O que explica tantos jovens com colesterol alto no Brasil?
Aproveite o Dia Mundial do Colesterol para entender essa tendência, que está fortemente associada a fatores comportamentais e ambientais

O colesterol alto é um dos fatores de risco mais relevantes para o surgimento de doenças do coração. O problema, que afeta cerca de 4 entre 20 adultos no Brasil, tem alcançado cada vez mais jovens.
É o que apontam evidências científicas, incluindo um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que revelou que mais de um quarto das crianças e adolescentes brasileiros (27,4%) apresentam índices elevados de colesterol, enquanto 1 em cada 5 têm alguma alteração no LDL, conhecido popularmente como “colesterol ruim”.
Para incentivar a conscientização sobre riscos e cuidados, o Dia Mundial de Combate ao Colesterol é celebrado todos os anos em 8 de agosto.
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Causas do aumento em jovens
O aumento do colesterol entre jovens está fortemente associado a fatores comportamentais e ambientais, como explica a médica Fabiana Rached, especialista da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
“Dietas ricas em gorduras saturadas, alimentos ultraprocessados, açúcares e refrigerantes, além de uma redução significativa na prática de atividades físicas, são os principais determinantes”, resume.
A obesidade infantil — que também vem crescendo — é um importante fator de risco.
“O uso excessivo de telas e a redução do tempo de sono também têm impacto indireto sobre o metabolismo lipídico. Em alguns casos, fatores genéticos, como a hipercolesterolemia familiar, também contribuem”, acrescenta Rached.
A especialista da SBC pontua que o aumento dos níveis de colesterol entre crianças e adolescentes nas últimas décadas tem sido observado por diversos estudos e dados epidemiológicos.
“Isso ocorre, em grande parte, devido às mudanças nos hábitos alimentares e ao sedentarismo crescente. Por isso, recomendamos a coleta de exames entre os 9 e 11 anos”, afirma.
O uso indiscriminado de anabolizantes também altera o colesterol e aumenta o risco de infarto, especialmente entre jovens. O alerta é da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), que escolheu o tema como destaque da campanha do Dia Mundial de Combate ao Colesterol.
Os anabolizantes são substâncias cuja estrutura básica se assemelha ao hormônio sexual masculino – a testosterona – e geralmente utilizadas para promover hipertrofia muscular com finalidade de melhora do desempenho esportivo ou por questões estéticas.
Mas, em contrapartida, reduzem significativamente o HDL, conhecido como colesterol bom, e aumentam o LDL, o colesterol ruim. Além disso, promovem resistência à insulina, acúmulo de gordura visceral e outros fatores associados à chamada síndrome metabólica, condição clínica que aumenta o risco cardiovascular de maneira marcante.
Recentemente, um estudo publicado na revista Sports Medicine Open avaliou os efeitos metabólicos do uso de esteroides anabolizantes, insulina e hormônio do crescimento entre fisiculturistas amadores. A pesquisa analisou 92 praticantes de musculação e revelou uma alta prevalência de uso combinado das substâncias, muitas vezes sem qualquer supervisão médica.
Entre os usuários, foram observadas alterações significativas no perfil lipídico e hepático, como queda expressiva no colesterol HDL, aumento nas enzimas hepáticas ALT e AST e alterações em enzimas ligadas ao metabolismo de ácidos graxos.
“Esses achados sugerem impactos relevantes na saúde metabólica, com elevação do risco cardiovascular mesmo em indivíduos jovens e aparentemente saudáveis”, explica o endocrinologista Márcio Weissheimer Lauria, coordenador do Departamento de Dislipidemia e Aterosclerose da SBEM.
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Riscos do colesterol alto
A elevação do colesterol é uma ameaça silenciosa que pode afetar indivíduos de diversas idades e estruturas corporais. Por isso, os cuidados com a saúde cardíaca devem começar cedo na vida.
O desequilíbrio nos níveis da molécula é um dos principais responsáveis por infartos e acidentes vasculares cerebrais (AVCs), o popular derrame.
Como reduzir os riscos
A prevenção deve começar na infância, com a promoção de hábitos saudáveis, de acordo com a especialista da SBC.
“É preciso adotar uma alimentação balanceada, rica em frutas, vegetais, fibras, grãos integrais, e com baixo consumo de alimentos ultraprocessados e gorduras saturadas. Deve-se evitar o sedentarismo e tempo excessivo de tela, e praticar atividade física regular, de pelo menos 60 minutos pro dia para crianças e adolescentes”, frisa Rached.
A cardiologista recomenda, ainda, a avaliação médica periódica, especialmente de crianças com histórico familiar de colesterol alto ou doenças cardiovasculares precoces.
“Educação em saúde, com o envolvimento da família e da escola, é essencial para promover escolhas conscientes desde cedo”, destaca a médica.