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Ou criamos uma cultura de integridade, ou seremos tragados pela burocracia

Economista defende que, no lugar de níveis e mais níveis de processos administrativos, deveríamos criar um Brasil mais confiável para melhorar nossa saúde

Por Eduardo Winston Silva, economista*
8 out 2020, 19h28
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  • Consideremos a existência hipotética de dois países: Brasil A e Brasil B. Ambos têm a mesma população, o mesmo PIB, as mesmas capacidades. A diferença é que o Brasil A tem uma cultura de integridade e, com isso, as pessoas têm um alto grau de confiança umas nas outras. Já no Brasil B isso não acontece.

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    No Brasil A, 90% do orçamento da saúde é efetivamente destinado a pesquisa, prevenção e promoção da saúde. No Brasil B, apenas 50% dos recursos vão para essas finalidades. A outra metade é gasta em estruturas administrativas, níveis e mais níveis de supervisão, fiscalização, auditorias, controles e afins.

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    Naturalmente, o Brasil A estaria em posição de oferecer um melhor serviço à população, desenvolver tecnologias mais inovadoras e remunerar de maneira mais justa os profissionais que trabalham no ramo. Portanto, desenvolver uma cultura de integridade não é uma questão de idealismo, mas de inteligência e sobrevivência.

    A partir dessa premissa, a questão que se impõe é: estamos mais próximos de qual desses dois países? Infelizmente, os levantamentos apontam que não apenas somos o Brasil B, como nossa tendência tem sido aprofundar cada vez mais os mecanismos burocráticos. E ultrapassamos, talvez sem perceber, a fronteira da razoabilidade.

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    Um estudo recentemente divulgado da Controladoria Geral da União (CGU) aponta que, entre 2018 e 2019, o Governo Federal teria gasto 483 milhões de reais para comprar serviços e equipamentos que custaram 155 milhões de reais. Ou seja, o processo de compra superou em 183% o próprio custo dos bens e serviços adquiridos. Uma ineficiência absurda!

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    Chegou a hora de aceitarmos que estamos viciados em burocracia. Não falo somente do governo em todas suas esferas, mas de nossa sociedade. Esse vício decorre de traços de nossa cultura: esse é o ponto que precisamos atacar. É urgente desenvolvermos uma cultura de integridade. Do contrário, gastaremos cada vez mais com controles, mesmo controlando efetivamente cada vez menos o processo todo.

    O primeiro passo para isso é deixarmos de lado o fatalismo. Não podemos admitir que, com tantas pessoas capacitadas, não conseguiremos formar uma sociedade melhor. Devemos entender que há aspectos na cultura das sociedades que são dinâmicos e podem ser deliberadamente influenciados. Alguns países inclusive aplicam conceitos das ciências comportamentais nas políticas públicas. É o caso do Reino Unido, que desde 2010 tem um time de cientistas liderados pelo Prêmio Nobel de Economia, Richard Thaler.

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    Esse grupo trouxe para si um desafio histórico de reduzir a sonegação de impostos. Ao invés de focar na cobrança, ele buscou entender como poderiam influenciar a atitude de quem vinha sonegando. Solução: enviar cartas, não cobrando os impostos, mas informando que 9 entre 10 pessoas daquela região estavam em dia com as obrigações fiscais. Ao adotar tal estratégia, conseguiu provocar um sentimento de desconexão desses inadimplentes com o seu grupo social, além de promover a percepção que estariam se aproveitando da disciplina fiscal dos vizinhos. A ação promoveu um aumento de 15% na arrecadação de impostos.

    E, para aqueles que acreditam que as mudanças culturais levam séculos, basta ver a transformação promovida pelas redes sociais ou mesmo pela pandemia do coronavírus.

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    Tenho a convicção que a saúde é o local mais propício para iniciarmos essa revolução, na qual a integridade deixará de ser um atributo desejável e passará a ser parte inerente da cultura brasileira. Essa é uma causa pela qual vale a pena lutar.

    *Eduardo Winston Silva é economista e presidente do Conselho de Administração do Instituto Ética Saúde.

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