Mazdutida: o que esperar do “Mounjaro” chinês para emagrecer
Medicamento de aplicação semanal imita dois hormônios do corpo e teve resultados considerados significativos na perda de peso

Na nova safra de medicamentos para obesidade, um representante da China não podia faltar. E ele existe. É a mazdutida, desenvolvida pelo laboratório Innovent Biologics, sediado em Suzhou, a 110 km de Xangai.
Ela acaba de passar pelo seu primeiro teste de fôlego: um estudo clínico para avaliar sua eficácia com 610 chineses acima do peso e publicado no respeitado periódico médico The New England Journal of Medicine.
O que é a mazdutida?
A mazdutida é um “parente” de remédios como a semaglutida (Ozempic e Wegovy) e a tirzepatida (Mounjaro). Diríamos que está mais próxima do Mounjaro por também ter um duplo mecanismo de ação, ainda que diferente do remédio recém-chegado ao país e produzido pela farmacêutica americana Eli Lilly.
Vejamos as diferenças: a semaglutida imita um único hormônio que atua no controle glicêmico e na saciedade, o GLP-1. A tirzepatida mimetiza dois deles, o GLP-1 e o GIP. A versão chinesa, por sua vez, também emula o GLP-1, só que agrega outra substância que faz as vezes do glucagon, um hormônio liberado pelo pâncreas que tem a função oposta à da insulina.
Sozinha, essa molécula induz a liberação de glicose nos estoques do corpo, no fígado e no músculo. Mas, acoplada a um fármaco que também atua na vida do GLP-1, ela ajuda a reduzir o apetite, retardar a digestão e queimar depósitos de gordura. Daí sua repercussão no peso.
O que a nova medicação faz é imitar tanto esse glucagon como o GLP-1, hormônio intestinal que avisa o cérebro de que o organismo está satisfeito por enquanto.
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Qual a eficácia demonstrada nos estudos?
A mazdutida é uma caneta de aplicação semanal a exemplo de semaglutida e tirzepatida. No estudo de fase 3 — a última antes de uma droga poder ser aprovada para uso comercial —, foi testada entre chineses de 18 a 75 anos com índice de massa corporal (IMC) de 31, em média. O critério de seleção foi ter IMC a partir de 28 ou de 24 em diante se houvesse comorbidades (diabetes, pressão alta…).
Agora uma explicação se faz necessária: por características étnicas e genéticas, entre os chineses o limite de IMC para o diagnóstico de sobrepeso é 24 e para obesidade é 28. Entre os ocidentais, os números são respectivamente 25 e 30.
Os 610 voluntários, com peso médio de 87,2 kg, foram divididos em dois grupos, o primeiro utilizando a medicação semanal de verdade, o segundo tomando injeções sem princípio ativo (o placebo) ao longo de 48 semanas.
Ao fim do monitoramento, o remédio conseguiu atingir, em média, reduções de entre 10 e 15% do peso. “Foram resultados clinicamente significativos para a massa corporal”, escreveram os autores do experimento na conclusão do trabalho recém-publicado. No contexto chinês, é algo considerado bem-sucedido, ainda mais levando em conta que é uma população com mais dificuldade de perder peso.
Para se ter ideia, um estudo com o Mounjaro entre chineses chegou a uma perda média de peso de 17,5%, enquanto entre ocidentais esse índice chega a superar 20%.
“Daí a perspectiva de que, uma vez testado entre pacientes de países como Brasil, EUA e Reino Unido, a mazdutida obtenha resultados ainda mais animadores”, comenta o endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri, pesquisador da USP de Ribeirão Preto.
Em matéria de efeitos colaterais, apareceram as já esperadas reações gastrointestinais como náusea. Mas o índice de descontinuação do tratamento em função disso foi baixo, de até 1,5% dos pacientes.
Trata-se, assim, de mais uma molécula com boas perspectivas de encorpar o arsenal terapêutico da obesidade.
Não custa lembrar: a mazdutida é um remédio experimental ainda não aprovado para uso em qualquer lugar do mundo. Se aparecerem versões manipuladas ou importadas por aí, desconfie e nem se atreva a utilizar (pelo seu próprio bem).