Outubro Rosa: Revista em casa por 9,90
Imagem Blog

Com a Palavra

Por Blog Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Neste espaço exclusivo, especialistas, professores e ativistas dão sua visão sobre questões cruciais no universo da saúde
Continua após publicidade

Ameaças ao coração vão além do coronavírus durante a pandemia

Taxa de interrupção do tratamento de problemas cardiovasculares é alta e gera riscos graves em meio à pandemia de Covid-19, alerta especialista

Por Dr. Jairo Lins Borges, cardiologista*
Atualizado em 15 jul 2020, 14h14 - Publicado em 27 jun 2020, 11h14
coronavirus causa problemas de coração
Interromper por conta própria o tratamento de pressão ou colesterol alto aumenta o risco de infarto e outras complicações. (Ilustração: Marcus Penna/SAÚDE é Vital)
Continua após publicidade

Mês a mês, desde que se iniciou a pandemia pelo novo coronavírus, observamos o aumento do número de pessoas em busca de prontos-socorros e ambulatórios com sintomas da Covid-19. Por outro lado, com o distanciamento social, caiu significativamente a frequência de consultas médicas por outras condições clínicas, como as doenças cardiovasculares.

Apesar de pacientes com doenças cardiovasculares serem parte do grupo de maior risco para Covid-19 e suas potenciais complicações, em abril, nos Estados Unidos, houve queda de pelo menos 50% no atendimento de pessoas com esses problemas. Em apenas uma semana, estima-se que houve na cidade de Nova York um aumento substancial do número de óbitos na própria residência devido a complicações primariamente cardíacas.

Já no Brasil, a redução de atendimentos desde o início do isolamento parece ter ficado entre 40 e 50% no mês de maio, de acordo com pesquisa da Rede Brasil AVC. Ao que tudo indica, há dois cenários que contribuem para isso: o medo de sair de casa e contrair o vírus e o altruísmo dos que entendem a atual sobrecarga do sistema de saúde e preferem não acionar esses serviços, como forma de priorizar a atenção médica aos infectados pela Covid-19.

Entretanto, as doenças cardiovasculares se configuram como a causa principal de morte na população em nosso meio, e precisam de tratamento contínuo e específico, que não pode ser abandonado devido a circunstâncias externas. Por exemplo, em condições normais, após um ano de tratamento, mais da metade dos hipertensos já abandonou o uso de medicação para controlar a pressão arterial elevada.

No caso do colesterol alto (dislipidemia), há situações, e não são infrequentes, em que o paciente acredita que, por já estar com o LDL (o mau colesterol) adequado, não precisa mais continuar a tomar o medicamento. Por outro lado, há pessoas que não se adaptam à medicação e apresentam intolerância às estatinas (principal classe de medicamentos indicados para tratar a dislipidemia), que se manifesta como dor ou sensação de fraqueza muscular, e aí interrompem o tratamento por conta própria, sem procurar orientação médica para dar continuidade aos cuidados com o colesterol.

Como vivemos uma pandemia sem prazo certo para acabar, tais atitudes só agravam a situação. Não raramente, pessoas em isolamento social tendem a descuidar da saúde e a adiar a consulta ao médico por dificuldade de acesso ao serviço de saúde.

Qualquer que seja o motivo que prejudique a adesão e a persistência no tratamento, é preciso que se saiba que as consequências podem ser sérias. O colesterol alto, assim como a hipertensão, é uma doença muitas vezes silenciosa – são necessários exames para avaliar o risco que alguém pode estar correndo, sob pena de a pessoa ser pega de surpresa por um infarto inesperado do coração ou pela morte súbita sem aviso prévio.

Mesmo que o paciente sobreviva a um infarto do coração ou a um AVC, essas complicações levam à redução da expectativa de vida, à perda potencial da independência pessoal, à limitação da capacidade física e à piora da qualidade de vida. No Brasil de hoje, a expectativa de vida é de cerca de 75 anos. No entanto, a expectativa de vida livre de doenças crônicas limitantes, como as cardiovasculares, é de dez anos a menos, ou seja, 65 anos.

Continua após a publicidade

Portanto, é de grande importância que o tratamento das doenças crônicas não transmissíveis, por meio dos modernos recursos terapêuticos de que dispomos, seja preservado e persistente ao longo do tempo. Abandonar o tratamento de condições de alto risco por desconhecimento, dúvidas ou suposições especulativas em meio à pandemia é altamente arriscado, considerando que a cardiologia conta com uma vasta gama de estudos e diretrizes que confirmam o efeito protetor do tratamento continuado como a melhor forma de garantir a vida e a saúde de cada cidadão e da população como um todo.

O médico, por sua vez, precisa estar disponível para dialogar com o paciente e esclarecer da melhor forma possível suas dúvidas e questionamentos. Distanciamento social não pode ser sinônimo de quebra da boa e profícua relação médico-paciente, que é tão valorizada pela medicina atual.

* Dr. Jairo Lins Borges é professor e pesquisador da Disciplina de Cardiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês*

ou

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja Saúde impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.