Na última semana, de 7 a 10 de dezembro de 2022, participei da 7ª Edição do Birth – Congresso Mundial de Medicina Obstétrica, em Milão, na Itália. Esse evento reúne os maiores especialistas em obstetrícia focada em assistência ao parto.
Um dos temas centrais discutido no evento foi o diagnóstico correto de quando a paciente está em trabalho de parto efetivo – ou seja, significa que o bebê vai nascer nas próximas horas.
O assunto é de extrema relevância porque a internação de pacientes fora do trabalho de parto aumentou (e muito!). A hospitalização está acontecendo ainda em uma fase inicial – isso em todos os lugares do mundo, incluindo o Brasil.
O problema é que se a gestante é internada distante do período ideal, sobem as taxas de intervenções desnecessárias, como a indução do parto e até uma cesariana.
Isso acontece não apenas entre as pacientes que estão com 37 a 41 semanas de gestação, mas também entre aquelas com suspeita de trabalho de parto prematuro. Ao internar essas pacientes sem confirmação, também há uso de medicações que inibem contrações, e que podem ter efeitos colaterais. Sem falar no aumento de gastos desnecessários.
E o contrário também pode acontecer. Ou seja: achar que o trabalho de parto está em fase inicial e mandar para casa pacientes que poderiam ser internadas. Isso pode gerar muito desconforto para a mulher, que acaba se deslocando repetidas vezes até o local onde dará à luz. Em alguns casos, há o risco de o bebê nascer fora do hospital.
É importante, portanto, ter ferramentas para apoiar o corpo assistencial das maternidades para que seja feito o correto diagnóstico da fase ativa versus latente do trabalho de parto. Assim, a paciente pode ser internada na hora exata.
Entre as ferramentas discutidas no Congresso estão: o ultrassom de colo do útero, sendo que uma medida menor que 1 centímetro seria indicativo para a internação das pacientes; o uso de biomarcadores que podem ser detectados na secreção vaginal; e, mais atualmente, as técnicas de medicina biomolecular, que usam uma amostra de sangue materno.
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Outro tema importante abordado foi o uso de ferramentas para empoderar ainda mais o obstetra para que consiga ter mais informações durante o trabalho de parto e, assim, possibilite uma conduta mais assertiva e preditiva. Em resumo, a ideia é que ele atue antes de um problema acontecer.
Nesse âmbito, o evento discutiu a sistematização do uso da ultrassonografia durante o trabalho de parto para, assim, diminuir o desconforto do exame físico na assistência ao parto e também deixar a avaliação da descida, da posição do bebê e até a predição de nascimento fácil ou difícil mais acurada.
Nesse sentido, a medição do ácido lático no líquido amniótico durante o trabalho de parto foi demonstrada como sendo uma ferramenta interessante para predizer, por exemplo, um parto que terá distocia – isto é, dificuldade.
Já na assistência ao momento do nascimento em si, nos casos em que há dificuldade para acontecer a expulsão final do feto, o destaque vai para o instrumento Odon. Trata-se de uma nova tecnologia que funciona como um fórceps, mas mais moderno e menos traumático para a mãe e o bebê.
*Eduardo Cordioli é obstetra e diretor técnico de Obstetrícia do Grupo Santa Joana