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Quando o bebê começa a falar? Especialista conta quando se preocupar

É preciso considerar todo o contexto de vida da criança para entender se há atrasos no desenvolvimento da linguagem. Em caso de suspeita, melhor investigar

Por Fabiana Schiavon
8 dez 2022, 16h05
criança com dificuldade de falar
Antes de falar, crianças interagem com o olhar, com gestos e até com o choro. (Foto: Joice Kelly/Unsplash/Divulgação)
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Já percebeu como crianças de mesma idade podem estar em momentos diferentes do ponto de vista de aquisição de linguagem? Pois o desenvolvimento da fala depende de diversos fatores, segundo Camila Guarnieri, especializada em fonoaudiologia pediátrica na Clínica Care Materno Infantil, em São Paulo.

Para estimular a comunicação, é importante dedicar tempo para brincar com o bebê e também criar conexões de olhar e gestos.

O contexto em que a criança vive é outro aspecto que interfere nessa habilidade. Uma prova é o isolamento imposto pela pandemia do coronavírus, que provocou atrasos motores e cognitivos em alguns pequenos.

Em entrevista à Veja SAÚDE, Camila explica como ocorre a evolução da fala e reforça a importância de buscar ajuda quando houver sinais de atraso. Independentemente do motivo por trás do problema, o tratamento é mais eficaz nos primeiros anos de vida. Confira:

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Veja SAÚDE: Quando os bebês começam a falar e como ocorre esse desenvolvimento ao longo dos primeiros anos de vida?

Camila Guarnieri: Uma série de processos ocorrem até que o bebê passe a falar do jeito que imaginamos, mas podemos citar alguns marcos importantes de desenvolvimento.

É essencial, em primeiro lugar, entender que a linguagem é uma questão social. A criança precisa ter vontade de se comunicar e de interagir. Antes da fala em si, essa troca começa no olhar e até naquela risada que ela dá em resposta a uma gracinha.

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Logo vem o balbucio. Ele se transforma, até mais ou menos 1 ano de idade, em sílabas repetidas, como “mamama” ou “papapa”. A criança desenvolve também a entonação. Mesmo um som sem sentido muitas vezes vem em tom de pergunta ou como reação de raiva. E tudo isso vai acontecendo meio junto.

Antes de chegar aos 2 anos, as crianças começam a ensaiar mais palavras que tenham conexão com a rotina, como “papai”, “mamãe” e o nome de uma comida ou um brinquedo.

A partir dos 2 anos, algumas palavras começam a vir juntas e surgem frases bem simples. Isso vai se aprimorando até que, perto dos 6 anos, o vocabulário fica mais robusto e mais próximo da fala de um adulto. As frases passam a ser mais corretas, com noção de plural, passado e futuro.

Cada criança tem seu ritmo ou dá para levar esses marcos à risca?

A genética de cada criança associada a uma gama de outros fatores definem o ritmo de aprendizagem. Por exemplo: se a família é mais ou menos falante e se é menor ou mais numerosa, se o pequeno frequenta a escola, além de outras realidades a serem avaliadas.

De qualquer forma, se o ritmo for mais lento, não dá para culpar uma coisa só, como se fazia com os pais antes. Até porque existem casos de crianças bem pouco estimuladas e que têm uma comunicação muito boa.

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+ Leia também: Atraso no desenvolvimento da fala: quando se preocupar

Quando buscar ajuda profissional?

É claro que não existe uma chavinha que faz a criança mudar de fase. Por exemplo: não é porque o pequeno completou 1 ano que ele vai destravar alguma habilidade de forma imediata. Porém, não se deve esperar grandes atrasos para procurar ajuda. Se houver dúvida sobre o andamento desse processo, melhor investigar.

Alguns aspectos chamam a atenção, como criança com dificuldade de interação, que responde pouco quando é solicitada ou que brinca de uma forma meio limitada, não variando os brinquedos e as atividades. Todos esses fatores acendem uma luz vermelha. Se o bebê não balbucia nem chora, são mais alertas.

De qualquer forma, é importante que os pais sempre atualizem o pediatra sobre a aquisição de fala. Esse profissional tem uma visão geral a respeito do tema, e indicará a necessidade de buscar um fonoaudiólogo.

Quanto antes isso acontecer, melhor, já que a criança tem uma melhor neuroplasticidade até os 3 anos. Trata-se da capacidade de aprender coisas novas.

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Como agir no dia a dia para estimular a fala?

A interação é muito importante e ela deve ser feita com qualidade. Ou seja, é melhor brincar por menos tempo, só que dando atenção plena à criança.

Mas não pode cair na armadilha de usar a brincadeira só para estimular. É que ficar perguntando coisas demais, como o nome de uma cor ou de determinado objeto, pode chatear a criança e tirar seu interesse natural.

Outro ponto é que se aprende pelo exemplo. Então, falar corretamente e usar momentos de interação são fatores importantes. Ao dar banho, vá falando sobre o passo a passo. O mesmo vale para a hora da alimentação. É uma forma de aprender novas palavras.

Dar tempo à criança é outra questão essencial. Por isso, espere para receber uma resposta. Uma dica é contar mentalmente cinco segundos depois de fazer uma pergunta a ela.

Como a pandemia influenciou na fala da criançada?

Ainda não sabemos a forma exata como o isolamento impactou nesse aspecto. Tem muita gente fazendo pesquisa para entender melhor esse fenômeno.

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Mas o movimento no consultório cresceu, o que também pode ter acontecido porque os pais passaram mais tempo perto dos filhos e, assim, conseguiram observar melhor esse processo.

O lado bom é que as crianças estão chegando mais cedo ao consultório.

+ Leia também: Estudo avalia aprendizado de bebês que ficaram isolados na pandemia

Como é o tratamento? 

Precisamos de tempo. Primeiro, devemos entender qual a dificuldade da criança e em que etapa ela está. Isso é feito com bastante observação e com testes em ambientes diferentes. Falar como um adulto parece simples, mas passamos por muitas etapas para chegar nisso.

É fundamental entender se o problema é persistente ou não antes de planejar a intervenção. Pode haver a necessidade de envolver outros profissionais, por exemplo. Todo esse caminho precisa ser lúdico e envolver a família e a escola.

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Durante o processo do diagnóstico tomamos o cuidado de não taxar a criança.

Como a escola deve fazer parte desse processo?

Há instituições que contam com fonoaudiólogos, mas isso não é comum. Nosso papel é, então, dar orientações mais gerais para os professores ou para a coordenação para que eles construam um ambiente mais favorável àquela criança.

Até pensando nesse ambiente, quanto mais cedo a criança for tratada, melhor. Isso porque há o risco de ela começar a sofrer bullying e ter o processo de alfabetização prejudicado. Ou seja, a situação pode virar uma bola de neve, influenciando em outros aspectos do desenvolvimento.

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