A luta pela igualdade de direitos e inclusão de pessoas transgênero na sociedade tem avançado em diversas frentes, mas ainda há um longo caminho a percorrer, especialmente quando se trata de saúde pública. A falta de acolhimento e acessibilidade a cuidados médicos adequados para essa população é um problema urgente que precisa ser enfrentado.
Segundo o Instituto de Pesquisa e Estatística do DF (IPE/DF), entre as pessoas trans que moram no Distrito Federal, pelo menos 73% já usaram hormônios como parte do processo de readequação corporal. No entanto, desse total, 22% recorreram ao método por conta própria, sem acompanhamento médico.
Essa realidade é preocupante, pois o uso inadequado de hormônios pode acarretar sérios riscos à saúde.
Além disso, a falta de acesso a exames preventivos e tratamentos específicos para pessoas transgênero é uma barreira significativa para a detecção precoce de doenças e o cuidado com a saúde. Homens trans, por exemplo, precisam de cuidados ginecológicos, como o rastreamento do câncer de colo do útero. Exames para infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) também são importantes para quem tem uma vagina, independentemente da identidade de gênero.
A questão da saúde transgênero não se limita aos cuidados ginecológicos. Mulheres trans e homens trans que passaram por mastectomia, por exemplo, precisam de exames regulares para a detecção precoce de câncer de mama. Da mesma forma, mulheres trans podem necessitar de exames de próstata.
No entanto, a falta de profissionais de saúde capacitados e sensíveis às necessidades de pessoas transgênero muitas vezes resulta em constrangimento e negligência.
É fundamental que o sistema de saúde pública reconheça e atenda as necessidades de saúde de todas as pessoas, independentemente de sua identidade de gênero. Isso inclui, por exemplo, a disponibilização de serviços de teleatendimento médico, que ajudam a reduzir as barreiras de acesso para pessoas trans que enfrentam discriminação ou desconforto em ambientes de saúde física.
Além disso, é necessário que haja médicos especializados em saúde transgênero disponíveis em todas as redes de saúde, inclusive na pública, para garantir um atendimento livre de preconceitos.
A tecnologia pode desempenhar um papel crucial na promoção da acessibilidade à saúde para pessoas transgênero, especialmente considerando os desafios únicos que essa comunidade enfrenta.
Um dos avanços mais significativos é a possibilidade de realizar exames em casa, uma opção valiosa para aqueles que enfrentam barreiras no acesso à saúde. Alternativas como o rastreamento do câncer de colo do útero através do autoexame de DNA-HPV, substituindo o Papanicolau é exemplo do uso de inovação a favor da inclusão.
A falta de acesso a cuidados médicos adequados para pessoas transgênero é uma violação dos direitos humanos e uma forma de discriminação. É essencial que os governos, os profissionais de saúde e a sociedade como um todo se unam para garantir que todas as pessoas tenham acesso a serviços de saúde de qualidade, respeitando seu gênero e suas necessidades específicas.
Somente assim poderemos construir uma sociedade verdadeiramente inclusiva e justa.
*Stephani Caser é ginecologista e CEO da See Me