Nos últimos anos, temos acompanhado um aumento preocupante nos casos de coqueluche em todo Brasil. A doença respiratória, altamente contagiosa, é causada por uma bactéria e transmitida pelo ar, quando a pessoa saudável tem contato direto com a infectada.
Muitos pais, enganados pela ideia de que as doenças desaparecem, ou por acreditarem em inúmeras fake news, optam por não vacinar os seus filhos. Outros simplesmente não têm conhecimento sobre quais imunizantes são necessários ou têm medo de possíveis efeitos colaterais.
O exemplo da coqueluche mostra como este cenário é preocupante. Segundo o último levantamento do Ministério da Saúde, foram identificados 41 casos da doença entre janeiro a abril deste ano no país. São Paulo tem um número expressivo de contaminados: foram 25 novos casos suspeitos, 17 deles confirmados, seis descartados e dois estão sob investigação.
O número é maior do que o do ano passado inteiro. Em 2023, foram 38 casos no estado. Isso se deve principalmente a queda na cobertura da vacina tríplice bacteriana (DTP), que protege contra difteria, tétano e coqueluche.
Segundo dados do Sistema de Informática do Sistema Único de Saúde (DataSUS), em 2012, o país vacinou 93,81% do público alvo e a região Sudeste registrou a maior cobertura (95%). Já em 2022, o índice geral ficou em 77,25%.
A DTP tem alta taxa de proteção e deve ser aplicada em três doses em bebês, aos dois, quatro e seis anos, com reforço aos 15 meses e aos quatro anos.
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Sintomas da coqueluche
Os sintomas iniciais se assemelham a um resfriado simples: mal-estar geral, corrimento nasal, tosse seca e febre baixa. À medida em que progride, a tosse torna-se intensa e descontrolada, podendo levar a complicações graves, como vômitos e dificuldades respiratórias.
Embora a maioria das pessoas se recupere sem sequelas, os grupos mais vulneráveis, especialmente lactantes e menores de 6 meses, enfrentam complicações mais graves, incluindo pneumonia e até mesmo risco de morte.
Vencendo obstáculos para a vacinação
Além da questão das notícias falsas e da sensação de falsa segurança, a falta de acesso aos serviços de saúde também é um obstáculo significativo no aumento da cobertura.
Com postos de saúde operando em horários limitados e apenas em dias úteis, muitas pessoas não encontram tempo para proteger seus filhos.
Para reverter essa situação, é crucial aumentar a conscientização sobre a importância da vacinação e dissipar mitos. Campanhas de educação pública são essenciais para garantir que todos entendam os benefícios das doses não apenas para a saúde individual, mas também para a imunidade da comunidade em geral.
Tornar a imunização mais acessível, expandindo horários e dias de funcionamento também pode aumentar a aderência da população. Neste cenário, as clínicas privadas desempenham um papel importante ao oferecer vacinas adicionais para complementar o calendário nacional de vacinação.
*Fábio Argenta, é cardiologista e diretor médico da Saúde Livre Vacinas