista de cuidados.

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No que vocês investem no campo de pesquisa e desenvolvimento? 

São duas frentes principais. Uma é a do nosso centro de inteligência artificial, onde a gente busca desenvolver exames mais eficientes e assertivos e, por meio da extração de dados e da apuração de correlações entre eles, inferir quem tem maior probabilidade de internar, o que permitiria distinguir que paciente precisa de um cuidado mais intenso antes de ocorrer um problema grave.

Temos hoje mais de 70 cientistas de dados e um time de médicos buscando resolver problemas reais. Com a base de dados e a escala que nós temos, não ficamos só nas questões teóricas, conseguimos criar coisas reais que melhoram a vida das pessoas. Em geral, empresas de inteligência artificial na área da saúde procuram outras companhias para convencê-las a comprar seus softwares. Aqui a gente cria essas soluções e as implementa.

A outra frente é a da pesquisa clínica propriamente dita. Com a nossa base de usuários, é possível realizar diversos estudos com largas populações e saber, por exemplo, o que acontece com um grupo em uso de determinado remédio.

E na área da genômica? O que andam fazendo?

Essa é uma área que cresceu muito, e a gente se tornou a maior empresa de genômica da América Latina. Com a bioinformática, um time de feras, os melhores equipamentos e parcerias nacionais e internacionais, podemos fazer a diferença no diagnóstico de doenças, mas também apontar com mais segurança o melhor tratamento de acordo com o tipo de câncer. Então já existe uma aplicação prática desse conhecimento.

E, à medida que progredirmos no entendimento do nosso genoma, poderemos ser muito mais criativos e identificar a relação entre o perfil genômico e diferentes doenças, comparando inclusive essas informações com os dados clínicos de populações acompanhadas durante anos.

É exatamente o que está sendo feito em um projeto apoiado pela Dasa, o DNA do Brasil, em que vamos sequenciar o genoma de 15 mil pessoas e comparar os resultados com uma base de dados genéticos da USP. Com esses avanços, vamos juntando cada vez mais uma medicina personalizada com a saúde populacional.

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