Só neste Dia das Mães, estima-se que 211 mil mulheres darão à luz em todo o mundo, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Entre elas, 7 640 estarão no Brasil, de acordo com números do IBGE. Tais estatísticas, analisadas juntamente com estudos indicativos de que uma em cada cinco brasileiras tem risco de sofrer um infarto, reforçam a importância da adoção de cuidados especiais com as gestantes.
Sim, a gravidez provoca uma sobrecarga ao coração. As mulheres sem qualquer histórico de doença cardiovascular costumam apresentar alterações, principalmente o chamado sopro, um ruído associado aos batimentos cardíacos que desaparece, na maior parte dos casos, cerca de sete dias após o parto.
Porém, quando a gestante é portadora de alguma doença cardiovascular, os cuidados precisam ser redobrados. Ela deve, antes de tudo, reportar esse ao ginecologista/obstetra logo no início da gravidez para que sejam adotadas as medidas preventivas adequadas, em conjunto com o cardiologista.
Os dois riscos mais importantes para a gestante com doença cardiovascular são o agravamento da insuficiência cardíaca, devido ao aumento do esforço imposto ao coração, e o surgimento de uma infecção (endocardite), que pode atingir válvulas com alguma lesão prévia. O primeiro caso é mais recorrente e menos grave, enquanto o segundo, mais raro, é mais perigoso.
A boa notícia para as jovens mamães é que, nas duas situações, existem medidas preventivas e controles eficientes. Por isso, é muito importante o acompanhamento médico frequente durante toda a gravidez e a adoção dos cuidados e recomendações do ginecologista e do cardiologista.
Durante a gestação, também podem aparecer outros sintomas em mulheres sem histórico de doença cardiovascular, cuja ocorrência exige cuidados especiais no caso das grávidas cardiopatas. Uma dessas alterações é a arritmia, com aceleração ou redução da frequência cardíaca. Em qualquer situação, deve-se verificar as causas e, se necessário, realizar o tratamento mais indicado. Outro fator que merece atenção é o aumento da pressão arterial, que costuma atingir de 5% a 7% das gestantes.
Tenha ou não histórico de problemas no coração, é necessário que a gestante mantenha dieta e rotina saudáveis, sempre com orientação médica. Sedentarismo, consumo excessivo de sal, ingestão de álcool, tabagismo e excesso de peso, já nocivos para a população em geral, são uma verdadeira ameaça para as mulheres grávidas. E um adendo: a alimentação deve ser boa, na medida certa para sua saúde e o desenvolvimento do bebê, mas sem exageros.
Aleitamento materno em prol do coração
Distintos estudos demonstram que a amamentação, além dos comprovados benefícios para o bebê, é positiva para a saúde cardíaca delas próprias. Esse ato favorece a perda de peso após o parto, a redução dos níveis de colesterol e glicose e a normalização da pressão arterial.
Um trabalho mais recente, realizado por cientistas da Universidade de Oxford, no Reino Unido, concluiu que o aleitamento diminui os riscos de doenças cardíacas. A pesquisa, publicada no Journal of American Heart Association, abrangeu 300 mil mulheres chinesas, acompanhadas durante dez anos.
Os resultados apontaram que aquelas que amamentaram apresentaram risco 9% menor de desenvolver doenças cardiovasculares. O índice alcançou 18% no grupo das que tinham mais de um filho e amamentaram cada bebê por dois anos ou mais.
Coração de mãe, o símbolo mais expressivo de amor, dedicação e desprendimento ilimitados, merece muito carinho e a atenção da família, da sociedade e do poder público. Feliz Dia das Mães!
*José Francisco Kerr Saraiva, cardiologista e presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo – Socesp