A partir dos 5 anos, a criança que faz xixi na cama demanda uma atenção especial. Afinal, depois dessa idade é esperado que seu sistema nervoso já esteja treinado o suficiente para conter a saída de urina. Mas isso nem sempre acontece, e os escapes de xixi acabam abalando a qualidade de vida dos pequenos. Trata-se da enurese noturna.
Para uma parcela dessa molecada, porém, o quadro é mais preocupante. Além de molhar a cama à noite, há dificuldade em controlar o xixi durante o dia. “Nesses casos, urinar durante o sono é uma consequência do problema diurno”, observa o urologista Flávio Trigo, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia – regional São Paulo.
Essa condição, denominada de enurese complicada, é uma condição médica que precisa ser tratada rapidamente e de forma adequada. Isso porque pode afetar pra valer o bem-estar das crianças. “Como elas não esvaziam a bexiga direito, há maior risco de complicações, como infecções do trato urinário e até lesão nos rins”, informa Trigo.
De olho nisso, o médico orientou um trabalho cujo objetivo era avaliar a eficácia de dois tratamentos na tal enurese complicada. O estudo, conduzido no Hospital Municipal Infantil Menino Jesus em parceria com o Sírio-Libanês, contou a participação de 100 crianças diagnosticadas com o distúrbio – elas tinham de 5 a 16 anos.
Um dos tratamentos testados foi o biofeedback. Ele consiste em colocar eletrodos no períneo do paciente e mostrar, na tela de um computador, a atividade da musculatura pélvica. O objetivo é ensinar como deve ser a contração e o relaxamento da musculatura.
O outro método foi a estimulação elétrica. De acordo com Trigo, ocorrem leves choques (que não doem) na região da coluna, o que culmina em um maior relaxamento da bexiga. Com isso, o órgão consegue acomodar mais urina – aí ela não escapa com tanta facilidade.
E o troféu vai para…
Bem, ambas as técnicas se mostraram eficientes para tratar a enurese complicada. Mas o biofeedback se destacou por um motivo. “As crianças precisaram de menos sessões para ver o resultado”, conta o médico.
Para ter ideia, quem recebeu esse tratamento precisou ir ao hospital por uns dois meses. Já a turma da estimulação elétrica demorou o dobro disso para ter alta. De qualquer maneira, nos dois grupos a taxa de cura foi superior a 70%, um desfecho comemorado pelo especialista.
E há outro motivo para Trigo e seus colegas celebrarem. O estudo obteve reconhecimento internacional e receberá um dos prêmios mais importantes mundialmente na área de incontinência urinária. A entrega ocorrerá em setembro, durante o Congresso da Sociedade Internacional de Continência, na Itália. Na ocasião, também haverá apresentação da pesquisa.