“Meu filho só come macarrão!” Não é raro toparmos com esse relato por aí.
Primeiro, vale fazer uma reflexão. Quem mais em casa adora comer um macarrão? Se a sua resposta for que todos amam uma massa, talvez a preferência da criança esteja relacionada ao contexto no ela está inserida. Comer é um ato aprendido e os hábitos da família influenciam diretamente nesse processo.
Quando uma criança come com muito prazer macarrão, isso não é necessariamente um problema. Porém, se ela só aceita isso, reluta nas horas das refeições e nunca experimenta outros alimentos, talvez isso seja um sinal de alerta.
Uma criança com esse padrão está apresentando seletividade alimentar, que pode ainda pode ser um indicativo de distúrbio alimentar pediátrico (DAP).
Diferença entre seletividade alimentar e distúrbio alimentar pediátrico (DAP)
A criança com seletividade alimentar parece mais “exigente”, mas, no geral, tolera a maioria dos grupos alimentares que incluem os carboidratos, as frutas, verduras e legumes e proteínas tanto de origem animal como vegetal.
Por exemplo, ela não come todos os tipos de proteína animal, mas aceita pelo menos um tipo, o frango.
Já uma criança com DAP frequentemente não tem a ingestão oral adequada para a idade e isso pode estar associado a alguma disfunção médica, nutricional, inabilidade alimentar e/ou psicossocial. Ela tende a não aceitar alimentos de todos os grupos e pode chegar a desprezar um ou mais grupos inteiros, independentemente da forma de preparo.
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Atenção à habilidade de mastigar
Além da seletividade alimentar, muitos outros fatores podem estar por trás da aparente “preferência” da criança pelo macarrão. Você já parou para pensar que o macarrão tem uma textura amolecida, não exige muito esforço mastigatório e a criança consegue engolir rapidamente?
Quando a criança só come alimentos muito moles, pode não estar com a habilidade mastigatória adequada para a idade e, talvez, precise de uma intervenção fonoaudiológica específica para desenvolver melhor esta capacidade.
Além disso, a facilidade da ingestão faz com que ela coma um volume maior, além do que deveria, e seu corpo tende a não regular muito bem a relação entre fome e saciedade. A longo prazo, o hábito pode contribuir para o sobrepeso ou até para a obesidade.
Não rotule o que seu filho come!
Quando nos deparamos com uma criança seletiva, tendemos a rotulá-la, dizendo em voz alta coisas como; “ah, ela só gosta disso”. Tente evitar destacar a dificuldade, porque isso somente sustentará a preferência dela.
Lembre-se de que, quando ele diz que não gosta de algo, isso não significa que nunca irá gostar. Os hábitos alimentares tendem a mudar com o tempo e com os estímulos corretos.
Portanto, crie oportunidades para que seu filho tenha contato com algo relativamente novo, mas dentro da sua zona de conforto. Por exemplo: se a criança só come macarrão do tipo penne, tente ampliar os formatos primeiro, antes de tentar oferecer um macarrão com legumes.
Pense em ir ampliando e diversificando aos poucos. Se perceber que ele está com muita dificuldade e você não está conseguindo mudar esse padrão, talvez seja o momento de procurar ajuda especializada.
*Carla Deliberato, fonoaudióloga especialista em motricidade oral com enfoque em alimentação