O Brasil é o vice-campeão mundial de cesarianas, com 55% dos partos realizados dessa forma. Fica atrás apenas da República Dominicana, com 58%. É um percentual bem maior que os 10% a 15% preconizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Em seus consultórios, ginecologistas e obstetras estão acostumados com a frase taxativa de algumas gestantes: “Eu quero cesárea”. E a explicação mais frequente para essa opção é o medo da dor do parto. No estudo “Nascer no Brasil”, feito pela Fiocruz em 2015, mais de 80% das mulheres apontaram essa razão para preferir a cesariana.
Além disso, há uma parcela de gestantes que acredita que o parto vaginal traz maior risco de sequelas para o bebê. Esses são alguns importantes fatores que aquecem o caldeirão cultural pró-cesariana com temores sem sentido e fake news.
Não se trata de desconsiderar a cesariana, um procedimento necessário quando há risco para a mãe ou para o bebê. Mas é só. Nos demais casos, que são a imensa maioria, o indicado é o parto vaginal mesmo.
É justamente esse o conceito do Parto Adequado, um programa liderado pelo Einstein em parceria com o Institute for Healthcare Improvement (IHI) e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) que tem ajudado a diminuir o número de cesarianas desnecessárias nos hospitais participantes. Como o nome diz, trata-se de fazer o parto mais adequado para cada gestante.
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Um dos problemas da cesariana eletiva é que o bebê pode não ter alcançado a maturidade pulmonar, com maior risco de desconforto respiratório ao nascer e até necessidade de cuidados em UTI neonatal.
A cesariana também aumenta em três vezes o risco de morte materna. Afinal, trata-se de uma cirurgia abdominal aberta, com mais chances de infecção, sangramento e tromboembolia. Mais: cesáreas vão deixando cicatrizes no útero que podem comprometer gestações futuras.
Um estudo realizado pelo Einstein abrangendo todos os partos realizados na nossa maternidade entre 2016 e 2019 mostrou que, em 6,7% das cesáreas, os bebês precisaram de internação na UTI Neonatal (contra 4,5% nos partos vaginais) e 0,8% das mães necessitaram cuidados intensivos em UTI (ante 0,3% nos partos vaginais).
Além disso, o índice de amamentação na primeira hora foi de 93% nos partos vaginais e de 88% nas cesarianas.
Pois bem, se o parto vaginal apresenta tantas vantagens, quer dizer que a mãe deve suportar a dor em nome de sua segurança e de seu bebê? A resposta é não. Existem vários recursos para controlar a dor.
Quando não é intensa, banho de chuveiro ou piscina morna, exercícios de movimentação do períneo, exercícios com bola ou agachamento com apoio de uma barra são alguns “truques” que funcionam.
Se o incômodo é maior, pode ser usado o óxido nitroso, um gás inócuo para mãe e bebê que alivia a dor e cuja inalação a própria mulher controla.
Por fim, se a dor é muito intensa, pode-se recorrer à anestesia peridural, que bloqueia as fibras nervosas, mas permite que a mãe sinta as contrações e mantenha a força dos movimentos.
Lógico que tudo isso depende de a maternidade ter estrutura adequada para atender o parto vaginal, com todos os recursos necessários e um modelo de assistência com enfermagem especializada e anestesista 24 horas.
A grávida tem o direito de escolher a modalidade de parto que prefere. Mas certamente fará uma melhor escolha se desfizer mitos e descartar informações falsas e infundadas.
A não ser em gestações de risco, o parto vaginal é o mais seguro e, como vimos, não faltam opções para espantar o temido fantasma da dor.