Desde que aprendeu a dominar o fogo e a notar que ele deixava grãos e carnes com textura mais macia, a humanidade descobriu a comida processada. Ao perceber que salgado ou mantido em temperaturas mais frias o peixe demorava a estragar, nossos ancestrais deram os primeiros passos no desenvolvimento de métodos de conservação. Tirar a casca, picar, cozinhar, fermentar, congelar… Praticamente tudo que comemos sofre alguma forma de processamento. Hoje, a indústria lança mão da tecnologia para replicar em larga escala receitas caseiras – e nos entregá-las prontas para ir à mesa. “O segredo está em equilibrar itens frescos e processados, sem prejuízo nutricional”, diz a nutricionista Elizabeth Vargas, de São Paulo. Ou seja, na cozinha contemporânea há espaço e bons motivos para incorporar produtos industrializados no dia a dia.
Acessibilidade
Independentemente da sazonalidade, a indústria nos permite desfrutar de alimentos entregues em todo lugar, 365 dias por ano, seja inverno ou verão. As polpas de frutas congeladas estão aí para que não faltem sucos e sorvetes de diferentes sabores, em qualquer época.
Conveniência
Não é todo dia que sobra tempo para picar tomate, cebola e outros temperos para levar ao fogo e fazer aquele molho encorpado para complementar uma deliciosa massa caseira – sem falar que nem todo mundo tem essa habilidade na cozinha. Direto das gôndolas do supermercado para a despensa e a geladeira, ter tudo à mão facilita a vida e garante um macarrão suculento no almoço, mesmo nos momentos mais corridos.
Segurança
O processamento elimina bactérias que podem prejudicar a saúde. Maionese caseira, por exemplo, feita com ovos crus, aumenta o risco de contaminação por bactérias como a salmonela. Na versão industrializada, o ovo é pasteurizado, afastando o perigo de infecção alimentar.
Menos desperdício
De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), um terço da produção se perde antes do consumo. Você, com certeza, já abriu a geladeira e teve o dissabor de dar de cara com vegetais murchos ou estragados. Na fábrica, os processos de conservação aumentam a vida útil do alimento, permitindo seu estoque e consumo a longo prazo – minimizando, assim, o desperdício. É o caso dos vegetais congelados e do leite pasteurizado.
Fortalecimento
Na indústria, é possível balancear as perdas de nutrientes causadas ao longo do processamento com a adição de minerais e vitaminas. A margarina, por exemplo, ganha vitaminas A e D. Já o Amido de Milho usado no mingau pode ser enriquecido de ferro, vitamina A, vitamina C, vitaminas do complexo B, cálcio e zinco. “Na fase em que a criança reluta em aceitar frutas e legumes, produtos assim funcionam como ótimo complemento, atendendo a necessidades específicas da idade”, pondera Elizabeth.
Dose certa
Há tempos as empresas de alimentos vêm trabalhando para reduzir sódio, açúcar e gordura saturada de suas marcas. É o caso do clássico,caldo em cubos que nos últimos anos diminuiu em 25% a quantidade de sódio. Vale lembrar que nem sempre a comida caseira está isenta do exagero nesses ingredientes. A estimativa é que, no Brasil, o consumo diário de sal seja o dobro dos 5 gramas recomendados pela Organização Mundial da Saúde – e boa parte vem direto do saleiro para o prato. Se seguidas as instruções do rótulo, o cubo de caldo para temperar pode até adicionar menos sódio do que as pitadas que colocamos a olho nos preparos.
Comida certificada
De acordo com As Boas Práticas de Fabricação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a indústria precisa atender a uma série de normas e regras que assegurem a qualidade dos produtos, da procedência da matéria-prima ao alimento processado entregue ao consumidor. O Ministério da Agricultura faz a fiscalização dos vegetais in natura e de itens de origem animal, como carne, ovos, leite e seus derivados, que precisam do selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF) para circular no país.
“Comer é uma experiência sensorial completa. Gosto, textura, cheiro… Tanto é assim que, em casa, usamos colorau para acertar o tom das receitas e deixá-las mais apetitosas”, exemplifica Elizabeth Vargas. Na indústria, os aditivos só entram na composição dos alimentos para atender a uma necessidade específica. Alguns impedem a proliferação de micro-organismos e a oxidação, garantindo a qualidade do produto até o final de sua vida útil. Outros contribuem com a cor, oferecendo uma experiência sensorial prazerosa. Há ainda os estabilizantes, usados para manter a mistura homogênea dos ingredientes. Tudo devidamente quantificado e dentro de valores seguros. Tem até uma sigla específica para isso: IDA, ou ingestão diária aceitável, baseada em evidências científicas do que pode ser consumido ao longo da vida sem risco para a saúde.