No último dia 17, comemorou-se o Dia Mundial da Prematuridade. Você deve imaginar o bebê prematuro como alguém que enfrenta desafios desde o seu primeiro dia de vida. Mas não! Ele os enfrenta desde o “dia menos 1”, a “semana menos 2”, o “mês menos 3”…
De acordo com dados do Ministério da Saúde, cerca de 300 mil bebês por ano são prematuros, o que corresponde a 11,7% de todos os nascimentos no país.
Considerando que a prematuridade é uma das principais causas que contribuem para mortalidade no primeiro mês de vida pós-natal, essa data tem como objetivo conscientizar a sociedade em geral sobre o tema.
Além do nascimento antes da hora, o que por si só já traz desafios no cuidado, as crianças que sobreviveram a essa condição tendem a apresentar um risco significativamente maior de desenvolver doenças crônicas. Entre as mais comuns estão a displasia broncopulmonar, que afeta os pulmões e compromete a respiração, a hipertensão pulmonar e outras complicações cardíacas.
No campo das doenças raras, algumas condições neurológicas como a leucomalácia periventricular, que é a redução do fluxo sanguíneo cerebral, também estão associadas à prematuridade. Assim como diversas situações genéticas.
Diante dessa complexidade, a intervenção precoce e o cuidado multidisciplinar são fundamentais para garantir a qualidade de vida e o desenvolvimento adequado dessas crianças nos primeiros anos de vida.
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O Brasil está entre os 10 países com maiores taxas de prematuridade no mundo. Esse número elevado é justificado por diversos fatores, como a qualidade dos cuidados pré-natais, além de condições relacionadas à gestante, como hipertensão, diabetes gestacional e infecções.
Dados nacionais indicam que 60% das mortes neonatais são causadas por complicações decorrentes do nascimento prematuro, o que denota a necessidade de acompanhamento do bebê por uma equipe especializada e multidisciplinar desde antes do nascimento até o pós-parto.
Acompanhamento de curto e longo prazo
A medicina fetal tem papel crucial no suporte à vida dos bebês prematuros quando a condição não pode ser evitada. Em continuidade com a medicina neonatal, forma um sistema integrado de cuidado preventivo e terapêutico.
Ao se identificar precocemente fatores de risco para o nascimento antes da hora, essa abordagem especializada ajuda a prolongar a gestação, garantindo maior maturidade do feto e melhor qualidade de vida futura.
É importante dizer que os cuidados com crianças prematuras vão além do período neonatal. Após o nascimento, um plano de cuidados de longo prazo, que inclui a avaliação periódica das funções neurológicas, motoras e sensoriais, é fundamental.
Em nosso hospital, atendemos muitas crianças com condições complexas oriundas da prematuridade, que foram acompanhadas desde a gestação ou que vieram transferidos de outras instituições. A experiência do serviço aponta que um diagnóstico preciso e um tratamento integrado tornam os resultados mais rápidos e eficazes.
É importante que esses recém-nascidos tenham o suporte de uma equipe multidisciplinar composta por neonatologistas, pediatras, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, nutricionistas, entre outros. Se for preciso manter um tratamento a longo prazo, outras especialidades podem ser incluídas pontualmente, de acordo com a necessidade de cada paciente.
Ainda, o especialista em saúde pediátrica deve ter uma preocupação para além da questão clínica: buscar uma abordagem abrangente e humanizada no cuidado às crianças e também aos pais, que, num momento como esse, estão muito fragilizados. Por esse motivo, o acompanhamento multidisciplinar, deve incluir a equipe de psicologia.
Este é um compromisso desafiador para todos que lidam com saúde infantil. Não se trata de apenas garantir a sobrevivência em um momento crítico do nascimento, mas de prezar pelas décadas seguintes, com a qualidade de vida que toda criança merece, ainda mais ao iniciar sua trajetória de maneira tão desafiadora.