Considerado um desafio pela comunidade médica, o câncer de pulmão possui alta incidência e figura no topo dos índices de mortalidade, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil, ele é o terceiro em localização primária entre os homens e o quarto entre as mulheres. Os dados são do Instituto Nacional de Câncer (INCA). “Trata-se de um tipo agressivo por natureza e que se espalha rapidamente. Além disso, por estar relacionado à necessidade de rastreamento de um órgão interno, ainda não possui um programa tão efetivo para a detecção precoce”, afirma Marcelo Cruz, oncologista do Hospital Sírio-Libanês.
Entender que o câncer de pulmão não é uma doença única, mas que se manifesta de maneira diversa em cada paciente, foi fundamental para fazer evoluir as boas práticas em relação à doença. De maneira geral, os dois principais são o câncer de células pequenas e o câncer de pulmão de não pequenas células (CPNPC), que é o mais comum. Essa divisão é feita de acordo com o tipo de células presentes no tumor, ajudando também a direcionar o tratamento.
“Até o início dos anos 2000, uma vez realizado o diagnóstico de CPNPC, o pacote de tratamento englobava, basicamente, sessões de quimioterapia. Entretanto, com a evolução da biologia e da genômica, descobriu- se que essa subdivisão precisava de um refinamento por conta da descoberta de mutações que podem ser alvos terapêuticos”, explica o especialista. É como se cada tumor apresentasse defeitos específicos em sua célula, tornando-o mais ou menos agressivo.
Geralmente, essas alterações são representadas por siglas. Mutações em KRAS, EGFR, PI3K e BRAF, amplificação em MET e rearranjo de ROS1 são algumas das mutações de maior incidência. O rearranjo do gene ALK, por exemplo, representa cerca de 5% dos cânceres de pulmão de não pequenas células. Ao produzir uma proteína anormal, o tumor é capaz de crescer e se disseminar. Curiosamente, é mais comum entre jovens adultos, não fumantes. A estimativa de pessoas com câncer de pulmão de não pequenas células ALK+ no mundo é de 40 mil novos casos ao ano.
“Todos esses avanços de diagnóstico e tratamento mudaram muito a história do câncer de pulmão nos últimos anos. Hoje vemos pacientes ativos convivendo com a doença, tomando apenas um comprimido por dia e com qualidade de vida”, comemora o médico.
FIQUE DE OLHO!
O câncer de pulmão é considerado uma doença silenciosa, com diagnóstico geralmente tardio. Por isso, fique atento aos sintomas: tosse seca, escarro com sangue, emagrecimento sem razão definida e falta de ar são sinais de alerta. Ao perceber alguns desses sintomas, procure um pneumologista ou oncologista. “O câncer de pulmão não pode esperar. Informe-se para entender seu quadro clínico. As novidades são constantes e existem muitas coisas boas disponíveis para o paciente receber o melhor tratamento”, finaliza Marcelo Cruz.