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Estimulação elétrica atua na reabilitação de pacientes com sequelas de AVC

Técnica que já é usada no tratamento de transtornos mentais se mostra promissora para pacientes com sequelas neurológicas

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein
30 jan 2023, 17h34

O uso da estimulação elétrica transcraniana (TDCS) melhorou a reabilitação de pacientes que sofreram um acidente vascular cerebral (AVC) e ficaram com uma sequela chamada síndrome da negligência espacial unilateral, de acordo com um estudo realizado por pesquisadores da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB) da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

A síndrome da negligência unilateral é caracterizada pela desatenção e não percepção do que está ao lado esquerdo e atinge cerca de 30% dos pacientes que tiveram a lesão no hemisfério cerebral direito.

“O paciente com essa síndrome perde a percepção do lado esquerdo e não reconhece estímulos sensoriais. Ele faz a barba somente do lado direito da face, por exemplo. Só come o alimento que está no lado direito do prato. Isso tem implicações sérias na reabilitação e impacto direto nas atividades de vida diária”, explica Rodrigo Bazan, coordenador da Unidade de AVC do Hospital das Clínicas da FMB e um dos autores da pesquisa.

+ Leia também: Medicina reinventa o uso da eletricidade uma porção de problemas

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O AVC é a principal causa de morte no país e é extremamente incapacitante. Estima-se que sete em cada dez pessoas que sofrem o problema não conseguem retomar todas as atividades que exerciam anteriormente e, por isso, precisam passar por algum tratamento de reabilitação.

Segundo Bazan, a síndrome da negligência unilateral costuma regredir parcialmente nos primeiros três meses pós-AVC, mas ela pode se tornar permanente – por isso a importância do acompanhamento multiprofissional especializado. “Muitas vezes esse déficit passa desapercebido pela equipe de saúde, causando atraso na reabilitação”, afirmou.

Como foi o estudo

Além dos pesquisadores da Unesp, o artigo também teve participação de cientistas da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade de Toronto e da Faculdade de Fisioterapia da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Ele foi publicado na revista Annals of Neurology.

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O estudo analisou o uso da estimulação elétrica transcraniana por corrente direta (TDCS, na sigla em inglês) em pacientes que apresentavam a síndrome. A técnica já é bastante usada no tratamento de alguns transtornos mentais, como a depressão. Pesquisas anteriores já haviam sinalizado os benefícios na recuperação de pacientes com sequelas de AVC, mas ainda não existia um trabalho organizado metodologicamente.

Para chegar aos resultados, os pesquisadores acompanharam 45 pacientes que tiveram um AVC isquêmico (o tipo mais comum e menos grave) com lesão no lado direito do cérebro e que nunca tinham feito uso dessa técnica de reabilitação.

Os pacientes foram separados em três grupos de 15 pessoas: o primeiro não recebeu a terapia (grupo controle); o segundo recebeu a estimulação elétrica no hemisfério cerebral esquerdo (que não foi lesionado pelo AVC); já o terceiro recebeu a aplicação da técnica no hemisfério direito (o que foi efetivamente atingido pelo AVC). Ao todo, eles receberam duas sessões semanais de 20 minutos durante sete semanas e meia.

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Após a eletroestimulação, eles faziam exercícios de fisioterapia.

De acordo com Bazan, a aplicação da corrente elétrica na área lesionada utiliza eletrodos não invasivos e indolores e resulta na reorganização da rede de neurônios na região, o que favorece a recuperação da função e a plasticidade cerebral – quando um hemisfério cerebral apresenta problemas, o outro pode se modificar para assumir as funções da área lesionada.

Após os tratamentos, os participantes foram avaliados com base em várias escalas clínicas e questionários validados internacionalmente. Os pesquisadores concluíram que não houve grande diferença entre o grupo que não recebeu qualquer estimulação e o que recebeu estimulação no lobo não lesionado.

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Por outro lado, os voluntários que foram estimulados diretamente na área lesionada tiveram uma melhora cerca de 30% maior, na comparação com o grupo que não recebeu a estimulação – os pesquisadores perceberam uma redução do grau de negligência do paciente, ganhos na fisioterapia e uma melhora na parte motora – na marcha, para se alimentar e se vestir, por exemplo.

Para Bazan, os resultados são promissores e outros estudos devem ser feitos para confirmar os benefícios. Apesar de o trabalho ter avaliado os pacientes após sete semanas de intervenções, ainda não se sabe se esse seria o tempo mínimo ideal ou se o tratamento teria de ser prolongado.

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“Não existe ainda essa resposta na literatura, mas vamos fazer o seguimento dos pacientes para avaliar se há benefícios dessa terapia a longo prazo”, afirma.

Ainda segundo o neurologista, a terapia por meio da estimulação elétrica surge como uma técnica inovadora e acessível para os pacientes: “já estamos conversando com profissionais da rede de Reabilitação Lucy Montoro, que é referência no estado de São Paulo, para avaliar o uso da tDCS no atendimento desses pacientes”.

Esse texto foi publicado originalmente na Agência Einstein.

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