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O retorno da médica-detetive que inspirou a série House

Nova produção da Netflix, apresentada por médica colunista do The New York Times, acompanha de perto a investigação e o diagnóstico de doenças misteriosas

Por André Bernardo
30 set 2019, 14h27

No ensino médio, a americana Angel Parker praticava vôlei, basquete e softball. Ainda sobravam tempo e disposição para fazer academia, cinco vezes por semana. Mas, quando completou 14 anos, tudo mudou. Começou a sentir “dores excruciantes” todos os dias. Nem uma simples caminhada pelos arredores de Las Vegas, no estado de Nevada, onde mora, consegue fazer mais. “Há dias que não consigo sair da cama. Minha saúde está se deteriorando”, desabafa Angel, hoje com 23 anos, no primeiro dos sete episódios da série Diagnóstico, da Netflix.

A série é inspirada na coluna mensal que, desde 2002, a clínica geral Lisa Sanders escreve para a revista do jornal The New York Times. Nos artigos, a professora da Universidade Yale se propõe a solucionar casos médicos aparentemente insolúveis. Mas ela não faz isso sozinha. Na internet, dá mais detalhes sobre a história de pessoas com doenças ainda não diagnosticadas e, em uma espécie de “crowdsourcing clínico”, estimula os leitores a mandarem vídeos com suas opiniões. Só no episódio de estreia, recebeu mais de mil! Depois de alguns dias, compartilha as ideias mais promissoras com o paciente e outros médicos.

O caso de Angel, a recepcionista que sonha fazer enfermagem, é apenas um deles. Ao longo de nove anos, foi atendida por médicos das mais diferentes especialidades. Alguns deles arriscaram palpites: artrite reumatoide, lúpus, esclerose múltipla. Outros, porém, preferiram ser francos: “Sinto muito, mas não sei o que você tem”.

“Eu consigo lidar com a dor, mas não saber o que tenho é o que me paralisa”, desabafa a jovem. (Fique tranquilo ou agoniado: não vamos dar spoiler!) “Diagnóstico é a resposta que o médico dá à pergunta: ‘Doutor, o que eu tenho?’. Diagnosticar corretamente é o melhor que o médico pode fazer por seu paciente. Não vamos acertar o tratamento se não tivermos o diagnóstico correto”, explica Lisa.

O primeiro episódio da série se chama Trabalho de Detetive e não é à toa. Lisa costuma comparar seu ofício, sempre às voltas com os sintomas de um paciente, com o de Sherlock Holmes, o mais famoso detetive da literatura universal. Curiosamente, o criador de Sherlock, Arthur Conan Doyle, era oftalmologista e, ainda estudante de medicina na Universidade de Edimburgo, na Escócia, se inspirou em um de seus professores, Joseph Bell, para criar o maior detetive de todos os tempos. “Muitos veem, mas poucos observam”, costumava repetir o docente de raciocínio veloz e de olhar astuto aos seus alunos.

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A partir das pistas relatadas pelo paciente e das provas fornecidas por exames, o médico-detetive tem um enigma a decifrar. E – por que não dizer? – uma vida a salvar. “Quando eu era adolescente, achava que a medicina era como a matemática. Ou seja, quatro vezes seis é sempre 24”, afirma a doutora. “Mas não há uma única resposta. Existem várias. Mais do que uma fórmula de matemática, é um trabalho de detetive”.

O primeiro passo rumo à detecção da doença é fazer uma lista dos possíveis diagnósticos. Nela devem constar desde as causas mais comuns e prováveis até as mais incomuns e improváveis. “As doenças mais difíceis de serem diagnosticadas não são necessariamente as raras. Podem ser apenas doenças pouco comuns”, explica Lisa.

Para chegar ao veredicto, a médica diz que ainda não inventaram técnica melhor e mais eficaz do que uma boa conversa – a famosa “anamnese”. Derivada do grego, ‘anamnese’ significa “trazer à memória” ou “fazer recordar”. “A maioria das doenças não se parece com um tiro no braço. São invisíveis do lado de fora. Se você não conversar com o paciente e ouvir o que ele tem a dizer, nunca vai saber”, sublinha.

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O patologista clínico Wilson Shcolnik, da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), acrescenta que o arsenal de que o médico dispõe para fazer diagnóstico inclui, ainda, exames de imagem e de laboratório. “É importante que o exame correto seja solicitado e que o resultado seja corretamente interpretado. Caso contrário, corre-se o risco de pegar um caminho errado e atrasar a identificação da doença”, reflete.

Autora de Todo Paciente Tem Uma História para Contar – Mistérios Médicos e a Arte do Diagnóstico (clique aqui para comprar), Lisa Sanders trabalhava como produtora do canal de TV CBS News quando teve o insight que mudaria sua vida: estudar medicina. Ela participava da gravação de um programa sobre rafting quando, a certa altura, o correspondente Bob Arnot correu para salvar uma idosa que sofria uma parada cardíaca. Ali mesmo, na frente das câmaras, Arnot, que também é médico, começou a fazer a manobra conhecida como reanimação cardiopulmonar. Foi o suficiente para Lisa cursar medicina na mesma universidade onde hoje dá aulas.

Em 2002, Diagnóstico, sua recém-lançada coluna, chamou a atenção de David Shore, um produtor de TV que resolveu convidá-la para ajudar na criação de um seriado médico. Além de fonte de inspiração, Lisa trabalhou como consultora técnica de House (2004-2012), protagonizado pelo genioso e genial infectologista Gregory House (vivido por Hugh Laurie).

Era Lisa quem sugeria os casos médicos – em oito temporadas, foram mais de 500! – e, de quebra, supervisionava a equipe de roteiristas. “Sinto saudades da série. Os produtores e roteiristas eram inteligentes e os bastidores, muito divertidos. Hoje em dia, quase não vejo TV”, confessa essa autêntica médica-detetive.

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