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Carlos Eduardo Barra Couri é endocrinologista, pesquisador da USP de Ribeirão Preto e criador do Endodebate e do Diacordis. Aqui ele mapeia os cuidados e os avanços para o controle do diabetes
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Diabetes & obesidade: novos tratamentos prometem fazer história

Nosso colunista comenta os avanços no campo dos medicamentos para essas duas condições, que costumam estar interligadas. Há uma revolução à vista

Por Carlos Eduardo Barra Couri
18 ago 2023, 09h54

Para a maioria das pessoas, a palavra “diabetes” se relaciona quase que exclusivamente a “açúcar”, “glicose” e “carboidrato”.

Ainda não está tão disseminada a noção de que a gordura e o peso corporal influenciam diretamente o aparecimento e o descontrole do diabetes tipo 2, aquele que afeta 90% dos indivíduos com a condição.

Mas posso dizer que essa doença e a obesidade são como irmãs — a ponto de especialistas terem criado um termo para reuni-las, “diabesidade”.

E, não à toa, cada vez mais se valoriza o papel do emagrecimento no tratamento do diabetes. Esse, aliás, foi o tema central do último encontro anual da Associação Americana de Diabetes (ADA).

Dos cinco grandes estudos apresentados na ocasião, quatro abordavam o impacto da perda de peso no controle do problema que ganhou fama por fazer o açúcar disparar no sangue.

Segundo o Atlas da Federação Internacional de Diabetes, o Brasil é o sexto país com maior número de cidadãos com a doença. Se colocarmos uma lupa sobre os 15 milhões de pessoas com diabetes tipo 2 por aqui, veremos que nove em cada dez apresentam sobrepeso ou obesidade.

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Essa correlação é frequente porque o ganho de peso atrapalha o trabalho da insulina e, consequentemente, dificulta o uso da glicose pelas células.

Não é de espantar, portanto, que já tenhamos evidências científicas de que controlar o peso possa retardar a progressão do pré-diabetes para diabetes em si e que a eliminação de pelo menos 5% do peso inicial já reverta em melhor controle glicêmico.

Não é pouca coisa: calculamos que mais da metade dos pacientes com diabetes tipo 2 não consigam manter os níveis de açúcar no sangue dentro das metas, o que, no longo prazo, aumenta o risco de uma porção de males, como cegueira, amputações, insuficiência renal, infarto e derrame.

Sabemos também que aderir a mudanças no estilo de vida e aos tratamentos disponíveis permanece um desafio para desinflar esses índices catastróficos da diabesidade.

Por isso, é animadora a perspectiva de novos medicamentos capazes de aprimorar o controle do peso e do diabetes e ampliar o arsenal médico para uma abordagem mais efetiva e personalizada. E foi nesse campo que o congresso da ADA semeou boas notícias. Em resumo, o tratamento dessas condições está prestes a vivenciar uma revolução com o que vem por aí.

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Retatrutida, tirzepatida e outros tratamentos no horizonte

Começo falando de uma nova classe de medicamentos para essa finalidade, a dos agonistas de GLP-1, GIP e glucagon. Trata-se da retatrutida, remédio injetável e semanal que simula a ação de três hormônios naturais. Em um dos estudos clínicos, ele levou a uma perda média de 24% do peso em 48 semanas.

Os pacientes apresentavam em torno de 107 quilos no início do experimento e emagreceram mais de 25 quilos. Um feito e tanto!

Além desse resultado expressivo, a retatrutida também diminuiu significativamente a glicemia e a gordura no fígado. Pesquisas em andamento devem confirmar o potencial da categoria para inaugurar uma nova fronteira diante da diabesidade e dos problemas que costumam acompanhá-la.

Outra medicação de destaque, esta mais próxima da nossa realidade, é a tirzepatida.

Ela tem uma dupla ação, interferindo na atuação de dois hormônios produzidos pelo nosso intestino, o GIP e o GLP-1. Ao influenciar essa orquestra bioquímica, o remédio reduz os níveis de açúcar no sangue e o peso corporal — fatores cruciais para conter o diabetes.

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No evento da ADA, foram apresentados os resultados finais de um estudo que avaliou a tirzepatida para o tratamento da obesidade em pessoas com diabetes.

O resultado foi a perda de peso de 15,7% nesse grupo de pacientes, que normalmente têm dificuldade de emagrecer. O remédio, uma injeção semanal, já foi submetido à aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e esperamos ansiosos sua chegada ao mercado.

Também ganhou evidência um fármaco chamado orforglipron, um agonista de GLP-1 de uso oral que não requer jejum para ser ingerido e demonstrou efeito na perda de peso em um curto período.

Os voluntários que o tomaram emagreceram 15% em 36 semanas — outra pesquisa atestou queda importante na hemoglobina glicada, exame que dá uma média da glicemia no último trimestre.

Mais conhecida do público, a semaglutida oral foi alvo de uma investigação que demonstrou a superioridade de uma dosagem maior (50 mg) do fármaco no tratamento do excesso de peso.

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No arsenal do futuro, também poderemos contar com um medicamento inédito que combina, na mesma caneta de injeção, a semaglutida com a cagrilintida, a fim de deter a obesidade e o diabetes.

Pacientes testados obtiveram, em média, perda de 15% do peso inicial após 32 semanas de uso. Vale ressaltar que a curva de perda de peso não atingiu um platô ao final de 32 semanas, o que significa que o resultado pode ser ainda mais expressivo.

Esta, assim como as demais drogas mencionadas e baseadas em hormônios gastrointestinais, continuam protagonizando ensaios clínicos pelo mundo.

Além delas, não poderia deixar de falar de outro avanço importante que ganhou o palco do encontro da ADA e o noticiário. Me refiro à insulina de ação semanal.

Foram divulgados dois estudos com um desses produtos inovadores, e eles mostraram que pacientes em uso da insulina semanal tiveram melhor controle do diabetes tipo 2 quando comparados a indivíduos que utilizavam insulinas diárias tradicionais, com a vantagem de reduzir o risco de quedas acentuadas de glicose no sangue (hipoglicemia) e facilitar o engajamento do usuário — afinal, é mais fácil tomar um remédio uma vez por semana do que diariamente, certo?

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Todos esses desenvolvimentos científicos representam uma vitória para a medicina e os pacientes. No nosso horizonte, podemos vislumbrar medicamentos potentes e efetivos que ajudarão a dominar (ainda melhor) o diabetes e sua sombra, a obesidade.

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