As crianças com doenças reumáticas imunomediadas (DRIM) apresentam um risco aumentado para infecções tanto pela disfunção do seu sistema imunológico quanto pelo tratamento imunossupressor a que são submetidas.
As infecções, inclusive, são importantes causas de morbidade e mortalidade nesses pacientes, e a vacinação é o método mais seguro para preveni-las.
Não custa lembrar a Covid-19 é justamente uma doença infecciosa, provocada pelo vírus Sars-CoV-2, o coronavírus.
No geral, taxa de vacinação preocupa
Os índices de cobertura vacinal caíram no Brasil: os números apontam uma queda de 8 a 15 pontos percentuais em relação a algumas vacinas.
Acredita-se que isso esteja associado à pandemia, já que muitos pais optaram por não levar as crianças às unidades básicas de saúde.
Outro fator que pode ter influenciado nessa realidade foi o crescimento expressivo do movimento anti-vacina no país.
Além disso, ainda existem dúvidas das famílias quanto à efetividade dos imunizantes, ao risco no desenvolvimento da doença e aos possíveis efeitos colaterais.
É claro que a resposta imune de um paciente imunossuprimido à vacina acaba sendo menor, mas, ainda assim, ela é melhor do que não receber a dose.
As vacinas e o tratamento
O ideal é que, ao se planejar um tratamento imunossupressor para as crianças com doenças reumáticas imunomediadas, seja checado seu esquema vacinal.
Atualmente, é consenso que os imunizantes feitos com vírus inativado/morto devem ser aplicados nesses pacientes, mesmo durante o uso do imunossupressor. Alguns exemplos de vacinas assim: influenza, haemophilus influenzae B, hepatite B, meningocóccicas (meningo C e ACWY), pneumocóccica, HPV e tétano.
Por outro lado, vacinas com vírus vivo atenuado – como BCG, rotavírus, polio oral (VOP), febre amarela, tríplice viral e dengue – estão contraindicadas na vigência de imunossupressão grave.
Em relação à Covid-19, o fato de a doença ter se apresentado de uma forma menos intensa nas crianças inicialmente – quando comparada aos adultos – fez com que se subestimasse a sua gravidade nessa faixa etária.
Mas as taxas de mortalidade entre os pequenos são muito maiores (de 5 a 10 vezes) no Brasil em relação aos índices observados em países da Europa e nos Estados Unidos.
Vale ressaltar também que as crianças podem desenvolver a síndrome inflamatória multissistêmica, uma manifestação tardia da infecção pelo Sars-CoV-2. Esse quadro pode levar à mortalidade, além de causar sequelas associadas a quadros cardiovasculares e neurológicos.
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Dito isso, a diretriz estabelecida pela Sociedade Brasileira de Reumatologia para a vacinação contra a Covid-19 orienta que crianças e adolescentes com DRIM devem receber a dose, pois o benefício sobrepõe-se ao risco de efeitos adversos.
É claro que, devido à própria doença e também ao tipo de imunossupressor utilizado pelo paciente, a resposta será variável e, por isso, o momento da vacinação deve ser individualizado e direcionado pelo médico, levando em consideração o quadro clínico e o tratamento.
E, reforçando, não é só Covid-19: a orientação é manter a carteirinha de vacinas das crianças atualizada, especialmente das que possuem alguma doença reumática. A prevenção é sempre o melhor caminho.
*Maria Carolina dos Santos é reumatologista pediátrica responsável pelo serviço de Reumatologia pediátrica da Santa Casa de São Paulo e membro da Comissão Científica da Sociedade Paulista de Reumatologia.