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Com tanta tecnologia, teremos uma medicina sem médicos?

Uma reflexão sobre a relação médico-paciente numa era dominada por máquinas e softwares

Por André Islabão, médico e autor*
Atualizado em 18 jul 2025, 17h00 - Publicado em 18 jul 2025, 14h00
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"A existência de tecnologias diagnósticas e terapêuticas modernas é algo sem dúvida positivo, mas o emprego desmedido enfraquece a base da nossa profissão" (Ilustração: Carol D'Avila/Veja Saúde)
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Uma característica notável da medicina moderna é a profusão de aparatos tecnológicos que permeiam cada etapa do cuidado. Já não conseguimos marcar uma consulta sem lidarmos com máquinas que fazem o agendamento digital nem atrair a atenção plena dos profissionais, os quais costumam dedicar boa parte das consultas a olhar para a tela de um computador.

Para piorar a situação, os médicos têm transferido para as máquinas algumas habilidades fundamentais ao exercício da medicina, como quando alguém com tosse e febre é encaminhado para uma tomografia de tórax sem que ao menos alguém tenha auscultado seus pulmões.

Talvez os médicos não tenham notado ainda que o uso excessivo das tecnologias acaba não apenas por enfraquecer a relação com o paciente, mas também por reduzir suas próprias habilidades clínicas e diminuir sua importância no espaço da assistência.

Além disso, o crescente afastamento físico e emocional entre médicos e pacientes pode diminuir a níveis constrangedores aquelas capacidades humanas fundamentais para tratar da outra pessoa que sofre, como a empatia, a compaixão e a ternura.

É possível que os pacientes também não tenham percebido que o uso excessivo de tecnologias pode parecer sedutor, mas acaba minando seu acesso a médicos de carne e osso. Há quem se deleite — e há quem lucre muito — com a medicina hipertecnológica, aquela em que o próprio doente pode interagir com uma máquina e descobrir seu diagnóstico ou o melhor tratamento.

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Mas essa versão distópica da medicina termina mal sempre que a pessoa doente descobre que computadores não podem oferecer o acolhimento que apenas seres humanos conseguem oferecer. As tecnologias médicas não são, em si mesmas, nem boas nem ruins. O que faz com que elas representem um recurso útil para o médico ou um transtorno para o exercício da boa medicina é o seu uso.

Ele deveria sempre ser parcimonioso e baseado em doses generosas de bom senso. A existência de tecnologias diagnósticas e terapêuticas modernas é algo sem dúvida positivo, mas o emprego desmedido enfraquece a relação médico-paciente, a base da nossa profissão.

Assim, as tecnologias devem complementar o trabalho do médico, jamais substituí-lo. A medicina tem, tradicionalmente, se voltado para a área da aviação civil na busca por estratégias que aumentem a segurança dos pacientes.

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Porém, é importante lembrar que, apesar de todo o aparelhamento que envolve os aviões modernos, não existe nenhum voo comercial que seja operado apenas por máquina, num estrito piloto automático.

Há sempre um humano capacitado no comando ou prontamente disponível para tomar o controle da aeronave em caso de necessidade. Duvido que alguém entraria num avião que fosse operado apenas por máquinas. Como na aviação, a ideia de que médicos podem ser substituídos sem risco para a população é uma receita infalível para o desastre.

* André Islabão é médico e coautor de Slow Medicine – Sem Pressa para Cuidar Bem (MG Editores)

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