Devido à urgência em controlar a pandemia de coronavírus e, principalmente, aos avanços da ciência, as vacinas contra a Covid-19 foram desenvolvidas em tempo recorde. No entanto, como se trata de uma doença nova, ainda não há certeza se as doses aplicadas agora serão suficientes para prevenir a enfermidade pelo resto da vida – e tudo indica que o coronavírus veio para ficar.
De olho nisso, um leitor enviou um e-mail à Veja SAÚDE perguntando se ele deveria tomar uma terceira picada. Vale pontuar que essa dúvida não intriga apenas a população geral. A ciência também já está de olho na questão.
Por que provavelmente precisaremos de uma dose extra?
De acordo com o microbiologista Luiz Gustavo de Almeida, do Instituto Questão de Ciência (IQC), o principal motivo tem a ver com as mutações do coronavírus, que não param de aparecer – até porque ele segue em intensa circulação. E os imunizantes disponíveis têm apresentado menores taxas de eficácia em lugares onde há muitas pessoas infectadas com as variantes.
“Portanto, especula-se que o reforço auxiliaria ainda mais nosso sistema imune a reconhecer as variantes e combater o vírus “, relata Almeida.
Não é a primeira vez que se fala na necessidade de novas picadas diante de mutações de um agente infeccioso. A vacina contra o vírus influenza, que causa a gripe, é aplicada anualmente, por exemplo. E sua composição muda de um ano para o outro justamente para proteger as pessoas das variantes em circulação em determinado período.
No caso da Covid-19, Almeida observa que países que já vacinaram boa parte da população estão encarando um novo aumento de casos. “Ainda não sabemos se as mutações acabam possibilitando que o vírus despiste nosso sistema imunológico”, informa o microbiologista.
Essa terceira aplicação não será tão já
Independentemente do cenário em cada lugar do mundo, só será possível ter clareza sobre a real necessidade de uma terceira injeção e de quanto em quanto tempo a vacina deverá ser reaplicada após a realização de novas pesquisas. No Brasil, o início do ensaio clínico com o imunizante da Pfizer já foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“Existe a possibilidade inclusive de uma terceira dose não aumentar a capacidade do nosso sistema imunológico em combater o vírus. É isso que o estudo pretende responder”, explica o especialista do IQC.
Enquanto a resposta não chega, ninguém deve tentar burlar o esquema atual em busca de uma terceira picada. Sobretudo em um cenário como o nosso, em que muita gente não recebeu nem a primeira injeção.
E a boa notícia é que, na grande maioria das vezes, pessoas que tomam as duas doses não estão desenvolvendo quadros graves após eventualmente se infectarem – é sempre válido lembrar que nenhuma vacina é 100% eficaz em barrar a contaminação.
“É exatamente o que as vacinas prometeram nos ensaios clínicos: diminuir mortes e casos graves de Covid-19”, finaliza o expert.