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O lanche dos brasileirinhos

Estudo apresentado no Fórum SAÚDE aponta os erros e os acertos quando o assunto é a alimentação que intercala as refeições principais

Por Débora Fiorini (colaboradora)
Atualizado em 1 jul 2019, 09h58 - Publicado em 2 mar 2016, 13h39
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  • Se você cuida das crianças, é provável que também prepare um lanchinho para elas. Mas já parou pra refletir sobre o que coloca na lancheira? Ou sobre o que serve aos pequenos quando a fome bate no período da tarde? Não pense que essas são questões menos importantes. Ou que esses momentos devem ser encarados como uma sessão de petiscos. Os lanches intermediários, que preenchem o intervalo entre as grandes refeições, podem fazer a diferença em uma alimentação equilibrada. E foi de olho no que a molecada anda comendo nessas horas que os pediatras Mauro Fisberg, da Universidade Federal de São Paulo, e Carlos Alberto Nogueira de Almeida, da Associação Brasileira de Nutrologia, lideraram uma das primeiras pesquisas nacionais a respeito.

    A amostra contou com a participação de 1 391 meninos e meninas de 4 a 6 anos das cinco regiões do país. A maioria (48%) pertencia à classe C. A coleta de informações sobre os lanches da manhã e da tarde foi realizada com a ajuda dos pais e cuidadores, que receberam questionários. Durante três dias, eles registraram dados sobre a ingestão de certos alimentos pela criançada. No final, os profissionais analisaram as respostas e encontraram números um tanto preocupantes.

    Leia mais: 10 mitos e verdades sobre alimentação das crianças

    Os resultados da pesquisa foram apresentados em primeira mão no Fórum SAÚDE, realizado no final do ano passado. Na ocasião, os autores debateram os principais achados na presença de outros convidados da área. Para Fisberg, o alto consumo de açúcar foi um dos pontos mais críticos acusados pela investigação. Para ter ideia, a Organização Mundial da Saúde estipula que apenas 5% das calorias totais venham do açúcar de adição, ou seja, aquele que colocamos no suco ou no café e que também está presente em produtos industrializados. Se considerarmos uma dieta de 1 800 calorias, isso dá 22,5 gramas por dia. O problema é que os lanches dos brasileirinhos estão contribuindo para que esse limite seja facilmente ultrapassado. No Centro-Oeste, apenas no período da tarde, o consumo médio foi de 21,4 gramas.

    A enxurrada de açúcar nos lanches vem principalmente dos biscoitos doces recheados, refrigerantes e sucos industrializados. Na verdade, o problema não é tanto o produto em si, mas, sim, quanto dele está sendo consumido. “Não queremos fazer terrorismo alimentar. Porém, é preciso ter cautela com a qualidade e a quantidade de comida”, diz a nutricionista Ana Paula Wolf Tasca Del’Arco, que também assina o estudo. Nesse sentido, a participação dos cuidadores é crucial. “Os pais são os responsáveis pela alimentação das crianças. Mesmo que os pequenos peçam uma coisa ou outra, são eles que irão negociar ou decidir o que vai para a lancheira”, ressalta Ana Paula.

    Outros números inquietantes apontados pela pesquisa são aqueles relacionados ao consumo de sódio e de cálcio. Enquanto o primeiro é alto até demais, o outro está abaixo do esperado. No Brasil inteiro, somando os lanches da manhã e da tarde, a ingestão de sódio foi de 457 miligramas – quase 40% do limite diário indicado. O problema é que, se considerarmos todas as refeições do dia, e a maioria costuma ser salgada, o valor total diário provavelmente irá extrapolar o ideal para essa faixa etária, que é de 1 200 miligramas. Aí complica… Quando se abusa do ingrediente, o corpo retém líquido e o volume de sangue aumenta, o que promove um aperto nas artérias. Pressão alta costuma ser problema de gente grande, mas isso não quer dizer que a garotada está livre dela.

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    O cálcio, por sua vez, ficou aquém do desejado. A recomendação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, é de 600 miligramas por dia. Essa porção é importante para dar manutenção ao esqueleto e evitar, lá na frente, encrencas como a osteoporose. Os lanches intermediários combinam perfeitamente com as principais fontes de cálcio, como iogurte, leite fermentado, queijo e petit suisse. De acordo com o trabalho, os pré-escolares ingerem, em média, 120 miligramas de cálcio no lanche da manhã e 125 no da tarde. Ou seja, para atingir a cota diária recomendada, ainda falta um bocado – o que pede um ponto de alerta, já que os redutos de cálcio dificilmente aparecem no almoço ou no jantar.

    O Centro-Oeste, novamente, foi surpreendido com números gritantes. No período matutino, a criançada ingeriu, em média, apenas 16 miligramas do mineral. “Os lácteos não são tão frequentes nos lanches dessa região, o que explica um declínio na ingestão de proteínas e cálcio. Parece que os produtos são substituídos por bebidas açucaradas”, elucida Ana Paula. É aí que as peças do quebra-cabeça se encaixam. Como você viu, o Centro-Oeste detém o maior consumo de açúcar, especialmente no lanche da tarde.

    Consertar esses desequilíbrios nutricionais é fundamental para combater doenças que estão se alastrando na infância, com destaque para a obesidade. A nutricionista Mariana Del Bosco, da capital paulista, comenta: “O excesso de peso não tem uma única causa. Sabemos, porém, que está ligado principalmente à inadequação alimentar e à falta de atividade física”. E a gordura de sobra não vem sozinha. Antecipa problemões como diabete tipo 2, colesterol alto, hipertensão…

    Ainda bem que esse cenário pode ser evitado ou revertido desde cedo, se as refeições, incluindo o que vai para a lancheira, forem planejadas e balanceadas. Aliás, o raio X do lanche dos brasileirinhos mostra que nem tudo está perdido. Algumas coisas já estão no caminho certo. “O que mais me chamou a atenção foi o consumo de frutas em todas as regiões do país”, destaca Mariana. Os lanches supriram cerca de 20% do valor ideal de ingestão diária de fibras, que fica entre 9 e 11 gramas para crianças de 4 a 6 anos.

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    De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, a molecada deve consumir de cinco a seis refeições diárias. E os lanches são boas oportunidades para atender à demanda de nutrientes. “Com eles, os pequenos não ficam muito tempo em jejum e ainda aprendem a controlar a saciedade”, reforça Mariana. É ou não é pra dar mais valor?

    Não se esqueça da refrigeração

    Para a comida não estragar na hora de a criança ir à escola, é importante conservá-la adequadamente. Isso vale sobretudo para os lácteos, que são sensíveis a altas temperaturas. Se deteriorados, eles podem causar até intoxicação. “Uma lancheira térmica é a melhor forma de acondicionar os alimentos”, orienta Ana Paola Monegaglia Vidigal, nutricionista da Papa Gourmet, em São Paulo.

    O lanche ideal

    Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a lancheira precisa conter esses itens para compor uma refeição equilibrada

    Carboidrato

    É essencial para fornecer energia. Inclua pão, bolo caseiro e biscoito salgado ou doce sem recheio. Mas dê preferência às versões integrais. E fique atento à porção, já que o excesso fica acumulado no corpo como gordura.

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    Proteína

    As melhores fontes do nutriente são bebidas lácteas, queijos, iogurte… Aproveite para unir o útil ao agradável: que tal um lanche de pão integral com uma fatia de queijo branco?

    Fruta

    Ela abastece a refeição com fibras, vitaminas e minerais. As mais práticas são aquelas que podem ser consumidas com casca ou que, pelo menos, sejam fáceis de descascar, como banana, uva, maçã, pera e mexerica.

    Bebida

    Ela ajuda a repor a perda de líquidos decorrente das atividades diárias. Invista em água, sucos naturais, chás e água de coco. Dê prioridade às versões sem açúcar, claro.

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