Clima viral: entenda como os vírus influenciam no aquecimento global

É fato: a Terra está esquentando mais do que seria esperado se não houvesse a ação humana. E, como tudo se conecta na natureza, cada elemento dela, seja vivo ou não, é afetado pelo aumento das temperaturas.

Exemplos bem visíveis são a elevação no nível dos mares, eventos extremos e a redistribuição de espécies de animais e plantas. Sendo “antropocêntrico”, vale citar a diminuição na produção de alimentos e o aumento do impacto de velhas e novas doenças infecciosas, cujo golpe é sempre mais forte em populações em situação de pobreza, migração e guerras.

Quem leu até aqui deve estar suspeitando que vamos falar de como nossas doenças virais são afetadas pelo clima, certo? Plot twist: vamos ver como, na verdade, os vírus podem estar ajudando a frear uma parte do aquecimento global.

+ Leia também: Lugares inusitados onde foram encontrados agrotóxicos

Tudo tem a ver com o elemento químico que é o superstar da vida na Terra, o carbono. Ele é tanto parte essencial da estrutura dos seres vivos quanto dos próprios processos que os definem como vivos.

Mas, como disse o químico francês Antoine Lavoisier, lá no século 18, “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, então não dá para criar do nada carbono para cada ser vivo usar: temos que compartilhar, usar um pouquinho e devolver.

Para os seres vivos que respiram, como nós, um dos modos de retornar nosso carbono é por meio do gás carbônico (CO2) que mandamos para a atmosfera cada vez que expiramos.

Mas, inteligentes que somos, inventamos outros modos de liberar CO2 para a atmosfera, queimando combustíveis fosseis derivados de petróleo, em quantidade tal que supera a capacidade de absorção pelas plantas.

O fenômeno forma uma camada gasosa que impede que o calor do Sol volte para o espaço, tornando a Terra uma estufa (daí o termo amplamente conhecido “efeito estufa”).

Agora, viajando para o mundo dos micro-organismos no solo ou nos oceanos, por exemplo, encontramos:

• bactérias que, como as plantas, fazem fotossíntese e removem o CO2 do meio;
• bactérias decompositoras, que “desmontam” outros micro-organismos, respiram como nós e aumentam a quantidade de carbono solto na natureza,
• e os micro-organismos predadores, que tanto roubam o carbono dos micróbios do quais se alimentam quanto soltam o componente para o meio ambiente também por respiração.

Pode parecer que isso só interessa ao mundinho micro, mas não: na escala populacional de bilhões e bilhões, os germes têm um impacto tremendo na regulação da quantidade de CO2 na nossa atmosfera. Isso é o que chamamos de loop ou ciclo microbiano do carbono.

Mas e os vírus?

E, aí, entram os famigerados. Todos estes micro-organismos do ciclo do carbono têm seus vírus e, uma vez infectados, acabam morrendo e sendo reciclados por outros micróbios.

Para estes vírus de bactérias, temperaturas mais altas, como favorece o aquecimento global, são melhores, pois eles se reproduzem mais rápido e em maior quantidade.

Quanto mais vírus, mais morrem os micro-organismos do ciclo do carbono, diminuindo a massa microbiana e, com ela, a eliminação de carbono para o meio ambiente. Seria meio como desmontar um carro a gasolina: já que o motor não existe mais, o carbono fica preso na gasolina e não é usado para produzir CO2.

Resumindo: nós poluímos o ar com CO2, a Terra vira uma estufa, o clima esquenta, os vírus dos micro-organismos do ciclo do carbono se dão bem, a população destes germes cai e menos carbono é mandado para o meio ambiente, evitando que o efeito estufa aumente.

Então tudo certo! Podemos mandar quanto CO2 quisermos para a atmosfera que os nossos amigos vírus consertam tudo.

Não é bem assim. Os vírus também tem seus limites de temperatura e, se esquentar demais, eles também se dão mal e param de se reproduzir e o processo se inverte: menos vírus de bactérias, menos elas morrem e mais CO2 excretam para o ambiente.

Lavoisier literalmente perdeu a cabeça na Revolução Francesa. Mas deixou claro, com sua mente excepcional, que a vida depende de compartilhamento e reciclagem.

E, sua afirmação de que “não devemos confiar em nada exceto nos fatos, que nos são mostrados pela natureza e não enganam” pode dar fôlego a nosso entendimento sobre o aquecimento global. Enquanto ainda há tempo.

• Mais lidas

1

Alimentação

Chá de folha de manga: saiba se ele realmente traz benefícios à saúde

2

Medicina

Raul Seixas: “Um gênio aprisionado no corpo de um alcoólatra”

3

Medicina

Paralisia do sono: entenda o que é e como identificar sintomas

4

Alimentação

Açúcar de coco: é melhor que açúcar branco e tem menor índice glicêmico? 

5

Medicina

Pneumonia: o que é, sintomas, causas e tratamentos

• Aquecimento global
• Vírus