Por que o remédio para pressão pode deixar de funcionar?
Entenda o que está por trás da redução do efeito dos medicamentos no controle da hipertensão

Popularmente chamada de pressão alta, a hipertensão é um dos mais frequentes problemas associados ao coração.
No Brasil, a encrenca afeta aproximadamente 28% da população, de acordo com uma ampla pesquisa nacional realizada por telefone, a Vigitel. A cada dia, 388 pessoas morrem em decorrência da doença, de acordo com estimativas do Ministério da Saúde.
Embora simples, a realização do diagnóstico permanece um desafio devido à característica silenciosa do agravo. A demora na identificação e a ausência de tratamento aumentam os riscos de complicações e de óbitos.
A hipertensão não tem cura, mas pode ser controlada. Os cuidados variam de uma pessoa para outra, podendo incluir o uso de remédios e mudanças no estilo de vida. Quando necessários, os fármacos são utilizados diariamente — alguns, mais de uma vez ao dia.
“Diversos fatores podem ser levados em conta no momento da escolha do melhor anti-hipertensivo para cada paciente. Destacam-se níveis da pressão, grupos étnicos, sexo, idade, gestação e presença de outras condições associadas, como doença coronária, insuficiência renal ou cardíaca”, pontua o médico cardiologista Marcelo Franken, do Hospital Israelita Albert Einstein.
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A utilização de medicamentos costuma gerar uma série de dúvidas, especialmente devido à ampla variedade de opções disponíveis.
Remédio para de funcionar?
Sendo a hipertensão uma doença crônica e progressiva, por vezes, é necessário fazer ajustes e trocas para a manutenção do controle da pressão arterial.
Contudo, isso não significa necessariamente que aquele fármaco tenha deixado de funcionar, mas sim que ele perdeu sua eficiência. Essa é uma situação comum no manejo do problema.”O medicamento não para de funcionar, mas é possível que seu efeito não seja mais satisfatório para determinado paciente”, explica Franken.
Nesse contexto, os cardiologistas dispõem de alternativas para driblar a falha, como a substituição ou associação com outros compostos.
Por isso, é necessário fazer um acompanhamento médico de rotina, que permite a verificação dos indicadores e a necessidade de ajustes no manejo da doença. “As consultas regulares permitem ainda a avaliação de possíveis lesões em órgãos alvo da hipertensão, como coração, rins, cérebro e olhos”, destaca Franken.
A verificação da adesão tratamento, com o uso correto das medicações, deve fazer parte da investigação clínica.
“Importante lembrar também das medidas não farmacológicas para controle da pressão arterial, como dieta com pouco sal, controle do peso, atividade física, boa qualidade de sono, incluindo tratamento da apneia do sono quando presente”, diz o cardiologista do Einstein.
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O que é a hipertensão resistente?
A hipertensão resistente é um problema distinto, definido como a manutenção de elevados níveis de pressão apesar do uso conjunto de três medicamentos anti-hipertensivos de diferentes classes, sendo um deles obrigatoriamente um diurético.
Também pode ser considerada resistente quando os índices estão controlados, mas com a necessidade do uso de quatro ou mais remédios.
“Antes de confirmar o diagnóstico, é essencial excluir causas como erro na medida da pressão, efeito do avental branco — valor elevado apenas no consultório, uso de substâncias que aumentam a pressão, como anti-inflamatórios, descongestionantes nasais, entre outros, e o inadequado uso das medicações e mudanças de estilo de vida pelo paciente”, resume o cardiologista Pablo Cartaxo, do Hospital Nove de Julho.
Pessoas com a condição apresentam maior risco de complicações associadas. Estudos mostram que esses pacientes têm maior probabilidade de desenvolver infarto, acidente vascular cerebral (AVC), insuficiência cardíaca, doença renal crônica e morte precoce.
“A hipertensão resistente, por refletir uma forma mais grave e persistente da doença, está associada a maiores taxas de lesões nos principais órgãos afetados, como coração, rins e cérebro”, detalha Cartaxo.
Estima-se que cerca de 1 a cada 10 indivíduos com hipertensão convivem com a forma resistente, que é mais comum entre pessoas com doenças renais, diabetes, obesidade, idade mais avançada e apneia obstrutiva do sono.
O cuidado envolve o uso de medicação e mudanças no estilo de vida. “O tratamento não medicamentoso inclui perda de peso, restrição de sal e do consumo de álcool e aumento da atividade física”, elenca o cardiologista Álvaro Avezum, líder do Centro Especializado em Cardiologia e Coordenador do Centro Internacional de Pesquisa do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.