Deixemos de enxergar o meio ambiente e os seres vivos como objetos passivos, inertes e meros depositórios de conhecimento ou recursos. Deixemos de imaginar que a objetividade da ciência não é influenciada e distorcida por um sistema regido por homens, brancos e capitalistas. Deixemos de tentar entender o Universo como um polo de dicotomias (humano X animal, natureza X cultura…).
Essas são algumas das provocações da filósofa e zoóloga americana Donna Haraway, autora de uma obra densa que, a partir das perspectivas feministas, busca tirar o fazer científico e a nossa padronizada visão de mundo ocidental da zona de conforto. Em A Reinvenção da Natureza, recém-publicado pela editora WMF Martins Fontes, podemos ler os textos que a autora começou a publicar ainda nos anos 1980, trazendo ideias e debates revolucionários ao mesclar diversas áreas do conhecimento — da biologia à literatura, passando pela antropologia.
Entre eles está o famoso Manifesto Ciborgue, que propõe uma nova forma de dialogar com o mundo e suas criaturas e outro olhar para a interação entre humanos, outras espécies e máquinas.
A reinvenção da natureza
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Precisa ser mesmo assim?
Críticas extremamente atuais na obra de Donna Haraway
A apropriação da natureza
A pensadora questiona o modo como as ciências, sobretudo as naturais, foram articuladas para explorar “objetos” — plantas, animais, o meio ambiente — como mero reduto de saber ou ganho de capital.
A dominação masculina
A objetividade científica no contexto ocidental está longe de ser uma lente neutra e isenta de interesses. Donna reclama espaço para outros atores na construção das ideias e do mundo — mulheres, índios, negros…
A fronteira entre animal e humano
A autora ataca a noção equivocada do homem como topo da cadeia e da história evolutiva, e inclusive questiona, a partir do entendimento e das metáforas do sistema imunológico, o que diferencia o eu do outro.
A interface com a tecnologia
Valendo-se da figura do ciborgue — que integra humano e máquina —, Donna traz a perspectiva de recursos protéticos e digitais encorparem a multiplicidade de modos de ver, viver e compreender o mundo.