Carrapatos: além da febre maculosa, que doenças eles transmitem?
Esses parasitas podem disseminar outras enfermidades para os humanos
A febre maculosa ganhou destaque no noticiário recente, com 53 casos e 8 mortes de janeiro até a metade de junho, segundo dados do Ministério da Saúde. Em julho, uma nova morte foi confirmada no município de Mogi Mirim (SP).
Essas fatalidades chamam a atenção para o risco dessa doença, que é causada por uma bactéria que tem como principal hospedeiro os carrapatos.
Só que, além dela, existem outras enfermidades que esses parasitas, quando infectados por bactérias ou vírus, podem transmitir para os seres humanos.
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São doenças bem pouco comuns, mas que, quando ocorrem, podem evoluir para quadros graves.
De acordo com Paula Tuma, infectologista do Hospital Israelita Albert Einstein, com quem conversei sobre o assunto, as principais doenças transmitidas por carrapato são:
Febre maculosa
É a mais incidente no Brasil, transmitida pelo carrapato-estrela infectado por bactéria da família Rickettsia. É conhecida nos Estados Unidos como Febre das Montanhas Rochosas.
Por aqui, o carrapato hospedeiro da bactéria está presente em animais silvestres como a capivara, mas também pode estar em cavalos e animais domésticos que circulem em áreas com esses parasitas.
Os principais sintomas da febre maculosa brasileira são febre alta, dor de cabeça intensa, dores musculares, mal-estar geral e erupção cutânea maculopapular (manchas avermelhadas na pele).
Se não for tratada precocemente com antibióticos, pode levar a complicações graves, como insuficiência renal, insuficiência respiratória e até mesmo óbito.
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Doença de Lyme
Ocorre principalmente na América do Norte, especialmente nos Estados Unidos. É transmitida pelo carrapato Ixodes, um tipo comum do parasita, infectado com a bactéria Borrelia burgdorferi.
Nos quadros mais graves, a doença provoca fortes dores nas articulações, problemas neurológicos (como meningite e paralisia temporária de um lado do rosto), fadiga extrema e fraqueza nos membros, entre outros sintomas.
No Brasil, não há registros da doença.
Erliquiose e anaplasmose
Essas duas doenças são transmitidas por carrapatos infectados por bactérias da família Anaplasmatacea: a Erlichia, no caso da erliquiose, e a Anaplasma phagocytophilum, no da anaplasmose.
Os sintomas iniciais são semelhantes, incluindo dor de cabeça, náusea e fraqueza muscular.
As duas enfermidades podem evoluir para falência respiratória e sangramento. A erliquiose também pode afetar o sistema nervoso.
No Brasil há pouquíssimos casos registrados dessas doenças.
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Babebiose
É uma infecção dos glóbulos vermelhos do sangue provocada por protozoários do gênero Babesia, transmitido por carrapatos Ixodes.
Na grande maioria dos casos, é uma doença assintomática ou com sintomas leves (febre, cansaço, dor no corpo, dor de cabeça, calafrios).
No entanto, pode gerar quadros mais graves em idosos e pessoas com o sistema imunológico comprometido. Raramente se diagnosticam casos de babebiose no Brasil.
Sintomas em comum
Os sintomas iniciais da maioria das doenças transmitidas por carrapatos são semelhantes: manchas vermelhas na pele, febre, calafrios, dor de cabeça e dor muscular.
Assim, na presença de qualquer desses sinais, principalmente se você fez caminhadas na mata ou esteve em locais com possível presença de carrapatos, é importante procurar logo um serviço médico.
A maioria dessas doenças é tratada com antibióticos específicos e, no caso da babebiose, combinados com um medicamento usado na malária.
Prevenindo doenças transmitidas por carrapatos
Ao visitar lugares em que possa haver presença de carrapatos, utilize roupas claras para facilitar a identificação, opte por blusa/camisa de manga longa, calças e calçados fechados e aplique repelentes contra carrapatos na pele e sobre a roupa.
No retorno, lave as peças com água quente.
Outra recomendação para quem andou por esses ambientes é fazer uma busca ativa para verificar a presença desses parasitas no corpo, visto que sua picada não dói e pode passar imperceptível.
Se encontrar um carrapato…
Caso encontre carrapatos, deve-se retirá-los com uma pinça, sempre protegendo as mãos, e tentando removê-lo por inteiro.
É importante evitar estressar o parasita utilizando outros métodos de retirada, como aquecimento, pois a inoculação da bactéria pode ser maior.
No geral, para inocular efetivamente e transmitir a doença, o carrapato precisa ficar grudado no corpo de 4 a 6 horas, sendo que o período de incubação da doença gira em torno de 2 a 14 dias após o contato.
Não é indicada a profilaxia com medicamentos após o contato com carrapato, e sim tratamento imediato ao surgirem sintomas.
Embora as doenças transmitidas pelos carrapatos possam evoluir de forma grave, esse risco diminui quando elas são tratadas precocemente com antibioticoterapia. Com o manejo adequado, a evolução tende a ocorrer de forma benigna e com resolução total do quadro.
Mesmo considerando que as doenças transmitidas por carrapato são pouco comuns no Brasil, é importante lembrar que podem ser enfermidades muito graves.
Portanto, também para elas deve-se aplicar doses generosas de autocuidado com a saúde e, claro, se esteve em locais que possam ser de risco, comunique o seu médico.