Dia das Mães: precisamos falar sobre o cuidado com as mães atípicas
Mães de crianças com condições complexas também precisam ser assistidas

Você já deve ter ouvido a frase “quando nasce um filho, nasce também uma mãe”. Apesar de clichê, ela é muito verdadeira. A cada nascimento, as mães iniciam um processo de maternidade único e sublime.
O Dia das Mães é o momento propício para termos um olhar ainda mais afetuoso para aquelas que desempenham um papel excepcional, especialmente as com filhos que possuem alguma condição que leva ao desenvolvimento atípico.
Como especialista pediátrico, há mais de duas décadas testemunho, diariamente, os desafios que essas mães enfrentam. Por vezes considerados “comuns” para uma mãe, seus esforços podem ser dificultados pela falta do devido apoio e reconhecimento da sociedade.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada em 2023 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 3 a 4% da população entre 2 e 40 anos de idade apresenta algum tipo de deficiência.
Portanto, o papel de cuidadora de uma mãe atípica vai além de sua função em saúde. Ele impacta a educação e até a força de trabalho futura do país, sem falar na felicidade de seu filho em exercer suas diversas autonomias e independência.
Ser mãe de uma criança com necessidades especiais pode ser um desafio tanto físico quanto emocional. É crucial que ela receba suporte e a atenção necessários para lidar com as diferentes demandas, que são superiores às da maternidade habitual em aspectos financeiros, logísticos e psicológicos, por exemplo.
É preciso de ajuda para tornar equânime o enfrentamento de obstáculos em sua jornada maternal.
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A neuropsicóloga coordenadora do Serviço de Psicologia do Sabará Hospital Infantil, Cristina Borsari, relata que as mães de crianças atípicas, principalmente as neurodivergentes — que precisam de um acompanhamento hospitalar contínuo — enfrentam desafios complexos.
“O cuidado dessas crianças pode ser estressante, muitas vezes solitário e carregado de expectativas, especialmente quando se lida continuamente com necessidades clínicas que requerem escolhas difíceis. As mães podem se sentir sobrecarregadas com as inúmeras responsabilidades do cuidado, demandando tempo, energia e recursos, além de ter que lidar com o estigma, preconceito e a falta de compreensão da sociedade, o que pode resultar em aspectos negativos para sua saúde física e mental”, diz a psicóloga.
Outro ponto levantado pela especialista são as dificuldades enfrentadas por essas mães em conciliar a vida cotidiana, que pode incluir o trabalho externo, uma carreira profissional e a rotina em casa com outros filhos e cônjuge, com a dedicação ao acompanhamento da doença da criança em tempo integral.
“A maternidade já traz para a mulher uma carga emocional cheia de responsabilidades. Elas se cobram muito e, nesses momentos, renunciam ao autocuidado, o que gera estresse por ter que administrar compromissos familiares, profissionais e garantir tempo para si. Além disso, as mães em situações de maternidade atípica muitas vezes enfrentam o desafio de encontrar uma rede de apoio adequada e potente em suas necessidades. Isso pode incluir acesso a serviços de saúde mental, grupos de apoio específicos e uma rede sustentável de amigos e familiares”, explica Cristina.
É importante lembrar que mães são mulheres que também merecem ser cuidadas. Por esse motivo, o hospital pediátrico tem uma Rede de Humanização que promove encontros semanais com as mães da UTI, já que a terapia intensiva ocorre mais frequentemente nos pacientes complexos.
Uma roda de conversa dedicada a essas mulheres, permite que respirem um ar puro fora do quarto de internação, sejam ouvidas, e troquem experiências. Realiza-se sempre alguma atividade manual que promova relaxamento, buscando renovar forças e até descontrair. Mesmo que por poucas horas, os benefícios são imensos.
Quer seja uma nova mãe que enfrenta um diagnóstico de deficiência de seu filho, quer seja uma mãe atípica que busca inclusão através de melhores políticas públicas, o suporte é imprescindível.
Mais que isso, é preciso escutá-las para, junto com especialistas, entender o que é primordial para que possam cuidar de suas crianças integralmente, sem desperdiçar tanto seus esforços quanto os recursos da sociedade. Assim, permitiremos que as crianças com condições complexas também tenham acesso ao melhor lugar do mundo para serem cuidadas: o colo de mãe.
Feliz Dia das Mães!