Usar máscaras, lavar constantemente as mãos e manter o distanciamento social mesmo depois do fim da quarentena podem evitar novos picos de Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus. É o que revela um estudo feito pelo Instituto de Saúde Global de Barcelona, publicado no periódico Nature Human Behaviour.
Cabe lembrar que, no Brasil, a realidade é peculiar. Afinal, há um bom tempo os números diários de novos casos e mortes se mantêm em um patamar bastante elevado. Em resumo, ainda não vivenciamos uma queda expressiva. Para países nessa situação, o trabalho mostra que é necessário um lockdown de pelo menos 45 dias e um retorno gradual às atividades – direção totalmente oposta da que estamos seguindo.
Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores criaram modelos virtuais do fim do isolamento. A população foi dividida em sete grupos: suscetíveis, quarentenados, já expostos ao vírus, infectados não diagnosticados, infectados confirmados e isolados, recuperados e mortos. Na simulação, todos eram submetidos a diferentes estratégias pós-quarentena.
Nos modelos de desconfinamento gradativo testados (como ocorreu na Espanha, onde 50% da população voltou às ruas e, semanas depois, o restante foi sendo liberado aos poucos), o resultado foi um número menor tanto de infecções quanto de mortes, em comparação a uma volta ao normal rápida, sem critérios.
“Nosso modelo é diferente porque considera que pessoas confinadas voltarão a estar suscetíveis e também leva em conta seus comportamentos e percepção de risco”, explicou, em comunicado à imprensa, Xavier Rodó, pesquisador do instituto que liderou a investigação.
Transmissão pode cair pela metade com máscaras e distanciamento social
O grupo conseguiu calcular em números o impacto de medidas comportamentais no surgimento de uma segunda onda. “Se conseguirmos reduzir a taxa de transmissão em 30% com máscaras, lavagem de mãos e distanciamento social, poderemos diminuir a magnitude da próxima onda de casos. Agora, se a transmissão cair em 50%, esse novo pico sequer ocorreria”, comentou Rodó.
Para os autores, essas mudanças de hábitos podem, inclusive, compensar a falta de testes e rastreamento de contatos de casos confirmados em países que não têm recursos para isso. Só que, como eles alertam, há o risco de os comportamentos preventivos caírem em desuso depois que a epidemia abrandar. Daí a necessidade reforçá-los.
Outra questão abordada foi a duração da imunidade adquirida contra o vírus. Hoje, não se sabe exatamente por quanto tempo uma pessoa fica imune depois de contrair a doença. As expectativas mais realistas falam em poucos meses, mas, se a proteção durar um ano, por exemplo, o intervalo entre novos surtos pode dobrar.