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Protocolo que limpa fígado e vesícula com certos alimentos evita doenças?

Uma dieta detox com suco de maçã, azeite e outros itens eliminaria cálculos biliares e, com isso, afastaria problemas. Mas não há prova de sua eficácia

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 10 abr 2020, 09h01 - Publicado em 21 jan 2020, 18h49

Chegou no e-mail da SAÚDE a seguinte mensagem de uma leitora sobre uma espécie de dieta detox conhecida como Protocolo de Limpeza do Fígado e da Vesícula:

“Tenho acompanhado amigas fazendo um protocolo de limpeza do fígado e vesícula com uso de vinagre de maçã, dieta, sal amargo (sulfato de magnésio) e azeite de oliva. Existem vários blogs que divulgam esse protocolo e grupos de WhatsApp se formam pra realizarem o mesmo. Mas não encontrei nenhum artigo científico que confirme os benefícios. Seria possível fazerem uma matéria sobre isso?”

É para já! Bem famoso na internet, o método vem de um livro de 2003 publicado pelo terapeuta alemão Andreas Moritz. Segundo ele, muitos de nossos males — de depressão a dores no corpo — decorrem de cálculos biliares que não notamos, mas precisam ser eliminados.

Essas pedrinhas localizadas na vesícula e no fígado seriam eliminadas aos montes após uma semana seguindo uma série de regras complicadas. Tudo começa com seis dias tomando um litro de suco de maçã pela manhã e restringindo laticínios, gorduras e outros alimentos, com períodos extensos de jejum.

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No sétimo dia, ocorreria a “real” limpeza do fígado, depois de beber várias vezes uma mistura de fruta cítrica e azeite e outra de água com sulfato de magnésio — também chamado pelos adeptos de sal amargo. O resultado aparece no vaso sanitário, em dezenas de bolinhas: seriam os tais cálculos.
Lamentamos informar às amigas da nossa leitora, mas trata-se de uma baita fake news, que já foi desmentida pela ciência. As pedras são, na verdade, uma espécie de cocô estranho, resultado de uma dieta nada convencional.

“Um estudo comprovou que elas são o resíduo da mistura de maçã, azeite e frutas cítricas utilizadas no protocolo”, comenta Fernanda Maluhy, nutricionista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.

O levantamento que desmente essa história foi publicado em 2005 no respeitadíssimo periódico científico The Lancet, depois que uma adepta do método congelou seus ‘cálculos’ e os levou para os médicos avaliarem.

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calculo biliar
Os defensores desse método afirmam que essas pedrinhas seriam os cálculos biliares que sairiam pelas fezes após a dieta. Mas, na verdade, são o resíduo da mistura de maçã, azeite e frutas cítricas. (Foto: Divulgação/SAÚDE é Vital)

O que são cálculos biliares e o que realmente causam

Eles são relativamente comuns. Algumas pessoas têm a composição da bile (líquido fabricado pelo fígado para auxiliar na digestão de gorduras) mais propensa a acumular cristais de colesterol.

Ao longo de anos, essa formação pode crescer e se transformar em uma pedrinha, que geralmente se deposita na vesícula, órgão que armazena parte da bile enquanto ela não é utilizada.

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“Quando comemos, a vesícula se contrai e manda a bile guardada para o intestino. Se a pessoa tiver um cálculo maior, ele pode ficar preso na passagem entre a vesícula e o intestino, que é estreita”, explica o gastroenterologista Luis Edmundo Pinto da Fonseca, também do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. É daí que vem uma dor intensa, acompanhada de inflamação local.

Alguns cálculos menores conseguem ainda sair da vesícula, porém entalam em outro canal mais apertadinho. É a papila duodenal, espécie de “porta” do intestino delgado, onde também desemboca o pâncreas.

“Esse é uma situação mais grave. O indivíduo pode ter pancreatite ou uma obstrução total do fluxo da bile, o que leva a infecções”, comenta Fonseca. Até por isso, os médicos contraindicam qualquer tratamento que diminua ou dissolva os cálculos para que sejam eliminados por conta própria.

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Ou seja, quem segue um protocolo como o que mencionamos antes na verdade coloca a saúde em risco. É que, de fato, certas substâncias desses alimentos aumentam o fluxo da bile, o que facilitaria o deslocamento ou mesmo dissolveria cálculos até então desconhecidos ou inofensivos.

O autor do método até cita o risco de pancreatite, mas diz que ela resulta de erros cometidos ao cumprir a extensa lista de etapas do plano.

Dieta detox não funciona

Há outras controvérsias nessa história, como a promessa de limpar o fígado. Tudo o que promete desintoxicar o organismo é visto com ceticismo pelos médicos, porque não há estudos que comprovem o poder do “detox”. Pelo contrário, como você pode ver em uma reportagem nossa clicando aqui.

“O que realmente ajuda é manter uma alimentação equilibrada, não beber em excesso, manter-se hidratado etc. Ou seja, adotar um estilo de vida balanceado”, esclarece Fernanda.

Mas e o bem-estar de quem faz o protocolo de limpeza, de onde vem? Talvez de uma dieta mais rica em vegetais e menos pesada. E, claro, do próprio efeito placebo.

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O criador do plano

Andreas Moritz é um alemão defensor de medicina ayurveda, shiatsu e outras terapias alternativas. Não há muitas informações oficiais sobre ele, que morreu de causas desconhecidas aos 58 anos de idade. Sua bibliografia, contudo, é cheia polêmicas.

Segundo Moritz, o câncer não é uma doença, mas um mecanismo de defesa do próprio corpo, e o que mata o paciente é o tratamento (os estudos mostram justamente o contrário). Em outras obras, ele afirmou que a aids é um mito, que as vacinas são uma estratégia de envenenamento em massa e que é possível curar doenças apenas com a luz do sol. Melhor não seguir os passos de uma pessoa com essas crenças.

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