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Depressão é um dos maiores vilões da saúde do coração

Um levantamento mostra que as brasileiras ainda desconhecem o elo entre depressão e doenças cardiovasculares, como infarto e derrame.

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 4 dez 2018, 10h13 - Publicado em 27 jan 2014, 22h00

Embora a depressão seja um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares, só 4% das mulheres conhecem essa relação entre os males, de acordo com a pesquisa Sinta Seu Coração, realizada pelas revistas SAÚDE e CLAUDIA em parceira com a Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo. Estudos mostram que o quadro de depressão pode levar à inflamação dos vasos, à formação de placas nas artérias, à pressão alta e à formação de coágulos. Todos esses fatores contribuem para a ocorrência de infartos e derrames.


Os aspectos bioquímicos, contudo, correspondem a apenas 30% das explicações para a conexão entre depressão e doenças cardiovasculares. Os outros 70% recaem sobre o estilo de vida de quem está deprimido, já que essas pessoas não tem disposição para praticar exercícios físicos, não cuidam da alimentação e têm mais dificuldade para abandonar vícios, como o álcool e o cigarro.

Leia a íntegra da reportagem abaixo.

No ranking dos principais fatores de risco para males cardiovasculares, a depressão está no topo, ao lado de hipertensão, tabagismo, diabete e colesterol alto. Já na pesquisa Sinta Seu Coração, coordenada pelas revistas SAÚDE e CLAUDIA, da Editora Abril, em parceria com a Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp) e o apoio da Nestlé, a tristeza sem fim aparece lá embaixo, entre os últimos lugares de uma lista montada para apontar as condições por trás de infartos. Em um universo de 5 318 mulheres participantes, apenas 4% associaram quadros depressivos a piripaques cardíacos.

O Sinta Seu Coração reúne informações coletadas pela área de Pesquisa e Inteligência da editora, por meio de um questionário online com mais de 70 perguntas, nos meses de junho e julho de 2013. Entre os assuntos tratados, há desde hábitos alimentares até o nível de conhecimento no que diz respeito a exames e outros cuidados com o peito. As emoções não ficaram de fora. E, nesse quesito, os resultados foram bem desanimadores.

Melancolia

Os dados dão pistas de que a maior parte da ala feminina anda insatisfeita com a vida amorosa, social e sexual. “Esse retrato denuncia um desgaste vindo da tripla jornada, que engloba trabalho, filhos e casamento”, comenta o cardiologista Otavio Gebara, do Hospital Santa Paula, na capital paulista. Espremida numa rotina extenuante, ela deixa de ter tempo para si mesma e fica propensa à melancolia. “As mulheres ainda não perceberam a importância de zelar por suas emoções pensando na saúde cardiovascular”, diz o cardiologista Alvaro Avezum, do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, em São Paulo. E olha o perigo: a depressão favorece inflamações e outros danos capazes de impor muito sofrimento aos vasos.

Um estudo brasileiro, apresentado em novembro passado no congresso da Associação Americana do Coração, não deixa dúvidas sobre o potencial inflamatório do estado depressivo. “Avaliamos um grupo de 4 222 pessoas por dois anos e observamos o aumento das taxas de proteína C-reativa nos indivíduos deprimidos”, conta o cardiologista Antonio Laurinavicius, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. A substância, bastante conhecida no meio médico, é um marcador de inflamação e tem forte vínculo com a aterosclerose, a formação de placas nas artérias.

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Mas o martírio dos vasos não se restringe a essa molécula. “Trabalhos apontam uma disfunção no sistema responsável pelo relaxamento e contração dos vasos entre os deprimidos”, relata o cardiologista Marcus Bolivar Malaquias, da Sociedade Brasileira de Cardiologia. E quando esse mecanismo vai mal é a pressão alta que pode dar as caras.

Pensa que acabou o suplício? Ainda não. Existem evidências de que a angústia persistente também interfira na agregação das plaquetas, estimulando o surgimento de coágulos. Isso se dá por causa de uma pequena falha lá no cérebro: a desregulação de um neurotransmissor chamado serotonina, o mesmo associado ao bem-estar. “Tal desequilíbrio ajuda a explicar também a predisposição para o acidente vascular cerebral nesses pacientes”, diz o psiquiatra Renério Fráguas, da Universidade de São Paulo.

Estilo de vida

Pois é, sobram motivos bioquímicos para justificar por que a depressão figura entre os principais fatores de risco cardiovascular. O mais espantoso, porém, é que isso corresponde somente a 30% das explicações para a conexão entre o distúrbio e infartos, derrames e afins. Os outros 70% recaem sobre o estilo de vida de quem vive pra baixo. “A maioria das mulheres que sofre com depressão não tem disposição para fazer exercícios”, exemplifica o cardiologista Maurício Wajngarten, da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, e um dos autores do trabalho divulgado lá fora.

O desânimo que teima em acompanhar as deprimidas contribui para que muitas nem sequer botem os pés fora de casa e deixem de praticar uma simples caminhada. Pior: elas não cuidam direito do próprio cardápio, o que é um prato cheio para desencadear problemas cardiovasculares. “Há propensão à compulsão alimentar, um dos gatilhos para a obesidade”, observa Gebara.

Outra marca da doença é a dificuldade em se livrar de vícios como o tabagismo e o alcoolismo. E, agravando a situação de vez, um dos comportamentos mais comuns é abandonar tratamentos. “Hipertensas e diabéticas desistem de tomar a medicação quando estão em depressão”, dispara Malaquias, que também é professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. Dá para imaginar o final da história…

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Diretrizes médicas

Diante de um quadro assustador como esse, as sociedades médicas começaram a incluir em suas diretrizes propostas para rastrear a depressão nos consultórios, independentemente da especialidade. “Queixas como cansaço extremo, tristeza e insônia já servem de alerta”, enumera Avezum. Segundo o psiquiatra Renério Fráguas, há diferentes tipos de transtornos depressivos, o que complica o diagnóstico. “Mas, em essência, todos são marcados pela diminuição do interesse e do prazer pela vida”, explica.

O distúrbio possui um forte componente genético, só que existem alguns estopins capazes de facilitar seu aparecimento, caso do luto, da ruína financeira ou da separação conjugal. Os hormônios também têm sua parcela de culpa. Grandes oscilações dessas substâncias interferem no sistema que regula as emoções. Por isso a mulher em idade fértil é sempre uma séria candidata a se angustiar pra valer. “Elas têm o dobro do risco se comparadas aos homens”, diz Malaquias.

Uma das maneiras de manter o mal a léguas de distância é procurar gerenciar o estresse e compartilhar as dificuldades do dia a dia. Sim, a turma do sexo feminino precisa aprender isso urgentemente. A pesquisa Sinta Seu Coração mostra que 18% raramente dividem seus problemas com outras pessoas. “O levantamento também revela que as mais jovens costumam dedicar o tempo livre às redes sociais e, assim, passam horas e horas entregues ao sedentarismo”, destaca Gebara. Estimular a prática de atividade física é mais uma estratégia na prevenção e no controle da depressão. “Os exercícios interferem nos núcleos cerebrais que modulam os sentimentos”, ensina Fráguas. É melhor correr da tristeza… O coração agradece em dobro.

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