O Brasil terminou 2022 com uma triste notícia para a pediatria: no ano passado, o País não atingiu a meta de cobertura vacinal para a maioria dos imunizantes do calendário básico infantil. A imunização contra as doenças pneumocócicas, infelizmente, faz parte dessa estatística, justamente em um momento em que tanto discutimos a importância da proteção contra as doenças respiratórias.
Provocada pela bactéria pneumococo, a doença pneumocócica possui uma gama de apresentações clínicas, entre elas meningite e pneumonia. Estamos falando da causa mais comum de doenças graves nos menores de 5 anos.
A cada 43 segundos, em todo o mundo, perdemos uma criança para a pneumonia, por diferentes etiologias. Muitas dessas mortes, porém, poderiam ser evitadas por meio da adesão adequada à vacinação, representada, por exemplo, pela vacina pneumocócica conjugada.
Esse é um dos desafios que o Brasil precisa enfrentar. Afinal, dados do Programa Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde, indicam que a cobertura vacinal contra as doenças pneumocócicas entre os anos de 2015 e 2021 recuou 23,09%.
Vale destacar, ainda, que o Brasil está entre os 15 países com maior incidência de infecções pela bactéria pneumococo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
O tipo de vacina importa
Elevar as taxas de cobertura vacinal contra as doenças pneumocócicas é essencial, mas o combate a esse problema também depende do espectro de proteção conferido pelas vacinas que podem ser oferecidas.
Para isso, é importante considerar os sorotipos da bactéria pneumococo que mais circulam na população que se pretende proteger.
Dados epidemiológicos do Brasil apontam que, em 2019, mais da metade (52,5%) dos casos de doença pneumocócica invasiva em menores de 5 anos foi provocada pelos sorotipos 3 e 19A do pneumococo: tais sorotipos não estão contemplados na vacina oferecida na rede pública, no esquema básico de vacinação do público infantil.
Atualmente, o PNI oferece a vacina pneumocócica conjugada 10-valente (que protege contra dez importantes sorotipos de pneumococo) para crianças de até 5 anos.
Já a vacina 13-valente, que está disponível para essa faixa etária apenas na rede privada, protege contra três tipos adicionais do pneumococo, entre eles a cepa 19 A – que está associada à resistência a antibióticos usados no tratamento da pneumonia, reduzindo as opções terapêuticas.
Por isso, nesse momento, a sociedade está sendo convidada a discutir a possibilidade de ampliação, também na rede pública, do espectro de proteção conferido pela vacina contra a doença pneumocócica.
A proteção ampliada contra a principal causa de pneumonia bacteriana nas crianças pequenas é o tema de uma consulta pública que está aberta neste momento, até o dia 9 de janeiro, para avaliar a inclusão da vacina 13-valente no calendário regular de vacinação infantil.
Mundo afora, a vacina pneumocócica 13-valente (conjugada) faz parte de mais de 130 programas nacionais de imunização, com exclusividade em 127 países.
Uma consulta pública é uma oportunidade de participar das decisões de saúde do País. Qualquer pessoa (inclusive pais, mães e avós) pode opinar sobre esse assunto. Para isso, é preciso acessar a plataforma Participa Mais Brasil, do governo, que reúne as consultas públicas sobre medicamentos, vacinas ou procedimentos.
Ao acessar o link para opinar sobre a ampliação da vacinação contra as doenças pneumocócicas, o internauta encontrará um formulário online que precisa ser preenchido e enviado.
Exercer esse direito de participação, assim como manter a carteirinha de vacinação das crianças atualizada, é uma forma de ajudar a saúde infantil a respirar mais aliviada.
*Júlia Spinardi é médica, especialista em Infectologia Pediátrica e em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria, com experiência em diversos serviços de Emergência Infantil da capital paulista. É diretora médico-científica para vacinas mRNA para Pfizer Mercados Emergentes