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Virei neurocirurgiã lutando contra o preconceito por ser mulher

Médica relata sua experiência de formação e especialização na área, os desafios com a discriminação por gênero e as vitórias na carreira

Por Giselle Coelho, neurocirurgiã pediátrica*
Atualizado em 14 abr 2021, 18h49 - Publicado em 14 abr 2021, 10h05

“Como assim?”, “Fazendo neurocirurgia, você não terá tempo para fazer o jantar para o seu marido”, “Esquece, essa não é uma área para mulheres”. Frases assim traduzem o preconceito contra a mulher que tive de ouvir nos últimos 15 anos.

Confesso que pensei em desistir algumas vezes, mas nunca pelo que tive de escutar, mas pelo cansaço, pelas dificuldades e, principalmente, pela necessidade de ter de me sobressair ainda mais na minha área, simplesmente por ser mulher.

Vim de uma família bem humilde. Sempre trabalhei para estudar, com bolsa na escola e como ajudante de professora. Depois consegui ingressar na faculdade de Biologia, na Unicamp. Foi uma experiência única, cursei dois anos, mas meu sonho era medicina mesmo.

Então voltei para o cursinho. E, assim falando, parece fácil, mas com muito esforço, passei no vestibular e ingressei na medicina da Unicamp. O dinheiro era escasso. Fui bolsista e trabalhava, até morei no campus. Depois de 11 anos, conquistei o título que tanto amo.

Lembro que, na época da residência em neurocirurgia, trabalhava tanto que emagreci 9 quilos, quase sumi. Era muita dedicação aos estudos e à desafiadora conciliação com a assistência, algo exigido pela formação neurocirúrgica. Não era nada fácil. Desistir sempre me assombrou, mas, com o apoio de alguns professores tutores, consegui chegar lá. Tinha um propósito maior: ajudar as pessoas, e isso me motivou todos os dias.

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Hoje trabalho em quatro hospitais, além do consultório, e não me arrependo de nenhum momento da minha rotina, que muitas vezes me fez renunciar à minha vida pessoal e afetiva. É fato que, como mulheres, temos que ser fortes e irmos além, mas acredito que devemos manter a nossa delicadeza, não só para nós como para os próprios pacientes.

Unhas pintadas, cabelo arrumado, tudo isso faz parte da essência feminina e não deve ser moldado pela especialidade, ainda mais pensando no paciente pediátrico, muito próximo da gente como os seus familiares.

Em 2008, fui convidada para um fellowship em neurocirurgia pediátrica em Roma. Fiz um intensivo da língua em menos de um mês e não perdi a oportunidade. No final, deu tudo certo. Entre tantas conquistas ao longo da profissão, desenvolvi o primeiro simulador ultrarrealista de cirurgia em bebês e ainda fui agraciada pelo prêmio internacional da Federação Mundial de Sociedades de Neurocirurgia.

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Outro feito do qual me orgulho foi realizar uma rara cirurgia de correção de encefalocele (extravasamento de uma parte do cérebro por uma falha óssea no crânio) numa garota de 10 anos. Com um planejamento pré-operatório inédito baseado em modelos virtuais e realísticos, conduzimos um procedimento altamente complexo, que teve 100% de êxito.

Fiz o caminho que sempre quis percorrer, e sei que os obstáculos não acabaram, há outras pedras no caminho. Mas elas também me dão força para seguir em frente. Quando vejo algumas meninas começando em neurocirurgia, acho o máximo. Dou a maior força! Mulheres devem escolher o que bem entendem como profissão, não se restringindo  a crenças limitantes que atribuem a elas uma suposta incapacidade de exercer atividades complexas, como a própria neurocirurgia.

* Giselle Coelho é neurocirurgiã pediátrica dos hospitais Sabará e Santa Marcelina, em São Paulo

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