Conheça a inflexibilidade metabólica, que pode atrapalhar emagrecimento
Flutuações de peso típicas do efeito sanfona podem acabar levando a uma dificuldade para eliminar os quilos extras

Quando se fala em obesidade, logo vêm à mente fatores como dieta desbalanceada, sedentarismo e genética. No entanto, existe um problema silencioso e que pode dificultar todo o tratamento: a inflexibilidade metabólica.
Ela é descrita como a incapacidade do organismo de alternar eficientemente entre fontes de energia (gordura e carboidrato) de acordo com a demanda do corpo. Esse mecanismo, que deveria funcionar como uma engrenagem bem lubrificada, torna-se emperrado, prejudicando o equilíbrio energético e favorecendo o acúmulo de gordura corporal.
O reganho de peso está envolvido nesse problema. Quanto mais flutuações de peso, mais inflexibilidade metabólica o paciente tem e isso vai tornando mais difícil o processo de emagrecimento com o passar do tempo.
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Em condições normais, o corpo humano utiliza predominantemente carboidratos como fonte de energia durante atividades de alta intensidade ou logo após as refeições, enquanto nas fases de jejum ou baixa intensidade, passa a usar gordura.
No entanto, em pessoas com obesidade, síndrome metabólica ou diabetes tipo 2, esse sistema perde eficiência.
Além do reganho de peso, o sedentarismo é outro vilão, porque o músculo é o principal órgão da flexibilidade metabólica. Ele é o maior reservatório de glicogênio do corpo e um dos principais responsáveis pela oxidação de ácidos graxos.
Quando estamos ativos, o músculo alterna entre usar glicose (em exercícios intensos) e gordura (em atividades leves ou prolongadas), treinando constantemente a troca de combustíveis. O sedentarismo ‘desliga’ esse sistema.
Sintomas da inflexibilidade metabólica
Eles se manifestam indiretamente:
- Dificuldade para perder peso mesmo com dieta e exercício
- Fadiga constante
- Necessidade frequente de comer para manter energia
- Baixa saciedade após refeições ricas em gordura
- Tendência a ganhar peso rapidamente
Pacientes metabolicamente inflexíveis apresentam menor queima de gordura, mesmo em situações de jejum, e um metabolismo que permanece fixo em padrões menos eficientes.
Do ponto de vista terapêutico, além do déficit calórico, estratégias como o aumento de atividade física de baixa e moderada intensidade (que privilegia a oxidação de gordura), treinamento de força, melhora da qualidade alimentar, controle do estresse e intervenções para melhorar a sensibilidade à insulina podem ajudar a restaurar a flexibilidade metabólica.
O tratamento com a nova geração de medicamentos para obesidade, como a semaglutida (um agonista de GLP-1) e a tirzepatida (agonista duplo de GLP-1 e GIP), atua melhorando a secreção de insulina, reduzindo a secreção de glucagon e, principalmente, melhorando a sensibilidade à insulina. Isso já ataca uma das bases da inflexibilidade.
Mas essas estratégias precisam estar associadas a mudanças no estilo de vida. É preciso reeducar um metabolismo que, por anos, funcionou em modo desajustado.
*Deborah Beranger, endocrinologista, com pós-graduação em Endocrinologia e Metabologia pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro (SCMRJ) e pós-graduação em Terapia Intensiva na Faculdade Redentor/AMIB