Qual foi a última vez que você prestou atenção pra valer na sua voz? Se a resposta for “não me lembro” ou “nunca”, fique sabendo que os sons que soltamos pela boca revelam muito sobre o estado do organismo. A começar pela condição das próprias cordas (ou pregas) vocais. Em uma investigação recente da Universidade de Queensland, na Austrália, especialistas avaliaram o interior da garganta de 38 instrutores de academias — profissionais que, não raro, são obrigados a falar alto em seu ambiente de trabalho. Todos apresentavam alterações na voz. Foi um verdadeiro desastre!
Entre as complicações mais recorrentes encontradas nos voluntários estavam nódulos, cistos, hemorragias e laringite. “Gritar com frequência pode fazer com que essas lesões apareçam”, informa a fonoaudióloga Ana Elisa Ferreira, da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. “Assim como outros músculos, as pregas vocais precisam de condicionamento, em especial quando seu uso é intenso. Caso contrário, o risco de lesão é grande”, arremata.
E atenção: embora professores, cantores e radialistas estejam mais predispostos a esses males, pesquisas apontam que a probabilidade de qualquer pessoa desafinar feio ao longo da vida é de 30%. “Se a voz ficar aguda, engrossar ou houver dificuldade para conversar, deve-se buscar ajuda”, orienta Mara Behlau, fonoaudióloga e diretora do Centro de Estudos da Voz, na capital paulista. Além de consultar um expert, é fundamental manter os chamados hábitos de higiene vocal, que incluem beber muita água, não pigarrear, dialogar em um volume adequado, fugir do tabagismo e do consumo excessivo de álcool…
No entanto, apesar de mudanças no jeito de falar geralmente estarem ligadas a encrencas menos graves, há casos em que doenças sérias dão pistas de sua progressão por meio da voz. Uma delas é o Parkinson, caracterizado por, entre outros sintomas, tremores involuntários. Aliás, a dificuldade para se comunicar costuma ser um dos primeiros sinais desse mal neurodegenerativo. “O transtorno enrijece os músculos, inclusive os da laringe. Daí a voz fica baixa, fraca e pouco melódica”, explica Mara.
A rouquidão é outro fator que não pode passar em branco — ainda mais se dá as caras sem um motivo aparente. Afinal, é por meio dela que o câncer de laringe tende a se manifestar. “A alteração preocupa principalmente se permanecer por mais do que duas semanas”, alerta o otorrinolaringologista Alexandre Enoki, do Hospital Paulista, em São Paulo. Cuide de suas cordas vocais e, acima disso, escute o que elas têm a dizer. Seus conselhos podem livrá-lo de uma porção de problemas.
Vai falar em público?
Então é bom seguir as estratégias abaixo
Postura: seja em pé, seja sentado, mantenha a coluna ereta e o tronco voltado para as pessoas com as quais você está interagindo. Isso ajuda na respiração e na projeção do som.
Comida: evite alimentos pesados e gordurosos. A maçã seria uma boa pedida, já que é rica em pectina, uma enzima de função adstringente, capaz de amplificar a ressonância do som na boca.
Bebidas: café e álcool ressecam a mucosa que recobre as cordas vocais, dificultando a fala. Já o leite aumenta demais a quantidade de muco na região. Para se hidratar durante um discurso, prefira sucos, chás ou água mesmo.
Sono: as pregas vocais, como outros músculos, necessitam de uma boa noite de descanso. Pode apostar: sua voz vai denunciar se você dormiu bem ou não.
Estresse: dentro do possível, tente relaxar. É que a tensão trava a musculatura da laringe. E, enrijecida, ela não se movimenta direito, emitindo aquele tom típico de nervosismo em apresentações ou reuniões.
Fonte: Leny Kyrillos, fonoaudióloga e professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo