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Por que nem sempre lesões graves sangram muito?

Jair Bolsonaro (PSL) tomou uma facada, mas não se viu sangue. Um especialista explica por que até feridas sem grandes sangramentos externos podem ser graves

Por Dr. Adenauer Marinho de Oliveira Góes Jr., médico*
Atualizado em 19 out 2018, 12h28 - Publicado em 1 out 2018, 18h53
ataque a jair bolsonaro: facada
O atentado a Jair Bolsonaro mostra como lesões graves não necessariamente sangram muito (Foto: Antonio Milena/SAÚDE é Vital)
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Estamos vivendo uma era de grande exposição à violência no Brasil. Imagens de vítimas de tiros e facadas, que antes só víamos em filmes e séries de TV, inundam telejornais e mídias sociais. O caso atual mais emblemático é o do candidato à presidência Jair Bolsonaro, que foi esfaqueado durante um evento de sua campanha.

Esses fatos geram discussões entre os telespectadores. Tem até quem duvide da gravidade de um ferimento porque viu um vídeo, mas não viu sangue.

Talvez essa “descrença” na veracidade do fato aconteça porque durante décadas os filmes de ação nos ensinaram coisas erradas. Se o personagem fosse atingido por um tiro no peito ou no abdômen e logo depois saísse sangue pela boca, a morte era iminente. Outra cena clássica que o cinema ensinou errado é que não importam as lesões provocadas pelo tiro, desde que o médico retire a bala, a pessoa ferida vai sobreviver.

Em primeiro lugar, após sofrer um trauma, como um acidente de trânsito, uma queda de grande altura, um tiro ou uma facada, o que mata o paciente mais rapidamente não é o sangramento, e sim a dificuldade de respirar. Isso acontece se a passagem do ar até os pulmões está comprometida ou se os próprios pulmões ou a membrana que os reveste são afetados.

Imagine uma pessoa que sofreu uma facada nas costas. Praticamente não se vê sangue saindo pela ferida, mas talvez ela esteja correndo risco de morrer em minutos por um pneumotórax, condição na qual o pulmão é esmagado pelo ar que se acumulou nas membranas ao redor dele. Se esse quadro não for tratado, o indivíduo pode morrer sem que tenha havido um sangramento. E esse é apenas um exemplo de lesão grave que não sangra.

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Agora vamos tentar esclarecer algumas coisas sobre os sangramentos intensos e que podem matar. As pessoas pensam naquelas cenas com o sangue jorrando, roupas ensanguentadas e poças de sangue pelo chão. Isso acontece quando vasos sanguíneos muito grossos são rompidos no traumatismo. Contudo, sangramentos que se exteriorizam em grande quantidade geralmente decorrem de ferimentos que atingem o pescoço, a virilha ou a coxa, onde há vasos sanguíneos calibrosos (artérias e veias).

Mas há uma situação em que o paciente sangra muito sem que se exteriorize uma gota de sangue. É chamada hemorragia interna, que acontece quando o trauma atinge um órgão que sangra muito, como o fígado ou o baço, por exemplo, ou rompe um grande vaso sanguíneo dentro do tórax ou do abdômen.

Nessas situações o sangramento é grande, mas acontece dentro do corpo. Os médicos frequentemente precisam operar o tórax ou o abdômen para interromper a hemorragia, que pode ser grave.

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Algo parecido aconteceu com o candidato a presidente Jair Bolsonaro. A facada no abdômen provocou lesões nos intestinos grosso e delgado e em vasos sanguíneos. Traumas assim podem gerar grandes sangramentos internos, que, se não forem controlados a tempo, às vezes levam à morte do paciente.

Dependendo da estrutura acometida, traumas vasculares penetrantes no abdômen podem ser fatais em até 90% dos casos. Chegar ao hospital no menor tempo possível é muito importante, assim como ter na equipe médica um cirurgião vascular para controlar a hemorragia interna.

*Dr. Adenauer Marinho de Oliveira Góes Jr. é coordenador do Departamento Científico de Trauma Vascular da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular

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