Por que é importante fazer exames em caso de suspeita de dengue?
Especialista explica os diferentes testes disponíveis e em que momento eles devem ser realizados

A dengue está longe de ser um desafio novo para a saúde brasileira. No país, a primeira epidemia ocorreu na década de 1980 e desde então, a doença se tornou uma questão de saúde pública, mobilizando governos para campanhas de conscientização e prevenção à doença.
Grande parte da população brasileira sabe que água parada é sinônimo de proliferação do mosquito transmissor. Ainda assim, 2024 teve recordes históricos — 6,5 milhões de possíveis infecções e quase 6 mil óbitos causados pela dengue.
O ano de 2024 também foi marcado pela expansão da circulação do sorotipo 3 do vírus, considerado o com maior potencial de causar formas graves da doença.
Para conter esse avanço, além das medidas amplamente difundidas – como a eliminação de criadouros do Aedes aegypti e o descarte correto de ovos e larvas –, a vacinação da população, especialmente crianças e adolescentes de 10 a 14 anos e idosos, aliada à testagem rápida e precisa são essenciais para o seu controle.
Nesse contexto, a testagem surge como aliada da população e das autoridades, permitindo respostas mais ágeis para o controle e combate da doença.
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Os testes rápidos são importantes ferramentas para o diagnóstico precoce da dengue. Com a informação correta, o profissional de saúde pode indicar o melhor tratamento para o paciente.
Como os sintomas podem ser similares aos de outras doenças febris, a distinção somente com base na avaliação dos primeiros sinais clínicos é difícil. Identificar o mais cedo possível qual o vírus envolvido permite uma tomada de decisão assertiva.
Exames para dengue: quais estão disponíveis hoje?
Hoje, existem diferentes tipos de testes para detectar a dengue e cada um possui um método e período que deve ser realizado.
Os testes de sorologia são amplamente utilizados e baseiam-se na detecção de anticorpos produzidos pelo sistema imunológico em resposta à infecção pelo vírus da dengue. Os anticorpos (IgM e IgG), podem ser detectados no sangue alguns dias após o início dos sintomas, sendo úteis para identificar se o paciente já teve contato com o vírus no passado.
Já o teste de antígeno NS1 tem como alvo uma proteína específica do vírus da dengue, chamada NS1 (antígeno não estrutural 1). Esse teste é particularmente sensível durante os primeiros dias da infecção, quando o vírus está se replicando ativamente no organismo e permite um diagnóstico precoce da dengue.
A proteína NS1 está presente nos 4 sorotipos da doença e o teste deve ser realizado até o 5º dia do início dos sintomas.
Outra opção é o teste de RT-PCR, uma técnica molecular altamente sensível e específica que desempenha um papel crucial na diferenciação dos 4 sorotipos do vírus da dengue. Ao detectar o material genético do vírus no sangue do paciente, o RT-PCR permite não apenas identificar a presença do vírus, mas também determinar qual dos 4 sorotipos está causando a infecção.
Além disso, o RT-PCR é altamente sensível, sendo capaz de detectar o vírus mesmo em estágios iniciais da infecção, em alguns casos antes mesmo do surgimento dos sintomas clínicos.
Ainda, há testes rápidos (imunocromatográfica) tanto para anticorpos IgG e IgM quanto para antígeno NS1. Este tipo de teste pode ser realizado em serviços de saúde, como por exemplo, farmácias e laboratórios que estejam autorizados a realizar testagem.
No entanto, é necessário lembrar que a dengue é uma doença de notificação compulsória no Brasil e todos os testes rápidos são de uso restrito a profissionais de saúde.
Importância da testagem
O uso dos testes NS1, IgM e IgG é essencial para o controle da disseminação da dengue.
Quando utilizados em conjunto, ampliam a sensibilidade e/ou especificidade do diagnóstico clínico de acordo com sua interpretação, sejam realizados em série (primeiro o diagnóstico clínico e depois o teste) ou em paralelo (simultaneamente diagnóstico clínico e teste). A testagem, portanto, contribui não apenas para o tratamento do paciente, mas ainda para controle epidemiológico.
Em 2024, uma pesquisa global encomendada pela Abbott Pandemic Defense Coalition buscou entender as opiniões dos epidemiologistas e especialistas em vigilância de doenças sobre como se preparar para futuras pandemias.
O estudo revelou que as mudanças climáticas estão afetando a forma como humanos, animais e insetos interagem e que vírus transmitidos por mosquitos, como dengue e zika, estão sendo encontrados em novos lugares. Cientistas preveem que 1,3 bilhão de pessoas podem ser impactadas pelo zika vírus até 2050, e que 61% da população mundial pode ser impactada pela dengue até 2080.
Em abril deste ano, o Brasil atingiu a marca de um milhão de casos de dengue. Apesar dos números não serem tão críticos quanto de 2024, o cenário exige atenção e cuidado para controlar a doença e evitar uma nova epidemia no país.
*Oscar Guerra, Diretor Médico da Divisão de Diagnósticos Rápidos da Abbott para a América Latina