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AVC: um desafio global e urgente para o futuro da saúde

Presidente da World Stroke Organization compartilha as questões mais urgentes sobre o manejo dos derrames cerebrais

Por Sheila Ouriques Martins, neurologista*
29 out 2024, 15h00
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  • Uma das principais causas de morte e incapacidade em todo o mundo, o acidente vascular cerebral (AVC) poderá causar quase 10 milhões de mortes anualmente até 2050, principalmente em países de baixa e média renda.

    Do ponto de vista econômico, os gastos com tratamento, reabilitação e custos indiretos podem chegar a US$ 2,3 bilhões em 2050. As projeções são de estudo da comissão da revista científica Lancet Neurology em parceria com a World Stroke Organization (WSO), publicado em outubro de 2023.

    No Brasil, só neste ano, o AVC foi a causa do óbito de 39.345 brasileiros de janeiro a 20 de agosto, segundo os últimos dados do Portal de Transparência do Registro Civil, mantido pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen Brasil). O número equivale a seis óbitos por hora.

    Esses números não são apenas estatísticas; eles representam vidas, famílias desestruturadas e comunidades afetadas.

    +Leia tambémSobreviver ao AVC é só o começo: saiba a importância da reabilitação

    A gravidade das projeções nos obriga a refletir sobre a urgência de ações efetivas em prevenção, afinal 90% dos casos de AVC podem ser evitados se os fatores de risco modificáveis (como hipertensão, diabete, colesterol elevado, inatividade física, obesidade, tabagismo, estresse, entre outros) forem controlados.

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    Diante disso, a educação em saúde deve ser o nosso principal foco, especialmente em populações vulneráveis. Além disso, as estratégias de prevenção devem ser integradas à atenção primária, que é a porta de entrada para o sistema de saúde.

    Investir em triagens regulares e em programas de conscientização pode reduzir drasticamente a incidência dessa condição devastadora. Se tratarmos adequadamente a hipertensão (pressão alta), uma doença silenciosa que em apenas 20% dos pacientes está controlada, podemos reduzir pela metade do risco de AVC.

    Enquanto isso, os avanços nos tratamentos também trazem esperança.

    O AVC isquêmico é o tipo mais comum da doença e corresponde a 80% dos casos. Em novembro do ano passado, o Ministério da Saúde publicou a portaria GM/MS Nº 1.996, que inclui na Tabela de Procedimentos do Sistema Único de Saúde (SUS) a trombectomia mecânica para o tratamento de AVC isquêmico agudo grave.

    O tratamento foi incorporado no SUS a partir dos resultados de um ensaio clínico randomizado (RCT) – Estudo RESILIENT – o qual liderei junto com o Dr. Raul Nogueira, da Universidade de Pittsburg, patrocinado pelo Ministério da Saúde a partir do PROADI SUS do Hospital Moinhos de Vento.

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    Mais recentemente, em março deste ano, foram apresentados os resultados do estudo RESILIENT-Extend, constatando que a trombectomia mecânica é mais eficaz do que a terapia médica isolada para tratar AVC isquêmico até mesmo em hospitais com recursos limitados. Isso significa o aumento do acesso global ao tratamento.

    Mas ainda assim, não podemos esquecer que novos tratamentos não substituem a necessidade urgente de prevenção. É um equívoco acreditar que podemos tratar o AVC sem abordar suas causas. As duas frentes – prevenção e tratamento – devem caminhar lado a lado para que possamos realmente fazer a diferença na luta contra o AVC.

    O futuro da saúde no Brasil e no mundo depende da ação coletiva. Por isso, vamos juntos lutar por um amanhã onde o AVC não seja uma sentença de morte, mas uma condição que pode ser manejada e evitada com eficácia.

    *Sheila Ouriques Martins é médica neurologista, pesquisadora e presidente da Rede Brasil AVC e da World Stroke Organization

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