A população de idosos, principalmente aqueles na faixa dos 75 anos de idade ou mais, foi a mais impactada pelo novo coronavírus, tanto no Brasil como lá fora. Isso se reflete não apenas nos números de casos mas também em termos de complicações pela Covid-19 e de mortalidade pela doença. De fato, pessoas mais velhas estão mais suscetíveis à síndrome respiratória aguda, situação que leva à internação em UTI.
Estima-se que, em nosso país, as pessoas acima de 60 anos representem mais de sete em cada dez mortes por Covid-19. Os estudos concordam e apontam que a gravidade da infecção pelo coronavírus aumenta com a idade. Entretanto, em meio a esse cenário preocupante, têm chamado a atenção (e para o bem) os casos de pessoas com mais de 80, 90, 100 anos que venceram a doença. Elas saíram do hospital pela porta da frente. Curadas!
Uma delas é a espanhola María Branyas. Com 113 anos, ela é considerada – até o momento – a paciente mais idosa recuperada, fato que fez com que ganhasse as manchetes do mundo inteiro, como noticiou VEJA.
Sobrevivente da Primeira e da Segunda Guerra Mundiais e da gripe espanhola, agora pode incluir em seu histórico de vida a vitória contra a Covid-19. Além da mais velha sobrevivente desta pandemia, María é a pessoa mais idosa da Espanha e, acredita-se, está entre as 30 mais velhas do planeta.
Mas quais seriam os fatores que podem explicar por que superidosos superaram o vírus Sars-CoV-2? Há algumas hipóteses para esse “fenômeno do bem”. Uma delas é a questão entre idade biológica versus cronológica. O que isso significa? Que não é só o número de anos vividos que determina quem derrota o coronavírus. O estado de saúde do idoso antes da pandemia, bem como seu estilo de vida, pode ser definitivo para sua sobrevivência.
Assim, uma pessoa de 80 anos que é saudável e não tem fragilidades pode ser mais resiliente diante da infecção do que outra de 60 com doenças crônicas. O sistema imune do indivíduo mais velho pode ser considerado “mais jovem” quando comparado a outro mais novo só que com múltiplas condições (e fatores de risco para a Covid), como diabetes, hipertensão e problemas cardiovasculares.
Quando o idoso apresenta fragilidades, o risco de morte aumenta exponencialmente. Isso explica a recomendação que temos feito incessantemente de que é preciso praticar o isolamento social, visto que não há outro meio de proteger essa população. Ao menos enquanto não houver uma vacina.
Outro aspecto que vem sendo analisado refere-se à genética desses superlongevos. Aqui no Brasil, pesquisadores do Centro de Pesquisas do Genoma Humano e Células-Tronco da Universidade de São Paulo (USP) lideram um estudo a respeito. Eles iniciaram uma investigação para avaliar essa correlação e compreender quais são os “genes de risco” e quais são aqueles que podem ser chamados de “protetores”.
Ainda não temos um indicador confiável do número de superidosos que têm sobrevivido à Covid-19, mas observamos relatos de casos em todo o mundo: China, Turquia, Índia, Coreia do Sul, Reino Unido, Itália, Espanha, Irã, Peru, Brasil…
Fato é que, quando tomamos conhecimento de que mais um idoso saiu pela porta da frente de um hospital, são e salvo, o episódio, que tantas vezes ganha as redes sociais, nos traz esperança de que tudo isso vai passar e vamos sobreviver. Precisaremos lutar e fazer nossa parte, sem dúvida. E essa batalha, que mira o futuro, começa hoje.
Eis inclusive a lição da espanhola dona María que, ao ser entrevistada por jornalistas do mundo inteiro, disse: “Bem, eu vou viver”. Em reportagem veiculada pelo jornal britânico The Guardian, sua filha contou que esse seria o segredo da longevidade da mãe: “Ela sempre nos ensinou que é preciso continuar olhando para frente. Eu acho que é por isso que ela viveu tanto tempo.”