Adquirir um remédio na farmácia é algo relativamente simples, mas por trás daquele comprimido existe um complexo processo de pesquisa e desenvolvimento que pode durar décadas e custar bilhões de dólares.
Existem duas grandes vias para a criação de um novo medicamento: uma baseada em substâncias já conhecidas e outra que parte da doença.
A primeira via, a mais tradicional, envolve explorar o efeito conhecido de uma substância. Um exemplo é o veneno da jararaca.
Percebeu-se que, ao atacar uma presa, essa serpente injetava seu veneno, causando uma grande queda de pressão que deixava a vítima inconsciente. Os indígenas inclusive usavam esse veneno na ponta de suas flechas para simular esse mesmo efeito.
Resultado: o estudo das moléculas presentes no veneno deu origem ao captopril, um medicamento para controle da pressão arterial.
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A segunda via emprega tecnologias avançadas, como a engenharia genética e a inteligência artificial, para, por exemplo, identificar e alterar sequências de DNA que causam doenças ou detectar moléculas com potencial de atuação em alvos específicos.
Ambas as vias seguem o mesmo processo de testes, que é dividido em três fases.
A primeira é o teste in vitro, em laboratórios, onde os medicamentos são testados em células e ambientes controlados.
De 10 mil remédios testados in vitro, 250 avançam para a fase seguinte, ou seja, os testes pré-clínicos ou em animais.
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Apesar dos avanços para reduzir o uso de animais em pesquisas, a necessidade de sua participação ainda persiste em certa medida – para garantir, principalmente, a segurança dos medicamentos antes de avaliá-los nas pessoas.
Das 250 substâncias testadas nessa fase, apenas cinco avançam para a fase final de análise, que é realizada em seres humanos.
Essa etapa final é a mais criteriosa e cara. Afinal, trata-se do passo anterior ao lançamento do medicamento.
As farmacêuticas devem inclusive monitorar os pacientes pelos próximos anos para identificar possíveis efeitos a longo prazo.
A trajetória de um medicamento, desde sua identificação até o lançamento, é custosa e leva entre 10 a 15 anos.
Assim, a farmacêutica responsável pela descoberta usualmente estabelece preços mais altos e tem exclusividade na venda. Sem isso, não seria possível investir na descoberta dos próximos remédios.
Após alguns anos, outros produtores podem fabricar o medicamento, o que leva a uma redução em seu preço.
No Brasil, estruturas que auxiliam os pesquisadores nesse processo estão surgindo e, em breve, veremos mais medicamentos derivados da rica biodiversidade brasileira sendo testados e trazendo mais saúde para a população global.
*Carlos Zago, CEO da MKM Biotech, empresa de investimentos em venture sciences e biotecnologia, dedicada auxiliar negócios que promovam a saúde.