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Por que a perda de visão é cada vez mais comum. E como evitá-la

O número de casos de cegueira e deficiência visual só vem aumentado. A boa notícia, porém, é que 80% deles podem ser prevenidos - saiba como

Por André Bernardo
Atualizado em 24 jan 2020, 10h52 - Publicado em 13 dez 2017, 06h10
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  • “Os carros parados numa esquina esperam o sinal mudar. A luz verde acende-se, mas um dos carros não se move. Em meio às buzinas enfurecidas, percebe-se o movimento da boca do motorista: Estou cego!” O trecho, extraído do romance Ensaio Sobre a Cegueira, do português José Saramago, é fictício, mas o drama de quem convive com a perda total ou parcial da visão é real.

    Nos últimos 25 anos, o número de casos de cegueira no mundo passou de 30,6 milhões em 1990 para 36 milhões em 2015. No mesmo período, o índice de portadores de algum tipo de deficiência visual, de moderada a grave, registrou um crescimento de 36%. Hoje são 217 milhões de pessoas nessa situação, a maioria delas vítima de doenças não diagnosticadas e tratadas a tempo, como catarata e glaucoma. Pior: a expectativa é que, até 2050, esse índice chegue a triplicar.

    “O número de cegos e deficientes visuais vem se elevando porque a população mundial, além de ter aumentado, também envelhece”, constata o oftalmologista britânico Rupert Bourne, autor de um minucioso estudo que analisou a saúde ocular de 188 países a partir do banco de dados Global Vision Databases.

    Embora pese bastante, o envelhecimento não é a única explicação para esse boom. A expansão de alguns problemas sistêmicos (pressão alta, diabetes…), maus hábitos (cigarro, sedentarismo…) e até o uso indiscriminado de remédios (inclusive colírios) têm lá sua parcela de culpa.

    Apesar de já estar associado à miopia, o uso regular de celulares, tablets e computadores — bem como o hábito de ler e trabalhar em locais fechados — não parece influenciar na perda da visão em si. “Na pior das hipóteses, vai causar sensação de olho seco e vista cansada”, esclarece o oftalmo Carlos Eduardo Arieta, professor da Universidade Estadual de Campinas.

    Dá, sim, para prevenir a perda de visão

    A despeito das causas desse déficit visual em massa, o fato é que o novo levantamento global soa um alerta: se medidas urgentes não forem tomadas já, o número de pessoas afetadas saltará de 115 milhões para 588 milhões em pouco mais de três décadas.

    Uma das estratégias para evitar esse cenário é conscientizar as pessoas a não esperarem o aparecimento de sinais estranhos, como vista embaçada ou manchas escuras no campo de visão, para procurar o médico. “A partir dos 40 anos, quando ocorre uma frequência maior de doenças potencialmente causadoras de cegueira, as consultas precisam ser rotineiras”, aconselha o oftalmo João Marcello Furtado, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.

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    Há quatro principais problemas que respondem por tanta gente sob risco de não enxergar mais direito: catarata, glaucoma, degeneração macular relacionada à idade e retinopatia diabética. Dessas, a única plenamente reversível é a catarata, com 550 mil novos casos por ano no Brasil. “A cirurgia para tratá-la é uma das mais realizadas no mundo. Basta remover o cristalino danificado e, em seu lugar, implantar uma lente artificial”, descreve o oftalmo Gustavo Baptista, diretor da Associação Brasileira de Catarata e Cirurgia Refrativa.

    Visão de futuro
    (Ilustração: Augusto Zambonatto/SAÚDE é Vital)

    Já o glaucoma, a degeneração macular e a retinopatia são mais difíceis no trato — até por causa do diagnóstico geralmente tardio. No glaucoma, que afeta o nervo óptico, nove em dez casos não apresentam sintomas iniciais. Daí que o indivíduo só percebe algo quando o perrengue está avançado. “O tratamento evita a progressão da doença, mas não recupera a visão perdida”, explica a oftalmo Wilma Lelis Barboza, presidente da Sociedade Brasileira de Glaucoma.

    Diagnóstico precoce também é determinante para conter as enfermidades da retina, porção no fundo do olho que converte as imagens em impulsos que podem ser lidos pelo cérebro. A degeneração macular relacionada à idade não leva à perda total da vista, mas dificulta demais a leitura, o reconhecimento dos rostos, a prática de esportes e outras atividades do dia a dia. “Os danos vão além da limitação visual. Incluem desde o maior risco de quedas até depressão”, observa a oftalmogeriatra Marcela Cypel, do Conselho Brasileiro de Oftalmologia.

    Ao contrário da córnea, porção mais externa que pode ser trocada por transplante, e do cristalino, substituído na cirurgia de catarata, ainda é impossível recuperar a retina lesada. Por isso não dá para fazer vista grossa à prevenção — sobretudo se o sujeito já tem diabetes ou hipertensão, fatores de risco para a retinopatia.

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    O êxito aqui depende de acompanhamento médico. “Se o indivíduo tem histórico de doença ocular na família, por exemplo, o retorno deve ser anual”, orienta o oftalmo Paulo Augusto de Arruda Mello, da Universidade Federal de São Paulo.

    As visitas ao consultório — onde o especialista vai inspecionar o fundo do olho, medir a pressão intraocular… — permitem flagrar e remediar desde cedo os males da vista. Até porque os tratamentos evoluíram bastante nos últimos anos. “Devemos ir ao oftalmo não apenas para fazer óculos”, ressalta Marcela. Isso é que é visão de futuro!

    As cinco condições mais comuns com a idade

    Catarata

    Glaucoma

    Degeneração macular

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    Retinopatia

    Presbiopia

    O que a ciência prepara para salvar a visão da humanidade

    Microchip intraocular

    Feito de um material biodegradável, ele libera doses exatas de um medicamento para a retina ao longo de seis meses.

    Células-tronco

    Elas são testadas, com relativo sucesso, para regenerar áreas comprometidas por doenças como a degeneração macular relacionada à idade.

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    Terapia não invasiva

    O desenvolvimento de novos colírios é uma esperança de tratamento mais prático para pessoas com retinopatia diabética, normalmente controlada com injeções ou laser.

    Colírio anticatarata

    Gotinhas capazes de reverter o turvamento do cristalino já são estudadas como futura alternativa à cirurgia convencional.

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