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Câncer de mama: a defesa está em suas mãos

A herança genética não é o que mais importa para determinar o risco de ter câncer de mama. Os maus hábitos - esses, sim - são os grandes responsáveis pela maioria dos tumores mamários

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 27 out 2016, 20h17 - Publicado em 16 set 2013, 22h00
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Foto: Getty Images

Quando o câncer é recorrente na família, está mais do que justificada a angústia de rastreá-lo com rigor e frequência, a fim de se resguardar de um perigo iminente. “Mutações em genes supressores de tumor, como o BRCA1 e o BRCA2, elevam em até 60% o risco de desenvolver o problema no decorrer da vida”, alerta o ginecologista Afonso Nazário, da Universidade Federal de São Paulo. Mas paira a dúvida: entre as mulheres que nunca conviveram com o tumor em casa, quantas se dedicam com afinco a proteger suas mamas? Nosso recado de prevenção é especialmente dedicado a esse nicho feminino, que muitas vezes nem se dá conta da ameaça. “Em oito de cada dez casos – ou seja, a maioria absoluta -, o tumor é o que chamamos de esporádico, ou seja, não tem relação alguma com antecedentes familiares”, alerta o oncologista Ronaldo Corrêa, do Instituto Nacional de Câncer, no Rio de Janeiro. 
 
Já que o destino das glândulas depende, principalmente, dos hábitos de todo dia, cientistas mundo afora se esforçam para desvendar quais deles induzem e quais dificultam a eclosão da enfermidade. Começam a surgir revelações surpreendentes: a vitamina D, das castanhas e dos peixes, produzida pra valer quando tomamos sol, teria efeito protetor contra o câncer mamário. A descoberta é do epidemiologista francês Pierre Engel, do Instituto Gustave Roussy, que, durante uma década, analisou dados referentes a mais de 67 mil mulheres. “A forma ativa da vitamina, o calcitriol, regula o ciclo das células da mama, inibindo sua proliferação desordenada”, explica Engel. 
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Não à toa, a probabilidade de manifestar o nódulo maligno foi 32% menor em quem aliava o consumo do nutriente a banhos de sol regulares. Fica a dica: sair ao ar livre com braços e pernas descobertos por 15 minutos diariamente. Mas essa é apenas uma sugestão de uma lista de atitudes preventivas. O combate à barriga volumosa merece destaque, por seu potencial de destrambelhar as glândulas mamárias. “A adesão ao pacote de exercícios, alimentação balanceada e controle de peso já reduz em 28% o risco de câncer de mama”, garante Corrêa.
 
Se fosse necessário apontar um culpado pelos tumores de mama, certamente a dupla de hormônios femininos estrogênio e progesterona estaria no banco dos réus. “Essas substâncias agem nos receptores das células mamárias, induzindo sua proliferação”, explica Nazário. Obviamente, quanto maior o estímulo, maior a oportunidade para que essas unidades comecem a se multiplicar indiscriminadamente. Esse raciocínio explica por que as mudanças no planejamento familiar ao longo dos anos colaboraram com o aumento paulatino na incidência do tumor. “Devido à conquista do mercado de trabalho, a mulher de hoje decidiu diminuir a prole e deixou para engravidar em idade mais avançada”, reflete Nazário. Isso faz com que ela tenha mais ciclos menstruais durante a vida, ampliando a exposição hormonal. Pelo mesmo motivo, a menarca precoce e a menopausa tardia, após os 50 anos, entram no rol dos fatores de risco. 
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Mas, se é inviável controlar esses aspectos socioculturais e biológicos, o jeito é incentivar a reversão de costumes negativos e o investimento nos positivos. A intenção segue a mesma: reduzir o aporte de hormônios nas glândulas e manter o funcionamento dos genes em equilíbrio, garantindo que as células se repliquem em harmonia.
 

Tratamentos hormonais 

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A pílula anticoncepcional não é motivo de preocupação, já que as formulações atuais são de baixa dosagem e seguras. “Mas, embora em quantidades ínfimas, o hormônio sintético é 200 vezes mais potente que o natural”, ressalva Nazário. Mesmo assim, a restrição de uso só se aplica a mulheres com forte histórico familiar de câncer de mama ou com mutações de BRCA1 e 2 diagnosticadas. Discuta com seu ginecologista. Com a terapia de reposição hormonal – prescrita para atenuar sintomas da menopausa -, a situação muda de figura. “Existem evidências de que, após cinco anos de uso, os riscos de desenvolver o tumor de mama aumentam significativamente”, alerta a mastologista Maria do Socorro Maciel, do Hospital A.C. Camargo, em São Paulo. “Por isso, o medicamento só é indicado para alívio de sintomas e com rigoroso acompanhamento médico”, completa. 
 

Obesidade 

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Eis uma inimiga em potencial, sobretudo após a menopausa. Quando a mulher deixa de menstruar e, portanto, encerra a fabricação de estrogênio, ele para de atuar de forma nociva nas mamas. É aí que a gordura periférica das obesas entra em cena para bagunçar o organismo. “Nessa fase, uma enzima da glândula suprarrenal, a aromatase, inicia sua atuação, convertendo a gordura em hormônio, que passa a ter atividade estrogênica no tecido mamário”, esclarece a mastologista Maira Caleffi, do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Em outras palavras, o inconveniente ganha prorrogação por tempo indefinido, até que a iniciativa de enxugar a silhueta ganhe contornos reais.
 

Sedentarismo 

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Para início de conversa, ficar parado dá uma força ao acúmulo de quilos extras. Esse, por si só, é um bom argumento para mexer o corpo. Sem falar nos benefícios indiretos do exercício. “A atividade física diminui o colesterol, matériaprima para a produção de estrogênio”, afirma o bioquímico Roberto Burini, do Centro de Metabolismo em Exercício e Nutrição da Universidade Estadual Paulista, em Botucatu, interior de São Paulo. “A ginástica também fortalece soldados do sistema de defesa chamados natural killers, uma proteção natural contra células defeituosas”, acrescenta Maira. Vale a recomendação de sempre: 30 minutos de exercícios aeróbicos moderados, de três a cinco vezes por semana. 
 

Abrir mão de amamentar 

Outro equívoco de quem prioriza a saúde. Além de proporcionar um bem danado ao recém-nascido, “o aleitamento durante seis meses promove uma esfoliação interna das células da mama, renovação que favorece a eliminação de eventuais unidades precursoras de tumor”, justifica o nutricionista Fabio Gomes, do Instituto Nacional de Câncer. 
 

Consumo de álcool 

“Existem inúmeros estudos que correlacionam a ingestão de bebidas alcoólicas à doença”, diz Maira. “Ultrapassar três drinques semanais já é considerado arriscado, segundo as evidências”, avisa. Nem é preciso falar que a situação só piora com o aumento dos goles.
 

Alimentação 

Ainda não existe consenso em relação a alimentos que exerçam influência direta na prevenção ou na ocorrência do câncer de mama. “Mas, em geral, frutas, legumes e verduras contêm substâncias antioxidantes, que ajudam a combater os radicais livres”, lembra Fabio Gomes. Ele se refere a moléculas que se formam naturalmente no organismo e que dão um empurrãozinho para o aparecimento de tumores. Além disso, o nutricionista ressalta que itens muito calóricos, como os cheios de açúcar e gordura, estão por trás da temida obesidade. “Uma alimentação inadequada também instiga a resistência à insulina, condição que estaria associada ao câncer, embora não saibamos ainda o mecanismo que explique essa relação”, conclui Maria do Socorro. Por isso, a tão preconizada alimentação balanceada é mais uma vez bem-vinda. 
 

Estresse, depressão e ansiedade 

Além de contribuir com uma alimentação desregrada e diminuir o pique para a atividade física, os especialistas já sabem que o abalo emocional é capaz de detonar o sistema imunológico. “Daí que as unidades de defesa perdem sua habilidade de reparar células que sofreram mutação, abrindo a guarda para sua multiplicação anormal e o nascimento de um tumor”, explica Nazário. 
 

Dna em pane. O que fazer? 

E quanto àquele grupo que herda as mutações genéticas, será que há luz no fi m do túnel para essa gente também? A resposta é sim. “Mulheres que apresentam casos múltiplos de câncer de ovário ou de mama entre familiares tendem a apresentar mutações de BRCA1 e 2”, diz Nazário. Nessa situação, é prudente recorrer a um aconselhamento genético. Trata-se de um exame capaz de apontar esses defeitos, que significam uma grande propensão de manifestar o nódulo. Depois de conversar com a paciente sobre suas intenções de engravidar, o médico costuma oferecer três alternativas. “A retirada dos ovários promove uma redução de 50% no risco de apresentar o tumor de mama. Já a remoção preventiva das glândulas mamárias aumenta essa proteção para 90%”, afirma o ginecologista. Existe, ainda, a opção de preservar os ovários e as mamas, contanto que a mulher se submeta a um acompanhamento semestral criterioso (confira as orientações na tabela à esquerda). 
 

Detecção precoce 

Não importa se você integra a ala feminina majoritária, que só precisa andar na linha para escapar do problema, ou se carrega no DNA uma vulnerabilidade que exige mais cautela. A orientação para todas as mulheres é a mesma, e se resume a duas palavras: prevenção e atenção. Assim, mesmo se todo o seu esforço em viver de maneira saudável falhar, o diagnóstico prematuro do câncer garantirá um tratamento sem grandes traumas e consequências. Em nome da qualidade de vida e da autoestima, essa é uma precaução que não pode faltar.
 

Um tumor em ascensão 

Mudanças no comportamento reprodutivo e nos hábitos femininos coincidiram com o aumento da prevalência do câncer de mama no Brasil nas últimas décadas. “Dados de Goiânia, em Goiás, que foram coletados entre 1980 e 2010 e são considerados referência no país, revelam um crescimento de 200 a 300% na incidência da doença nesse período”, divulga Afonso Nazário. Embora seja difícil apontar com precisão os responsáveis pelo crescimento espantoso da doença, é indiscutível que, ao longo dos anos, as mulheres passaram a ter menos filhos e a engravidar mais tardiamente, o que favorece o mal (veja a explicação na página seguinte). “O estresse, a depressão e a obesidade também estão entre os percalços do cotidiano moderno associados ao descompasso celular”, ressalta Nazário.
 

Análise de risco 

O rastreamento do tumor de mama deve se intensificar de acordo com a probabilidade de ele dar as caras 
 
Sem histórico na família: a mulher deve se submeter a uma mamografia por ano a partir dos 40, já que 97% dos casos nesse grupo surgem após essa idade. 
 
Com um episódio familiar: quem tem uma tia diagnosticada com um câncer de mama, por exemplo, não necessariamente vive na iminência de herdar alterações genéticas. Mas, pelo sim, pelo não, é indispensável antecipar a primeira mamografia para os 35 anos e seguir com o acompanhamento anual. 
 
Com mutação nos genes BRCA1 e 2 diagnosticada: essas pessoas requerem vigilância reforçada. A palpação no consultório deve ser realizada com um intervalo menor, a cada seis meses. Já o rastreamento anual é feito por meio de ressonância magnética, que, extremamente sensível, é capaz de detectar modificações mínimas, imperceptíveis em outros aparelhos.
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