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Cateterismo, angioplastia, ponte de safena: o que eles fazem pelo coração?

Médico explica as diferenças entre os procedimentos usados para apurar e resolver problemas de entupimento nas artérias do coração

Por Edmo Atique Gabriel, cardiologista e cirurgião cardíaco*
22 jun 2021, 10h31

O tratamento das doenças cardiovasculares segue cada vez mais os rumos da biotecnologia, englobando novos dispositivos, biologia celular e engenharia de tecidos. Várias eras já foram vivenciadas desde que algumas medidas terapêuticas fossem aprimoradas e pavimentadas e o senso de impotência diante da gravidade de certas condições acabasse superado.

Façamos um recuo na história. Pouco se pensava na década de 1950 sobre tratamentos invasivos para as doenças do coração. Até que alguns médicos e cientistas de escola decidiram investigar com mais propriedade formas de “invadir” o aparelho circulatório. Isso incluía desde cirurgias com abertura do tórax até procedimentos como o cateterismo — que, por meio de um instrumento, consegue chegar até as artérias do coração.

Um dos episódios que modificou a história da cardiologia foi o advento da circulação extracorpórea. Imaginar que um conjunto de tubos, conexões e bombas pudesse substituir, de forma artificial e temporária durante uma operação, órgãos vitais como o coração e os pulmões parecia surreal. Mas felizmente aconteceu, num início de percalços e com a consolidação a partir da década de 1970.

Foi aí que o mundo passou a testemunhar mais cirurgias cardíacas, sendo possível paralisar o coração e os pulmões do paciente, mantendo a pessoa viva por horas, até que a equipe conseguisse reparar problemas estruturais. Nos anais da cardiologia, alguns fatos merecem digna menção e reconhecimento:

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  • A primeira cirurgia cardíaca com suporte da circulação extracorpórea foi realizada por John Gibbon em 1953;
  • O primeiro cateterismo cardíaco foi feito por Mason Sones no início da década de 1960;
  • A primeira cirurgia cardíaca para implante de pontes de safena foi feita no final dos anos 1960 pelo cirurgião argentino Rene Favaloro.

Desde então, tivemos uma progressão acelerada no desenvolvimento e na incorporação de tecnologias, culminando em técnicas sofisticadas como cirurgia por vídeo e robótica e manipulação de células-tronco e tecidos.

Apesar de tantos avanços, pairam dúvidas práticas e conceituais sobre alguns procedimentos frequentemente empregados na rotina dos serviços de cardiologia. Me refiro a estratégias como cateterismo, angioplastia e cirurgia de ponte de safena. Você sabe o que são e quais suas indicações?

O cateterismo

Ele consiste na inserção de um cateter dentro de uma veia ou artéria periférica sob a orientação de equipamentos de imagem. O cateter é direcionado até o interior do coração ou de algum vaso adjacente ao músculo cardíaco.

O cateterismo cardíaco visa primariamente estudar e avaliar estruturas nessa região e orientar o médico acerca de um provável diagnóstico, como o entupimento de uma artéria ou a existência de uma doença congênita no coração.

Quando o propósito é estudar especificamente o lado direito do coração, o cateter é inserido na veia femoral, localizada na virilha, e direcionado até as cavidades direitas do órgão, podendo ser conduzido também até o interior dos pulmões.

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Quando a programação é estudar o lado esquerdo do coração, bem como as artérias coronárias, aquelas que irrigam o músculo cardíaco, o cateter é introduzido na artéria femoral, também situada na virilha, e direcionado para as cavidades esquerdas ou o interior das artérias coronárias. Feito o diagnóstico da anormalidade, a equipe médica pode planejar o tratamento.

A angioplastia

Quando uma pessoa apresenta um infarto, a realização de um cateterismo é determinante para identificar qual ou quais artérias coronárias estão obstruídas. Além disso, por meio do mesmo procedimento, o cardiologista especializado em procedimentos intervencionistas consegue dilatar a artéria entupida e, se necessário, implantar uma malha metálica (o stent) ali dentro para sustentar de forma duradoura a reabertura da artéria.

Essa técnica de dilatar uma artéria coronária entupida e, se preciso, instalar um stent por meio de um cateterismo é conhecida como angioplastia coronária. Umas das principais discussões na cardiologia é quando indicar angioplastia e quando indicar uma cirurgia de ponte de safena para o tratamento de um infarto. O debate sobre prós e contras envolve especialmente grupos de maior risco para uma intervenção de grande porte e indivíduos com obstruções múltiplas e mais complexas.

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A ponte de safena

O conceito desse tipo de cirurgia é extremamente amplo: ele se refere a um procedimento para derivar o fluxo sanguíneo de um território vascular obstruído para outro mais sadio e com melhor fluxo. A técnica também é conhecida como bypass ou cirurgia de derivação.

O termo “safena” vem de uma veia de longo comprimento que se estende da virilha ao tornozelo em ambos os membros inferiores. Ela é um conduto vascular longo, que pode ser dividido em vários segmentos de acordo com a necessidade da cirurgia. É por isso que costumamos ouvir que uma pessoa foi operada e recebeu certo número de pontes de safena para o tratamento de entupimentos nas artérias do coração.

A mesma lógica se aplica à cirurgia de ponte de mamária, agora se referindo a uma artéria que passa pelo tórax na parte posterior às mamas. Existem dois vasos do tipo (o direito e o esquerdo) e o cirurgião pode intervir ali para implantar uma ou duas pontes de mamária no coração.

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A técnica cirúrgica que envolve as pontes de safena e mamária é a revascularização do miocárdio. Como o nome indica, trata-se de um procedimento para retomar o fluxo sanguíneo no músculo cardíaco em áreas de obstrução crítica.

Em 2018, uma revisão de estudos publicada na renomada revista médica The Lancet analisou a angioplastia versus a cirurgia em pacientes cardíacos. O trabalho demonstrou, num seguimento de cinco anos, que as taxas de morbidade e mortalidade cardiovascular foram superiores nas pessoas submetidas à angioplastia, especialmente entre pacientes diabéticos e naqueles acometidos de mais entupimentos nas artérias.

Esse importante estudo deixou um legado de aprendizados e motivações na cardiologia, entre eles a necessidade de aperfeiçoamento dos stents, insumos e equipamentos e a criação de um time de especialistas (cardiologista intervencionista, clínico e cirurgião) que, juntos, podem analisar e propor os melhores cenários caso a caso.

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O ponto é que, em comum, o cateterismo, a angioplastia e a cirurgia são indispensáveis para o tratamento das doenças cardiovasculares. Considerando que vivemos num mundo repleto de fatores de risco para o coração, saber reconhecer o significado e o papel desses procedimentos e contar com uma equipe médica qualificada para indicá-los e realizá-los faz muita diferença para termos uma vida mais longeva e produtiva.

* Edmo Atique Gabriel é cardiologista e cirurgião cardíaco, professor universitário e palestrante

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