Havia uma curva no meio do caminho, que não era para estar lá, especificamente na coluna vertebral. Essa é uma das principais características de quem é acometido pela escoliose idiopática, uma alteração na coluna que a deixa em formato de “S”.
No Brasil, 6 milhões de pessoas convivem com essa doença, prevalente principalmente em adolescentes do sexo feminino – devido ao estirão do crescimento, é nessa etapa da vida em que a condição costuma ser diagnosticada.
Existem tipos distintos da doença, como a escoliose congênita, causada por formação óssea anormal; as escolioses decorrentes de distúrbios neuromusculares, como a distrofia muscular; e a paralisia cerebral.
Porém, a mais comum é a deformidade idiopática. Sem causas definidas, essa doença pode ser identificada pelo desvio aparente na coluna e também por outros sintomas, como desalinhamento dos ombros, diferenças entre os lados na cintura e nos quadris, além de queixas de desconforto. Sem falar na autopercepção, que é o jeito que o paciente observa seu próprio corpo.
Mas nem sempre a curvatura da coluna ou demais sintomas da enfermidade são perceptíveis, o que retarda a procura por ajuda médica.
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Como médicos, temos urgência em ampliar o diagnóstico precoce dessa doença, justamente porque quanto antes seguirmos com o tratamento, maiores as chances de reversão do quadro.
Por isso, instituir políticas públicas de busca ativa da doença na fase escolar é fundamental para que a escoliose seja identificada e tratada.
A função da coluna vertebral
A coluna vertebral pode ser definida como um conjunto de ossos articulados que formam o eixo de sustentação do corpo. Mais do que proteger a medula espinhal, uma porção do sistema nervoso central, a coluna possibilita a agilidade, o movimento dos membros e a manutenção da postura ereta; protege órgãos internos; e ajuda na absorção e dissipação de choques mecânicos e pressão gravitacional.
Com tantas funcionalidades, é possível compreender o que uma deformidade em tal estrutura pode significar a longo prazo para a saúde do paciente.
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A escoliose idiopática ainda afeta a qualidade de vida e autoestima. Infelizmente, adolescentes sofrem bullying devido à doença, uma situação inadmissível.
Tem solução
Um grande alento para os pacientes e seus familiares é que a escoliose pode ser tratada.
Dependendo das particularidades de cada caso, recomenda-se exercícios supervisionados por um fisioterapeuta, o uso de um colete ortopédico ou ainda a cirurgia, a artrodese da coluna.
O procedimento cirúrgico realinha e promove a fusão das vértebras, e é indicado quando o paciente apresenta curvas de 45 graus ou mais.
Apesar de o SUS (Sistema Única de Saúde) oferecer esse tipo de apoio aos pacientes, há uma fila de espera para quem necessita de procedimento cirúrgico.
Daí a ideia de criar o projeto Mude a Curva, um movimento filantrópico, conduzido pelo Brazilian Spine Study Group (BSSG). Trata-se de uma organização sem fins lucrativos fundada por seis cirurgiões de coluna cujo objetivo é operar pacientes regulados pelo SUS com deformidades vertebrais via mutirões.
Para tentarmos reverter o cenário da escoliose idiopática, precisamos falar sobre a doença e os desafios enfrentados pelos pacientes – e, claro, agir.
Só assim conseguiremos conscientizar e empoderar a população para tentarmos proporcionar mais finais felizes para quem sofre com esse problema.
*Carlos Romeiro é cirurgião de coluna e integrante do Mude a Curva, projeto que reúne médicos voluntários e realiza cirurgias pelo país para desafogar o sistema público de saúde