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A falta de acesso a medicamentos para o diabetes

Eis um problema que não se restringe ao Brasil, como mostra a jornalista e militante que representou o país na sede da OMS

Por Vanessa Pirolo*
Atualizado em 13 jun 2017, 18h40 - Publicado em 13 jun 2017, 15h06
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  • A convite da Federação Internacional de Diabetes, fiz duas palestras durante a 70ª Assembleia da Organização Mundial da Saúde (OMS), que aconteceu em Genebra, no fim do mês passado.

    O painel principal foi focado no acesso a cuidados de saúde em populações vulneráveis no Brasil, na África do Sul e na Sérvia. O acesso aos cuidados em diabetes permanece inadequado nos três países, tornando-se a principal preocupação das pessoas que vivem com a condição.

    Meu discurso no evento fez referência ao meu trabalho como coordenadora do Programa Nacional de Jovens e Adultos com Diabetes, projeto que reúne 30 representantes de associações brasileiras desse segmento. Nossa missão é melhorar o tratamento do cidadão com diabetes no país.

    Pude expor o cenário e os desafios do Brasil nesse sentido. Estima-se que haja cerca de 16 milhões de pessoas com diabetes por aqui — somos a quarta nação em número de casos em todo o mundo. Cerca de 8 milhões de indivíduos, por sua vez, não sabem que têm a condição.

    Ativista em discurso na OMS
    A ativista Vanessa Pirolo discursa na sede da OMS (Divulgação/SAÚDE é Vital)
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    Também lembrei em minha apresentação que o acesso aos medicamentos é um dever do Estado brasileiro, que incorporou, entre seus princípios e diretrizes constitucionais, a garantia de cuidados terapêuticos abrangentes, incluindo serviços farmacêuticos no Sistema Único de Saúde (SUS). Para isso, o Brasil tem a RENAME, Lista de Medicamentos Essenciais, que o governo deve fornecer à população sem custos. Os brasileiros deveriam ter acesso gratuitamente aos medicamentos e suprimentos para o controle glicêmico mensalmente.

    Mas a crise econômica perturbou totalmente esse sistema. As pessoas começaram a enviar mensagens via Facebook pedindo ajuda. Incentivamos, então, as associações para que pudessem falar com os secretários de saúde e conversar com a mídia local para pressionar os mesmos a resolver a falta de medicamentos e suprimentos.

    Tivemos muitas conquistas. Ainda hoje, porém, há carência de produtos. Ressaltei, na sede da OMS, a importância de que as associações continuem a desempenhar esse papel de controle social.

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    Deixei claro que, se os fornecedores dos medicamentos e de insumos das secretarias não disponibilizarem esses produtos, a população terá mais complicações do diabetes e necessitará se hospitalizar, o que demandará mais investimento do governo. Alertei a OMS para que a entidade possa nos ajudar com a sensibilização do governo.

    Esta é uma das políticas públicas que escolhemos trabalhar em conjunto às associações brasileiras. Também batalhamos mais três políticas públicas, entre elas: a defesa da incorporação de insulinas análogas de ação rápida para todas as pessoas com diabetes tipo 1 na lista RENAME (o governo deve incluir em setembro, após muita pressão); a conversa com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre a proibição da venda de medidores de glicose que não são adequados ao ISO 15197; e a criação de um programa de treinamento para profissionais de saúde.

    Estive também no painel “Conduzindo o Progresso das Metas de Desenvolvimento Sustentável na Saúde: Ciclos de Aprendizagem para Cuidados com as Doenças Não Comunicáveis para Todos”. Esta iniciativa foi realizada com a união do Ministério da Saúde do Quênia, a Missão Permanente da Dinamarca junto às Nações Unidas em Genebra, a Fundação Novartis, a NCD Alliance, a PATH, a UCL e os laboratórios Novo Nordisk e AstraZeneca. O evento explorou como as parcerias público-privadas podem ajudar a superar barreiras no acesso aos cuidados necessários para prevenir e tratar as doenças não transmissíveis — entre elas, diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares.

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    Como resultado desta reunião, embora as Metas de Desenvolvimento Sustentável tenham mais visibilidade na agenda global de saúde, notamos que existem lacunas nos cuidados com doenças não comunicáveis. Para contrapor isso, precisam ser criadas políticas públicas que possam melhorar o acesso ao tratamento para tais doenças. O evento mostrou que vários esforços louváveis estão aprimorando a vida desse público e que as parcerias entre setores são uma forma eficiente de resolver a questão.

    No Brasil, com a iniciativa do Programa Nacional de Jovens e Adultos com Diabetes e a união de líderes de associações no país, o diabetes ganhou maior visibilidade no panorama nacional e as boas práticas começaram a ser implementadas para melhorar a universalidade, a equidade e a integralidade do tratamento.

    Aprendi muitas coisas com o trabalho executado junto às 30 Associações Brasileiras de Diabetes e gostaria de compartilhar com vocês: as iniciativas integradas na rede têm trazido melhores resultados no controle da condição.

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    Faça o que você ama pelo bem da humanidade — isso gera uma felicidade imensurável. Faça aos outros o que gostaria que fizessem por você.

    * Vanessa Pirolo é jornalista, conselheira da ADJ Diabetes Brasil, membro do Blue Circle Voices, da Federação Internacional de Diabetes, e militante da causa do diabetes

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