Como reduzir os riscos da hipertensão arterial na gestação?
Diagnóstico precoce e tratamento adequado são capazes de prevenir complicações graves como a pré-eclâmpsia

A gravidez é um período de transformações intensas no corpo da mulher. Em meio a tantas mudanças, existe um fator que merece atenção especial: a pressão arterial.
Normalmente, há uma queda da pressão arterial durante a gravidez e isto é uma resposta fisiológica do corpo. Porém, existem situações em que o aumento da pressão configura hipertensão, também conhecida como pré-eclâmpsia.
Quando falamos sobre o assunto, não estamos apenas discutindo números em um aparelho de pressão, mas sim sobre a saúde e o bem-estar de duas vidas que caminham juntas nessa jornada: mãe e bebê.
Por que devemos nos preocupar?
A hipertensão durante a gravidez afeta cerca de 10% das gestantes brasileiras e pode se manifestar de diferentes formas.
Algumas mulheres já possuem pressão alta antes de engravidar, enquanto outras desenvolvem o problema durante a gestação, especialmente após a 20ª semana, caracterizando a pré-eclâmpsia.
Quando não tratada adequadamente, a hipertensão gestacional pode provocar complicações sérias para o binômio mãe e bebê. Para a mãe, existe risco aumentado de acidente vascular cerebral, descolamento prematuro da placenta, problemas renais e, em casos extremos, morte materna.
Já para o bebê, os riscos envolvem restrição de crescimento, nascimento prematuro e, em casos graves, até mesmo o óbito. Por isso, o diagnóstico precoce é muito importante.
Como é feito o diagnóstico
Uma das maiores conquistas da medicina obstétrica moderna é a possibilidade de identificar, já no primeiro trimestre da gravidez, quais gestantes têm maior probabilidade de desenvolver hipertensão. Assim, não precisamos esperar que os sintomas apareçam para agir.
Podemos identificar fatores de risco e prescrever medicação para diminuir a probabilidade de ocorrência da doença.
Esse avanço se deve, principalmente, à combinação de:
- Histórico médico detalhado (casos anteriores de hipertensão, histórico familiar);
- Exame físico completo;
- Medição da pressão arterial em diferentes condições;
- Avaliação do fluxo sanguíneo das artérias uterinas por meio do ultrassom;
- Análise de biomarcadores no sangue materno.
Uma das ferramentas mais promissoras na medicina gestacional atual são os biomarcadores – substâncias presentes no sangue materno que podem indicar o risco de desenvolvimento de hipertensão e pré-eclâmpsia.
Entre os principais biomarcadores utilizados estão: fator de crescimento placentário (PlGF), proteína plasmática A associada à gravidez (PAPP-A) e tirosina quinase-1 semelhante à fms solúvel (sFlt-1).
A análise desses marcadores, combinada com outros dados clínicos, permite criar um perfil de risco individualizado para cada gestante. Com os biomarcadores, conseguimos ter uma visão mais clara do que está acontecendo na placenta, mesmo antes da deterioração de um órgão da gestante.
É como ter uma janela para o futuro da gestação complicada pela pré-eclâmpsia e isto facilita a decisão em qual caso devemos ter mais atenção.
+Leia também: Pré-eclâmpsia: exame aumenta chances de prever o problema na gestação
Pré-natal de excelência: a melhor forma de prevenir complicações
O grande valor do diagnóstico precoce está na possibilidade de prevenir ou minimizar os efeitos da hipertensão gestacional, que é a função do pré-natal.
Muito se discute em obstetrícia sobre assistência ao parto, sendo que o mais importante de toda a medicina obstétrica é a atividade de pré-natal.
Quando identificamos uma gestante com alto risco podemos iniciar o uso preventivo de aspirina em baixa dosagem (quando indicado), aumentar a frequência do acompanhamento pré-natal e realizar monitoramento mais rigoroso do desenvolvimento fetal.
Também podemos implementar mudanças no estilo de vida, incluindo alimentação balanceada e atividade física adequada, além de preparar a equipe médica para possíveis intervenções.
Entretanto, é após a 20ª semana que os desafios da hipertensão gestacional geralmente se intensificam. É nesse momento que o pré-natal se torna mais importante e a frequência de consultas aumenta.
Não existe nada mais importante do que uma boa anamnese, que é pergunta ativa sobre sinais e sintomas específicos da doença, além de medir a pressão arterial em todas as consultas.
Sinais de alerta que não podem ser ignorados
Veja alguns sintomas de hipertensão na gravidez:
- Dor de cabeça persistente que não melhora com analgésicos comuns;
- Inchaço repentino e acentuado, especialmente no rosto e mãos;
- Alterações na visão (pontos luminosos, visão embaçada);
- Dor na parte superior do abdômen, principalmente do lado direito;
- Náuseas e vômitos intensos após a 20ª semana;
- Ganho de peso súbito (mais de 1kg em um dia).
Qualquer um desses sintomas deve ser comunicado imediatamente à equipe médica que acompanha a gestante.
O acompanhamento da hipertensão na gravidez é uma responsabilidade compartilhada entre a equipe de saúde e a gestante. Gestantes bem-informadas são parceiras fundamentais no processo de cuidado.
Uma gestante que entende os riscos e a importância do monitoramento regular da pressão arterial se torna protagonista do seu cuidado, pois é ela quem sabe identificar sinais de alerta e buscar ajuda no momento certo.
Conclusão
Os avanços no diagnóstico precoce e no uso de biomarcadores transformaram radicalmente nossa capacidade de cuidar de gestantes com hipertensão ou risco de desenvolvê-la.
A relação entre diferentes marcadores (como o sFlt-1/PlGF) pode indicar com precisão quais gestantes realmente desenvolveram pré-eclâmpsia e quais estão em risco iminente de complicações.
Anteriormente, muitas vezes, precisávamos antecipar partos por suspeita de pré-eclâmpsia grave. Hoje, com esses biomarcadores, conseguimos distinguir melhor os casos que realmente necessitam de intervenção imediata daqueles que podem continuar com monitoramento intensivo, diminuindo o impacto do nascimento prematuro para os filhos destas mães com doença hipertensiva na gravidez.
Se você está grávida ou planeja engravidar, converse com seu médico sobre avaliação de risco para hipertensão gestacional já nas primeiras consultas. Esse pode ser o primeiro passo para uma gravidez mais segura e tranquila. Lembre-se: pressão controlada, gravidez protegida!
Eduardo Cordioli é diretor Técnico de Obstetrícia do Grupo Santa Joana