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O que o Brasil deve fazer enquanto a vacina não chega

Médico e gestor em saúde explica os equívocos e os desafios que o país enfrenta para ter uma resposta mais efetiva no combate à pandemia do coronavírus

Por Dr. Claudio Lottenberg, médico*
Atualizado em 17 jul 2020, 17h07 - Publicado em 17 jul 2020, 17h05
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  • Estamos perdendo a batalha para o coronavírus na comunicação e na governança. Desde o dia zero, papéis são confundidos, exemplos, mal dados, e mensagens, passadas de forma equivocada. Não há entendimento sobre a importância do distanciamento, o uso imprescindível de máscaras, as limitações e perigos da cloroquina, a relevância dos testes e assim por diante.

    Não podemos esperar que as pessoas fiquem em casa para sempre e se abstenham do contato social para que governos e sociedades possam vencer a guerra contra a Covid-19. Podemos evitar mais bloqueios mesmo sem a vacina e medicamentos contra a doença. Para tanto, precisamos de comunicação, planejamento, cooperação e compromisso.

    O vírus ainda tem espaço para crescer, mas, com as iniciativas corretas, podemos limitar seus danos. Voltar à normalidade será um processo gradual. Temos que transmitir a mensagem da maneira certa — qualquer ambiguidade afeta a capacidade das pessoas de aderir aos conselhos dos especialistas.

    Pesquisas mostram que conteúdos conflitantes podem causar inclusive prejuízos mentais. Na ausência de informações confiáveis, muita gente ouve o que quer ouvir. Quando há ausência de mensagens consistentes das autoridades, rumores preenchem o vazio.

    E os testes? Precisamos colocar menos ênfase no número de exames realizados em determinada região e focar no mapeamento populacional. Qual a pergunta a ser respondida ao usar testes para propor medidas com o objetivo de conter a propagação da infecção? O indivíduo testado é infectante ou não? Caso seja, deve ser isolado do convívio com pessoas suscetíveis por três semanas. Caso não seja infectante, deve ser liberado para o convívio social.

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    Para responder a essa pergunta, os únicos testes úteis são aqueles que detectam diretamente o vírus, os PCR. São eles que nos permitem separar quem foi ou não infectado e, numa escala massiva, ajudarão a conter a epidemia. Nesse contexto, não importa se o sujeito é ou não sintomático. O ideal seria testar com PCR ambos os grupos para segregar todas as pessoas potencialmente infectantes, e não apenas as que desenvolvem a doença. Mas isso excede nossa capacidade de execução.

    E os testes sorológicos? Para identificar indivíduos imunes, vamos assumir que quem tem IgG (anticorpo que acusa uma infecção mais antiga) está livre de se infectar novamente. Nesse caso, testar IgG maciçamente poderia liberar esses cidadãos para o convívio social. Há ressalvas: esses anticorpos podem não durar ou atuar por muito tempo no organismo.

    Além disso, é bom lembrar que mesmo os melhores testes de diagnóstico produzem resultado falso positivo. Portanto, se uma cidade, estado ou nação fizer muitos testes aleatoriamente, poderá colocar pessoas erradas em quarentena. Em vez de testar às cegas, a prioridade deve ser procurar indivíduos com sintomas o mais rápido possível para que eles entrem, de fato, em isolamento. E é aí que também têm um papel os questionários voltados à autotriagem ou à triagem induzida.

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    Hoje parece não haver quem nos inspire a fazer a coisa certa, como aconteceu no passado com as vítimas do HIV e a distribuição de preservativos e seringas aos grupos de risco. O recomeço das atividades depende de clareza de informação e de políticas corretas. Depende de esclarecimento e bons exemplos. Não podemos ficar parados enquanto a vacina não vem.

    * Dr. Claudio Lottenberg é médico oftalmologista e presidente do Conselho da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein e do Instituto Coalizão Saúde

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