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Entrevista: a era dos robôs microscópicos

Ganhador do Prêmio Nobel em 2016, pesquisador escocês desenvolveu motores extremamente pequenos que poderão revolucionar a medicina do futuro

Por André Biernath
Atualizado em 26 jul 2019, 12h26 - Publicado em 20 jul 2019, 11h30
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  • Já imaginou um robô mais fino que um fio de cabelo? Pois essas traquitanas, conhecidas oficialmente como máquinas moleculares, são estudadas em vários cantos do planeta. Um dos pioneiros nessa área é o escocês Fraser Stoddart, de 76 anos, professor da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos. Em 2016, ele foi um dos três vencedores do Prêmio Nobel de Química por seus trabalhos que possibilitam pensar um futuro em que esses robôs microscópicos serão capazes de diagnosticar doenças e levar remédios até a origem do problema.

    Em abril, ele esteve no Brasil para uma série de palestras e reservou um tempinho na agenda para conversar com a Revista SAÚDE:

    SAÚDE: o que seriam as máquinas moleculares, essas ferramentas que poderão ser introduzidas no nosso corpo?

    Fraser Stoddart: são dispositivos criados sinteticamente numa escala nanométrica [um nanômetro equivale à milionésima parte de um milímetro]. Seus componentes têm a capacidade de realizar movimentos e rotações. É possível, então, pensar em motores funcionando num mundo microscópico.

    Quais seriam as aplicações na área da saúde?

    Podemos nos inspirar na ficção científica e naquelas histórias de pequenos submarinos viajando pela corrente sanguínea. Eu acredito que isso, um dia, se tornará realidade. Será possível criar máquinas com a capacidade de vigiar o organismo, de fazer diagnóstico de doenças logo em sua origem ou de levar um medicamento até o local exato onde ele vai agir. É óbvio que essas coisas ainda não estão disponíveis, mas veremos nas próximas décadas o advento de um novo domínio do conhecimento chamado de próteses moleculares.

    Quanto tempo isso vai demorar para chegar até nós?

    Ainda há muito trabalho a ser feito. Não é uma coisa para as próximas duas décadas. Mesmo assim, é preciso levar em conta quanto evoluímos nos últimos anos. Me lembro do primeiro transplante de coração, lá em 1967. Hoje em dia, a medicina consegue realizar operações do mesmo tipo com relativa facilidade.

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    Tudo vai depender da capacidade criativa e do trabalho das mentes jovens que vão guiar a ciência para o futuro. E o mais incrível é que, com o maior acesso às informações, a inovação pode acontecer em qualquer lugar. Quem sabe não começa aqui mesmo, no Brasil?

    Há alguma área que pode tirar proveito das máquinas moleculares antes da medicina?

    O primeiro uso provavelmente será na cosmética. Quase caí pra trás quando me falaram sobre isso! Mas trata-se de um ramo em que é possível agregar valor a novos produtos com um investimento mais baixo. Estamos falando de um mercado em que as pessoas gastam muito dinheiro todos os anos. Será possível pegar os ingredientes ativos das fórmulas e colocá-los em sistemas nanométricos que aumentem sua eficácia. Com a vantagem extra de minimizar efeitos colaterais.

    O senhor mencionou a ficção científica. Quanto os livros e a ciência real estão conectados?

    Há uma interação constante entre esses dois mundos. Não há dúvida de que um lado se inspira no outro. Tudo faz parte do gigantesco processo de criação da mente humana. Há sujeitos que são mais pensadores, enquanto outros preferem fazer e testar as coisas.

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