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Você está comendo veneno

Os agrotóxicos estão nos vegetais, na água e até nos alimentos industrializados. Só que tamanha oferta pode destrambelhar o organismo. Como se defender?

Por Thaís Manarini
Atualizado em 3 set 2018, 10h57 - Publicado em 2 fev 2016, 09h53
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À primeira vista, o título desta reportagem soa um tanto quanto alarmista. Mas se estima que, em média, cada brasileiro ingere 5,2 litros de pesticidas por ano. Em algumas cidades dominadas pelo agronegócio, como Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso, um habitante chega a botar pra dentro do organismo incríveis 120 litros de agrotóxicos. É bem preocupante. Ainda mais se levarmos em conta que, nos últimos anos, uma série de problemas de saúde é atribuída à exposição a esses produtos.

Para citar um exemplo, recentemente a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o composto glifosato como “provavelmente cancerígeno”. “Ele faz parte da composição de 40% dos agrotóxicos usados no Brasil”, conta o médico Wanderlei Pignati, pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso. De olho em alertas como esse, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) divulgou um documento em que sugere a redução do uso desses produtos químicos com o objetivo de reduzir a incidência e a mortalidade por câncer no Brasil.

O assunto, como dá para imaginar, rende pano para manga. É que muitos estudos, por mais corretos que sejam, são feitos em culturas de células ou em animais. E, para ter 100% de certeza de que os pesticidas causam câncer, seria preciso recrutar um montão de gente, analisar os níveis de agrotóxicos ingeridos e, aí, acompanhar a saúde de todo mundo por vários anos. “Esse tipo de pesquisa é difícil e cara”, pondera a bióloga Gláucia Hajj, do Laboratório de Biologia Celular e Molecular do Centro Internacional de Pesquisa do A.C.Camargo Cancer Center, na capital paulista. “Mas existem indícios que nos levam a suspeitar da influência de alguns desses compostos no surgimento do câncer”, afirma.

Não é difícil entender por que é tão arriscado ter agrotóxicos dentro do corpo. “Esses produtos têm o objetivo de matar seres que ameaçam a plantação, como fungos e insetos. Ou seja, são criados para destruir elementos vivos”, argumenta o cirurgião oncológico Samuel Aguiar Júnior, diretor do Departamento de Tumores Colorretais do A.C.Camargo. Depois de engolidos, cada um age de um jeito. Mas, em geral, as substâncias associadas a um maior risco de câncer causam danos à estrutura do nosso DNA. Esse é o primeiro passo para as células se multiplicarem de forma desordenada, propiciando a formação de um tumor.

Ainda que não seja possível cravar uma relação direta entre agrotóxicos e câncer, há motivo suficiente para ficar com a pulga atrás da orelha. Na região agrícola de Limoeiro do Norte, no Ceará, pesquisadores identificaram que a taxa de mortalidade por câncer é 38% maior do que nos municípios em que não há abuso nos agrotóxicos. Não é só: o índice de internações por aborto também se mostrou 40% mais elevado em Limoeiro e adjacências.

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Hoje, temos registrados mais de 400 ingredientes ativos de agrotóxicos. Acontece que só pouco mais da metade é avaliada no Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa. O famoso glifosato, pasme, não passa por esse pente-fino. Mesmo assim, esses estudos mostram uma ampla contaminação da comida. “E olha que nem todos os alimentos são apurados”, observa o engenheiro agrônomo Altino Bomfim, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Adianta lavar? 
Lamentamos informar: infelizmente, não há provas de que deixar o alimento de molho e lavar bem em seguida acabe com os agrotóxicos. “Veneno não se tira dentro de casa, embaixo da pia”, afirma a nutricionista Elaine de Azevedo. É que os pesticidas são manipulados desde a fase em que a planta é uma semente. Ou seja, eles não impregnam apenas na casca: concentram-se também na polpa. Portanto, nem adianta dar um superbanho ou descascá-los sempre — até porque essa parte do alimento concentra fibras, vitaminas e minerais. Mas cabe um aviso: consumir os vegetais convencionais ainda é melhor do que riscá-los da dieta. “A recomendação ainda é aumentar o consumo de frutas e verduras”, frisa o cirurgião oncológico Samuel Aguiar Júnior. Se der para aumentar a proporção de orgânicos na cozinha, melhor! Só não se esqueça de que eles precisam passar por higienização. “A terra é rica em micro-organismos que não devem ir para o prato”, avisa Elaine.

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