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Os perigos de cortar o comprimido ao meio sem indicação correta

A divisão dos medicamentos não garante uma proporção igual do princípio ativo nas duas partes e pode prejudicar o tratamento

Por Alexandre Raith, da Agência Einstein*
7 fev 2022, 15h17
cortar remédio
Cortar remédios é uma estratégia que deve ser usada em casos específicos, e com orientação. (Foto: Towfiqu barbhuiya/Unsplash/Divulgação)
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Seja pela indisponibilidade da dose certa na farmácia ou uma tentativa de fazer o medicamento render mais, cortar os comprimidos na metade pode gerar riscos à saúde.

Além de não garantir uma proporção igual do princípio ativo do remédio nas duas partes, a prática pode interferir no tratamento do paciente.

“O medicamento é uma mistura do princípio ativo [substância responsável pelo efeito do remédio] com outros excipientes [ingredientes] farmacêuticos. Isso tudo é misturado e prensado. Por isso, não é possível garantir que a metade direita e a metade esquerda tenham a mesma quantidade”, explica Leonardo Pereira, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.

Pesquisadores da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) chegaram a mesma conclusão ao testar o medicamento hidroclorotiazida – diurético indicado para o tratamento da hipertensão – e analisar as consequências de cortar o comprimido em pedaços. Após testar cerca de 750 pílulas, os autores do estudo identificaram discrepâncias nas partes divididas.

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“A avaliação do processo de partição apresentou diferenças significativas na uniformidade de massa e de conteúdo, verificando-se que há grande variação de teor. Considerando que a hipertensão é uma doença grave e que requer esquema posológico rígido, variações na dosagem podem influenciar significativamente no tratamento do hipertenso”, destacam os pesquisadores no artigo publicado na Revista de Ciências
Farmacêuticas Básica e Aplicada.

Além disso, partir ao meio pode anular os recursos do medicamento. Pereira, que também é membro da Associação Brasileira de Ciências Farmacêuticas, lembra que certos remédios são revestidos por uma fina película protetora que evita que o comprimido sofra ação no estômago antes de ser absorvido no duodeno, a primeira parte do intestino, ou que possuam um mecanismo de liberação mais lenta no sangue. “Se cortar, estraga a tecnologia”, explica ele.

+ Leia também: Prednisona: o que é, para que serve e como funciona esse corticoide

Quando é indicado cortar?

Apesar da contraindicação no geral, a divisão do comprimido pode ser sugerida em dois casos:

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• Quando a orientação dos especialistas é que o paciente aumente a dose de um remédio aos poucos;
• Quando o paciente deve parar de tomar a medicação, mas gradualmente, em um processo chamado de “desmame”. Neste caso, o tratamento não pode ser interrompido de forma abrupta e, por isso, a quantidade de miligramas é reduzida lentamente.

Armazenamento em risco

A forma como as pessoas vão guardar a metade do remédio não ingerido também gera preocupação, pois a embalagem é pensada especificamente para cada tipo de medicamento.

“Alguns comprimidos, por exemplo, não têm resistência à luz, por isso vêm em um blister completamente fechado. Há também o risco de contaminação na hora do corte”, alerta o professor da FCFRP-USP. Caso seja necessário o corte, guardar a metade restante na cartela rompida, dentro da embalagem original, interfere pouco na ação do medicamento.

*Esse texto foi originalmente publicado pela Agência Einstein.

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